sábado, 12 de setembro de 2009

A PESCA DO ATUM

A PESCA DO ATUM
De Alfredo Mingau
Dizia o meu grande amigo Maurício, sobre a pesca do atum ao largo da costa Algarvia, mencionando a existência de vários barracões e grandes âncoras espalhadas pelo areal. Os barracões foram demolidos e as ancoras, algumas servem de decoração na praia de Faro.
E, aproveitando esta deixa, falarei sobre a pesca do atum.
Naquele tempo muitos atuns eram encontrados no areal da praia e outros, entrando pela barrinha ficavam encalhados nos cabeços da Ria e, ficando em seco com a baixa-mar, acabavam por morrer. Este facto devia-se, segundo ouvi contar, ao grande inimigo do atum, uma espécie de golfinho, o “Roaz”. Este peixe atacava os cardumes para se alimentar e, o atum aterrorizado, na sua fuga desordenada, para se livrar do inimigo, uns enfiavam pelo areal da praia, outros entrando pela barrinha encalhavam nas águas pouco profundas da ria.
A armação do atum, da qual o maior accionista, suponho, e administrador era o então Major Sampaio.
Nesta pesca, que teve os seus tempos áureos nos anos 30 e 40, as redes ficavam sediadas e armadas, ao largo da praia de Faro, captando a passagem do atum que se dirigia para o Mediterrâneo para a desova, “pesca de direito” ou captando atum no regresso da desova “pesca de revés”.
Naquele tempo não havia telemóveis, pelo que, a indicação para terra da quantidade apanhada era indicada e transmitida, pela colocação, como bandeira desfraldada, de peças de roupa, cerolas, camisolas, cuecas, enfim… e em terra, com os binóculos, porque a armação estava à vista, tomavam conhecimento da quantidade pela indicação da respectiva “bandeira”.
A pesca era feita com uma rede de malha grossa, para apanhar só peixe graúdo, e para não rebentar com o peso e investidas dos atuns. Em cima, umas centenas de bóias de cortiça, mantinham a rede a flutuar.
Quando as barcaças fechavam o cerco e puxavam as redes, os pescadores com um gancho puxavam os peixes para dentro das barcaças. A esta operação era dado o nome de “copejo do atum”.
E quando restavam poucos exemplares, dentro da rede, era ver os pescadores, com alegria estampada no rosto, lançarem-se para cima da rede, com água pela cintura, a tentarem fazer uma “pega de caras”. E até faziam apostas para ver o primeiro a abraçar o peixe.
Era assim a pesca do atum ao largo da Praia de Faro.
Dizem que já não há cardumes nos “mares” do Algarve. Emigraram para os “mares” da Madeira.
Esta história está contada à minha maneira, pelas recordações do que ouvia e que, na altura, era um garoto. Outros poderão contar de outra forma.
Aqui fica para o Maurício, e não só…
Tem graça!
“Comecei como cronista,
Agora, sou historiador.
Também como romancista
E fiz poema, como autor.”
(nota: o poema foi um comentário dirigido ao m/grande amigo Brito Sousa. Vejam em PORQUE SERÁ)
Inté
Alfredo Mingau

6 comentários:

João Brito de Sousa disse...

SINCERAMENTE GOSTEI.

O texto do Alfredo está prontinho para entrar em qualquer colectânea de textos literários de qualidade.

O cenário está correctamente descrito e o autor mostra-se conhecedor deste tipo de faina, tratando as coisas pelo seu proprio nome, quando refere o copejo do atum e tal pega de caras dos pescadores.

É um texto com verdade e por isso tem mérito.

Outra coisa que me impressionou é o ritmo do texto que nem dá tempo a repirar.

É uma prosa com um pouco de RAUL BRANDÃO. Parece-me.

Foi o seu melhor texto, quadra incluída.

Parabens.

Ab.
JBS

Anónimo disse...

ALFREDO.

BOA MEMÓRIA AINDA TENS.!
ERA UM ESPECTÁCULO DESLUMBRANTE,
SENDO O COPEJO DOS ATUNS FEITO
POR PESCADORES POSSANTES, QUE
TIVESSEM SUFICIENTE FORÇA PARA
APROVEITAR O MOVIMENTO DO PEIXE E
ATIRA-LO, NUM ESTICÃO, PARA DENTRO
DAS BARCAÇAS QUE RODEAVAM A "ARENA".
ESSAS BARCAÇAS ALÉM DE RECEBEREM OS ATUNS, ALGUNS COM MAIS DE CEM QUILOS, TINHAM TAMBÉM A MISSÃO DE
REDUZIR O CIRCULO, PUXANDO A REDE,
CONFORME O NÚMERO DE PEIXES IA
SENDO REDUZIDO.
O ARPÃO CRAVADO NO CORPO DO ATUM
FAZIA-O SANGRAR BASTANTE, TORNANDO
TODA A ÁGUA AVERMELHADA E, NATURAL-MENTE, OS PESCADORES PINGAVAM
SANGUE POR TODOS OS LADO.
"ERA UMA TOURADA MARINHA".
O PESCADO ERA QUASI TODO ABSORVIDO
PELAS FÁBRICAS DE OLHÃO, VILA REAL
DE STºANTÓNIO E PORTIMÃO, AS MAIS
IMPORTANTES PERTENCIAM À FIRMA
FEU HERMANOS E JÚDICE FIALHO.
LEMBRO-ME, ACONPANHADO DE MINHA MÃI, COMPRAR NA "PRAÇA DO PEIXE",
JUNTO À ANTIGA CENTRAL ELÉCTRICA,
BELOS BIFES DE ATUM, CORTADOS NO
MOMENTO DA COMPRA. ERAM UM REGALO
FEITOS DE CEBOLADA !
O ATUM PESCADO NA ILHA DA MADEIRA, AONDE TAMBÉM COMI ALGUM COM "MÔLHO DE VILÃO", É MUITO MAIS
PEQUENO, POUCO MAIOR QUE O "BONITO". NO ALGARVE A POPULAÇÃO
COMIA O ATUM DE DIREITO, GORDO E
OVADO, POIS O ATUM DE REVÉS QUE
FORA DESOVAR AO MEDITERÂNEO, VINHA
SECO, MAGRO E ERA MENOS SABOROSO.
ALGUNS BIFES AINDA COMI NA ADEGA
DOS "DOIS IRMÃOS" EM NOITES DE PARÓDIA COM AMIGOS .
ALFREDO, SE TE ESTIMULEI O APETITE E A ADEGA AINDA EXISTE, MANDA FAZER UNS BIFES DE ATUM DE
CEBOLADA, DAQUELES QUE SÓ A MARIA-ZINHA SABIA COZINHAR !!

UM ABRAÇO APERTADO DO MAURÍCIO

Anónimo disse...

Meu caro João
Gostei do teu comentário..
Já tenho mais trabalho na "gaveta".
Um deles é aquele de que te falei se era possível publicar. Não tem coisas obcenas. Práticamente só me faltava escrever algo de sexo sem ser obsceno. Não creio que possa molestar alguém. É uma história de ficção.Encontra-se em 2º lugar na fila. Amanhã mandarei uma com uma certa graça.Tal como o DUETO e A PESCA DO ATUM são criações minhas
As outras têm um cunho de veracidade de passagens comigo ou com pessoas conhecidas e que dou um nome fictício.
Inté
Alfredo Mingau

Anónimo disse...

OK Maurício
Os dois irmãos, ao lado da nortenha ainda existem

jorge tavares 1950/56 disse...

Olá,

Um complemento ao texto.
À entrada de Faro ( em frente do hoje Hostital Privado, e que foi em tempo palácio Mateus da Silveira) vindo de Loulé,ficava a sede da Companhia de Pescarias Cabo de Santa Maria Ramalhete e Forte, cujo administrador era o coronel Sampaio.
Neste local, que tambem servia de armazens para todo o equipamento destinado à armação do atum, ficava uma torre encabeçada por um mastro para içar bandeiras. Os farenses sabiam sempre a quantidade de atuns que eram pescados diáriamente, porque a Companhia içava as bandeiras correspondentes. Lembro-se que a bandeira nacional, significava que a pesca fora superior a 2.000 atuns. Toda a cidade vibrava!.
Vivi neste bairro, e muito perto da taberna do Catarro,aonde os pescadores da ria "matavam o bicho antes de ir para a faina ". Os que se dedicavam à pesca na armação, ficavam a residir três a quatro meses nos barracões existentes na ilha.

Jorge Tavares
1950/56

Anónimo disse...

Olá JORGE,

Vou tratar o teu comentário como post, porque é culturalmente válido, pois trata da história da cidade, pela via do operariado que merece e deve ser conhecida.

O texto está muito bem concebido.

Parabens e um ab. do
JBS