
Crónica do século passado
Economia Aplicada
(aula prática - 2)
Negócio de Alcagoitas
Se uma empresa da arábia, tendo por objectivo o negócio de alcagoitas, é dona de um banco, de onde vêem os fundos?
Da empresa para o Banco ou dos depositantes do banco para a empresa comprar alcagoitas?
Esta relação banco/venda ambulante que vem de há alguns anos, sempre foi pacifica mas com a devida separação de actividades.
A offshore da Ti Marquinhas:
Esta senhora teve durante vários anos o seu estabelecimento de venda ambulante de tremoços da Serra, alcagoitas das Hortas de Vila Real e de Aljezur, pevides da Conceição, chupa-chupa caseiro, sombrinhas de caramelo e torrão de Alicante. O espaço comercial (qual secretária) tinha 1,20 m por 0.80 m. Estou a vê-la sob o seu xaile preto se fosse inverno e bata da mesma cor se fosse verão. Imprescindível o lenço e o chapéu. Se fazia frio sentava-se de quando em quando num banco de cruzeta de amieiro de Monchique, comprado do mercado local. Não sei onde morava, sempre a conheci na mesma esquina, frente à porta do Banco, na Avenida, em Loulé, fazendo o seu negócio. Teria ela conta bancária? Saberia ler? Passaria cheques? – Desconheço - . Quando encerrava a Banca às 16,30 ela abria a sua offshore, pontualmente à mesma hora. Era um acto tão solene e tranquilo que parecia religioso. Assim, aguardava pacificamente os seus clientes que lhe proporcionariam a oportunidade de adquirir uma sopinha diária, pois que a SS (leia-se Segurança Social) não a teria nos seus registos.
No Banco a que nos referimos trabalharam vários Costeletas.
Parecendo irreconciliável, floresciam as duas empresas no mesmo local, com clientes e volume de negócio tão diferentes, mas em verdadeira simbiose, tendo contudo alguma empatia e afinidades tornando compatível as suas actividades.
Só que, nem o Banco vendia alcagoitas, nem a Senhora vendia fiado.
Por ironia do destino ambos os estabelecimentos encerraram quase em simultâneo.
Cortelha, 2009.07.31.
Recebido no mail da Associação - colocado por Rogério Coelho
VIVA.
ResponderEliminarPortugal anos 50, poderia ser o título desta crónica carregada de humanismo.
Muito bem.
Um abraço para a Cortelha.
Saudações costeletas.
João Bito Sousa