Panela de Sopa ...
Ninguém faz ideia da trabalheira que dava, nos anos 40, confeccionar uma panela de sopa.
Tinha de ser programada de véspera e só comprar no próprio dia as quantidades a serem utilizadas.
Não havia frigorífico, por isso tudo tinha de ser bem equacionado para não surgirem sobras.
Se a sopa fosse de feijão ou grão, depois de escolhidos, tinham de ficar de molho em água até ao dia seguinte. O grão teria de ser esfregado com sal para retirar a pele e dar-lhe o gosto. Esses pratos levavam horas a ser cozinhados ...
Não havia fogão a gás ou eléctrico.
Os fogões eram de ferro, alimentados a lenha ou a petróleo.
Forno, pouca gente tinha. Lembro-me de ir, muitas vezes, ao forno de S. Pedro levar bolos ou cabrito já temperado e pronto para assar.
Mais tarde apareceu uma panela com um buraco ao meio cuja tampa tinha um vidro de observação, que fechava hermeticamente, e que dava para cozer bolos facilitando o trabalho.
O fogão a petróleo só tinha um bico. Se quiséssemos mais pratos para a refeição, teriam de ser cozinhados um de cada vez, ou ter dois ou três fogões. Eram incómodos por causa do cheiro a petróleo e entupiam com muita facilidade. Havia urna agulha para o desentupir e uma válvula para dar pressão e fazer com que o petróleo subisse e chegasse ao local da chama.
O fogão de ferro facilitava mais, embora tivesse de haver o cuidado de introduzir a lenha suficiente. Havia sempre água quente com esses fogões.
Voltando à sopa de grão ou feijão, a panela ia para o lume com a água, as carnes e os legumes secos. Só quando quase cozidos se introduziam os restantes ingredientes partidinhos aos cubos. A cozedura levava horas, tendo de haver o cuidado de não deixar secar a água, para não queimar. Se acontecesse esse percalço, dizia-se que o "bispo" tinha ido à cozinha ...
Para fazer purés, era outra trabalheira ...
Não havia"varinha mágica" ...
O puré tinha de ser feito esmagando a batata, a cenoura ou ° feijão, com o garfo, pacientemente, e ir retirando as peles. Quando apareceu o passe-vite, transformar tudo em papa continuava moroso, embora facilitasse o trabalho.
A tarefa da dona de casa não finalizava quando a sopa era comida. As dificuldades continuavam porque lavar a loiça era outro dos problemas. Não havia máquina de lavar loiça, nem abrasivos, nem detergente desengordurantes.
A louça era lavada com a utilização de dois alguidares, um deles com água morna. A tentativa de tirar toda a gordura, com sabão azul e branco e uma esponja de esparto, era desanimadora. Primeiro lavavam-se os copos, pratos, talheres, passando-os pelos dois alguidares, um para lavar o outro para enxaguar; por fim as panelas e tachos que depois de utilizados ficavam negros porque tanto a lenha como o petróleo sujavam imenso e todo o negrurne tinha de ser retirado com bastante paciência e sacrifício, recorrendo, às vezes, a areia que se comprava, à porta de casa, a um vendedor.
o arroz tinha de ser escolhido e essa tarefa era, geralmente, dada às meninas da casa. Aos rapazes nada era solicitado, pois logo a partir do berço, homem é homem e mulher é para ser dona de casa ... que honra!. ..•
A vida não era nada fácil para os nossos antepassados, mais
os femininos, que trabalhavam em casa como verdadeiros escravos.
IN “FARO RETRATOS À LÀ MINUTA”
De Lina Vedes
Crónicas na 1ª pessoa
Colocado por Rogério Coelho
À Drº LINA
ResponderEliminarViva,
Estes anos 40, escritos assim, só pela pena da Lina.
Só ela sabe dar-lhe aquele toque...
No campo era aasim; na cidade não sei.
Os meus parabens.
E um ab. do
JBS