quarta-feira, 12 de março de 2008

ONDE É QUE PARA O ZARALHO?

(a jogatana era aqui neste largo)

A VINGANÇA DO ZARALHO
Por Manuel dos Santos Ruivo

É um excelente texto este do Manuel dos Santos Ruivo. Por isso o trago ao vosso conhecimento.. É natural que já a conheçam, porque está no livro “NAQUELE TEMPO” da AAAETC.

Aí vai.

“O comboio chegava a Faro um pouco antes das oito horas e do Sotavento trazia desde Vila Real de Santo António, além de muitos outros passageiros, os alunos do Liceu João de Deus e da Escola Tomaz Cabreira

Deixava a maior parte dos alunos ali no apeadeiro de S. Francisco, que tinha duas escadas deitadas para o largo, por onde desciam, em molho, rapazes e raparigas que se espalhavam em grupos.

Os do Liceu, dirigiam-se a uma saída, perto do quartel junto à Igreja de S Francisco, e os outros mais dispersos, como os da Escola, que faziam tempo, ou nos cafés ou passeando pelo mercado ou jogando à bola no Largo da Sé, que as aulas só começavam às nove. horas.

Lá por vezes no Largo de S. Francisco, ao descer do comboio, ajustavam-se contas de zangas atrasadas ou começadas mesmo durante aquela viagem. Mas tudo se sanava com mais ou menos gritaria e alguns socos ou pontapés. Passados um dia ou dois aquilo voltava à normal camaradagem

Muitos de Olhão iam, para ficar mais soltos e leves, guardar as pastas, livros e outras coisas, numa casota junto a um grande armazém, onde o Ti Coelhinho fazia ginástica aplicada.

Num certo dia de manhã, na espera das 9 horas para entrar nas aulas de oficina do Mestre Roque, estávamos nós numa grande jogatana no Largo da Sé e na baliza, marcada por pedras no chão, estava um moço de Tavira a quem chamávamos o ZARALHO

Por esta altura, na rua da Porta Nova, um polícia muito dissimulado, colocou a cesta do almoço ao canto da parede do Seminário com esta rua e começou a andar, ao longo da parede, em direcção à malta, porque os polícias não queriam que se jogasse à bola no Largo

Com a loucura da bola ninguém deu pelo polícia, que, apanhando o guarda redes Zaralho de costas, arreou-lhe tal estalaço que o rapaz tombou no chão. O rapaz levanta-se num ápice e foge que nem uma lebre, e os outros fizeram o mesmo e o polícia não apanhou nenhum aluno.

O polícia tinha aquela mania de deixar a cesta ao canto da rua e ir caçar a malta, que queria lá saber, continuava a jogar..

Entretanto o Zaralho continuava com a recordação da estalada do polícia no cachaço.

Não estava certo; o polícia estava a ganhar por um a zero.

O Zaralho nunca mais jogou á baliza nem em lado nenhum. Apenas estava concentrado no canto do Seminário com a rua da Porta Nova. Ó cesta, onde estais.. se te apanho...dizia ele..

E num certo dia, a cesta do polícia estava lá, porque o agente ia caçar os moços que jogavam à bola no Largo e deixava ali aquele utensílio.

Enquanto o polícia foi á caça da rapaziada, o Zaralho passou sorrateiramente encostado `a parede da venda da espanhola e, já com a cesta á vista, acelera a corrida e aplica um biqueiraço em cheio na cesta do polícia, que esta deu duas voltas no ar, despejando tudo o que tinha dentro e em rápida corrida desapareceu pela rua da Porta Nova. .

O polícia ouviu o barulho, larga a caça aos moços, corre direito à cesta e ao ver a loiça toda escramalhada pelo chão, exclamou num grito: Ah malandro que me partiste o prato que era da colecção da minha mulher.!...

Onde é que parará o ZARALHO? Queremo-lo no almoço de 8 de Junho, sem falta.

Viva o revolucionário Zaralho.

Publicação de
João brito Sousa

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