Where the boys are é o nome de um filme.
Where the costeletas are é título da minha crónica de hoje..
Where the ZACARIAS are é o que vamos saber.
O ZACARIAS, era um funcionário da tasca da esquina, ao pé da estação, onde o patrão tinha mesmo cara de mau e devia de lixá-lo ou dar-lhe cabo da cabeça...
Quando eu estava hospedado na Rua Ventura Coelho, para ir para a Escola vinha à Av. da República e passava pela tasca do Zacarias.
O Zac era um homem meigo e triste também, resignado à sua condição de fachineiro e homem das limpezas, em cuja face se via apenas o branco dos olhos no conjunto da sua fisionomia.
Tinha um ar distante nessa primeira vez que o vi. Talvez estivesse a falar com Deus e a pedir-lhe que o levasse de novo para a roça.
Encostado ao balcão e á vassoura, o preto Zac inspirava simpatia. Fiquei amigo do Zac e, sem ele saber que era seu amigo, todos os dias passava pela tasca e olhava para ele.
E parecia-me que continuava a falar com Deus
E estava eu ainda nesta de digerir a ausência do Zacarias, lá ao pé da oficina da estação, portanto, quando me cruzo com um preto (o termo não é aqui usado pejorativamente), tal e qual o Zacarias.
Fiquei feliz e disse .eih... Zac... o cavalheiro virou-se para trás e ... olhou .. nada disse e bateu a asa.
Fui andando.
Daí a pouco, estava a passar junto da antiga residência do Xico Zambujal, do Mário Zambujal, da Lurdinhas Zambujal e da Fatinha Zambujal, que foi minha colega de curso no Magistério e que casou com o bancário no BNU em Coimbra, costeleta, advogado e poeta, natural de Santa Clara de Sabóia, creio, o Dr. Manuel Inácio da Costa, que era visita da casa da Natércia quando eu estava lá hospedado.
Estava eu rememorando a imagem do Sr. Gordillo, o Pai dos Zambujal, virado para o casario, quando sinto uma palmada nas costas, virei-me.. era o Zacarias, não o preto que eu procurava, mas o do Alpino, costeleta do Sítio da Areia, do tempo do Januário da Conceição de Faro, do Vinebaldo Charneca de Pechão, do Víctor Venâncio, do Zé Emiliano e do Alberto Rocha, do Bernardo Estanco, do Zé Elias do Chelote, do Leonel de Boliqueime, do Víctor Carromba, do Bartolomeu Caetano e de tantos outros.
Disse-lhe o que estava a fazer ali.
E ele, logo: - Olha lá, tu conheces aquela redacção que o Mário Zambujal fez, a «MANHÃ de AULAS»? ...
Não, disse eu
Então, toma lá e publica.
Agradeci..
E por achar o texto muito giro... aí vai.
“Oito horas! Estremunhado, amaldiçoei ”in mente” o renegado que inventou os relógios monologando um raivoso colérico –“Bandido!”.
Esfreguei os olhos com força e comecei a cantar esganiçadamente as primeiras notas de uma canção em voga, para fazer fugir o sono.
Deitei um olhar ao relógio ! Malvado! Lá estava ele naquele eterno tic-tac, monótono e irritante, que me estragava os nervos e me estragava as manhãs! Malvado!
.- Atchim! Olá, decididamente estava a constipar-me! Brr... que frio! Maldito tempo!
Vagarosamente enfiei uma meia; tornei a descalçá-la com um berro de desespero. Estava do avesso. Com uma paciência evangélica calcei-me e vesti-me. Atchim! Lindo tempo não havia dúvida...
Olhei aterrorizado a água gelada que brotava da torneira, caindo caudalosamente sobre a alvura láctea da bacia.
Depois, num rompante de coragem, meti a cabeça debaixo da torneira! Atchim! Atchim! Brrr...
Acabei à pressa a ”toilette”, engoli dum trago o pequeno almoço, enrolei um “cache-col” en volta do pescoço; escondi o físico dentro da gabardina, atirei um punhado de livros para dentro da pasta – tudo isto feito num instante - e saí pela aporta fora como um furacão.
Oito e quarenta! Dentro de momentos o toque irritante da campainha, far-me-ia subir a quatro e quatro a nua escadaria de lajes escorregadias.
Mau! Grossas pingas começavam a cair do céu pardacento. Maldito tempo!
Desatei a fugir pela avenida abaixo, encharcado, ofegante espavorido...
A água batia-me nos olhos, inundava-me a cabeça., fazendo-me correr pela cara abaixo toda a abundante brilhantina que pusera no cabelo..
Where the costeletas are é título da minha crónica de hoje..
Where the ZACARIAS are é o que vamos saber.
O ZACARIAS, era um funcionário da tasca da esquina, ao pé da estação, onde o patrão tinha mesmo cara de mau e devia de lixá-lo ou dar-lhe cabo da cabeça...
Quando eu estava hospedado na Rua Ventura Coelho, para ir para a Escola vinha à Av. da República e passava pela tasca do Zacarias.
O Zac era um homem meigo e triste também, resignado à sua condição de fachineiro e homem das limpezas, em cuja face se via apenas o branco dos olhos no conjunto da sua fisionomia.
Tinha um ar distante nessa primeira vez que o vi. Talvez estivesse a falar com Deus e a pedir-lhe que o levasse de novo para a roça.
Encostado ao balcão e á vassoura, o preto Zac inspirava simpatia. Fiquei amigo do Zac e, sem ele saber que era seu amigo, todos os dias passava pela tasca e olhava para ele.
E parecia-me que continuava a falar com Deus
E estava eu ainda nesta de digerir a ausência do Zacarias, lá ao pé da oficina da estação, portanto, quando me cruzo com um preto (o termo não é aqui usado pejorativamente), tal e qual o Zacarias.
Fiquei feliz e disse .eih... Zac... o cavalheiro virou-se para trás e ... olhou .. nada disse e bateu a asa.
Fui andando.
Daí a pouco, estava a passar junto da antiga residência do Xico Zambujal, do Mário Zambujal, da Lurdinhas Zambujal e da Fatinha Zambujal, que foi minha colega de curso no Magistério e que casou com o bancário no BNU em Coimbra, costeleta, advogado e poeta, natural de Santa Clara de Sabóia, creio, o Dr. Manuel Inácio da Costa, que era visita da casa da Natércia quando eu estava lá hospedado.
Estava eu rememorando a imagem do Sr. Gordillo, o Pai dos Zambujal, virado para o casario, quando sinto uma palmada nas costas, virei-me.. era o Zacarias, não o preto que eu procurava, mas o do Alpino, costeleta do Sítio da Areia, do tempo do Januário da Conceição de Faro, do Vinebaldo Charneca de Pechão, do Víctor Venâncio, do Zé Emiliano e do Alberto Rocha, do Bernardo Estanco, do Zé Elias do Chelote, do Leonel de Boliqueime, do Víctor Carromba, do Bartolomeu Caetano e de tantos outros.
Disse-lhe o que estava a fazer ali.
E ele, logo: - Olha lá, tu conheces aquela redacção que o Mário Zambujal fez, a «MANHÃ de AULAS»? ...
Não, disse eu
Então, toma lá e publica.
Agradeci..
E por achar o texto muito giro... aí vai.
“Oito horas! Estremunhado, amaldiçoei ”in mente” o renegado que inventou os relógios monologando um raivoso colérico –“Bandido!”.
Esfreguei os olhos com força e comecei a cantar esganiçadamente as primeiras notas de uma canção em voga, para fazer fugir o sono.
Deitei um olhar ao relógio ! Malvado! Lá estava ele naquele eterno tic-tac, monótono e irritante, que me estragava os nervos e me estragava as manhãs! Malvado!
.- Atchim! Olá, decididamente estava a constipar-me! Brr... que frio! Maldito tempo!
Vagarosamente enfiei uma meia; tornei a descalçá-la com um berro de desespero. Estava do avesso. Com uma paciência evangélica calcei-me e vesti-me. Atchim! Lindo tempo não havia dúvida...
Olhei aterrorizado a água gelada que brotava da torneira, caindo caudalosamente sobre a alvura láctea da bacia.
Depois, num rompante de coragem, meti a cabeça debaixo da torneira! Atchim! Atchim! Brrr...
Acabei à pressa a ”toilette”, engoli dum trago o pequeno almoço, enrolei um “cache-col” en volta do pescoço; escondi o físico dentro da gabardina, atirei um punhado de livros para dentro da pasta – tudo isto feito num instante - e saí pela aporta fora como um furacão.
Oito e quarenta! Dentro de momentos o toque irritante da campainha, far-me-ia subir a quatro e quatro a nua escadaria de lajes escorregadias.
Mau! Grossas pingas começavam a cair do céu pardacento. Maldito tempo!
Desatei a fugir pela avenida abaixo, encharcado, ofegante espavorido...
A água batia-me nos olhos, inundava-me a cabeça., fazendo-me correr pela cara abaixo toda a abundante brilhantina que pusera no cabelo..
Maldito tempo! Quem seria o “camelo” que disse que era romântico a chuva bater na cara?- Animal!
Atravessei a galope o Arco da Vila, escorreguei, caí, levantei-me e cheguei finalmente à Escola., terrivelmente encharcado e furioso...
E exausto como estava, só tive forças para monologar mais um “Maldito tempo” carregado de ira sanguinária!
Mas ainda não tinham acabado as terríveis e odiosas surpresas desta manhã infernal! Não, havia ainda outra, mais horrível, mais cruel e espantosa, que tornaria inglórios e inúteis todos os meus sacrifícios desta manhã tão fértil deles!:
Uma voz, a voz inexpressiva e grave de um funcionário dizia-me:- “O menino (menino!) não pode entrar. Tocou já há cinco minutos”...
Desmaiei...
Publicação de
JOÃO BRITO SOUSA
Atravessei a galope o Arco da Vila, escorreguei, caí, levantei-me e cheguei finalmente à Escola., terrivelmente encharcado e furioso...
E exausto como estava, só tive forças para monologar mais um “Maldito tempo” carregado de ira sanguinária!
Mas ainda não tinham acabado as terríveis e odiosas surpresas desta manhã infernal! Não, havia ainda outra, mais horrível, mais cruel e espantosa, que tornaria inglórios e inúteis todos os meus sacrifícios desta manhã tão fértil deles!:
Uma voz, a voz inexpressiva e grave de um funcionário dizia-me:- “O menino (menino!) não pode entrar. Tocou já há cinco minutos”...
Desmaiei...
Publicação de
JOÃO BRITO SOUSA