segunda-feira, 27 de setembro de 2010

OS NOSSOS ACTORES


Acabei de ver o programa da Judite de Sousa na RTP 1, onde entrevistougrandes actores de teatro de antigamente e lembrei-me dos bons actoresda Escola.

No teatro, diz Harold Pinter, a verdade esquiva-se sempre. Nunca aencontramos por completo, mas é forçoso procurá-la. Essa busca éclaramente aquilo que guia os nossos esforços. É essa a nossa tarefa.

Na maioria das vezes é no escuro que tropeçamos na verdade, esbarramos nela, ou vislumbramos uma imagem ou uma forma que parece corresponderà verdade, muitas vezes sem nos darmos conta disso.

Mas a verdade verdadeira é que, na arte do teatro, não há nunca umaverdade única que possamos encontrar. Há muitas. Estas verdadesdesafiam-se mutuamente, fogem, reflectem-se, ignoram-se, espicaçam-se,são insensíveis umas às outras. Às vezes pensamos que temos a verdadede um momento na mão, e depois ela escapa-se-nos por entre os dedos edesaparece.

Sem ter grandes conhecimentos da matéria, atrevo-me a opinar sobre,


MARIA JOSÉ FRAQUEZA, a mulher de raça que ainda hoje é fez teatro na Escola dirigida pelo professor e médico Dr. Corôa. Representou ecantou, sempre bem. Mulher sem complexos, grande colega e grandeactriz. Quero felicitá-la ainda pelo que tem feito pela sua terra. Jávisitei a sua casa museu. Lindo. Como são os seus blogues. Às quintas feiras fala na rádio. E é poetisa, das melhores diz o catedráticoProf. Doutor José Carlos Vilhena Mesquita.

AURÉLIO MADEIRA – Um homem indiscutivelmente do teatro. Intuição,génio, habilidade, arte e tudo o que se queira dizer cerca do que é umartista de teatro o Aurélio tinha. Fez todos os Autos do Gil Vicente,do António Aleixo sob a orientação do Dr. Coroa. Senhor de uma dicçãoperfeita, de uma exigência pessoal enorme e de um grande rigor, oactor Aurélio Madeira foi um grande senhor do teatro e foi professor da arte.

JOAQUIM TEIXEIRA – O nosso Presidente foi um enorme actor e um excelente declamador. Fez igualmente os autos de Gil Vicente e do António Aleixo.

Dr. CORÔA – Um mestre.


Proponho uma distinção por mérito.

JBS

TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO

ANOS 40

Panela de Sopa ...

Ninguém faz ideia da trabalheira que dava, nos anos 40, confeccionar uma panela de sopa.

Tinha de ser programada de véspera e só comprar no próprio dia as quantidades a serem utilizadas.

Não havia frigorífico, por isso tudo tinha de ser bem equacionado para não surgirem sobras.

Se a sopa fosse de feijão ou grão, depois de escolhidos, tinham de ficar de molho em água até ao dia seguinte. O grão teria de ser esfregado com sal para retirar a pele e dar-lhe o gosto. Esses pratos levavam horas a ser cozinhados ...

Não havia fogão a gás ou eléctrico.

Os fogões eram de ferro, alimentados a lenha ou a petróleo.

Forno, pouca gente tinha. Lembro-me de ir, muitas vezes, ao forno de S. Pedro levar bolos ou cabrito já temperado e pronto para assar.

Mais tarde apareceu uma panela com um buraco ao meio cuja tampa tinha um vidro de observação, que fechava hermeticamente, e que dava para cozer bolos facilitando o trabalho.

O fogão a petróleo só tinha um bico. Se quiséssemos mais pratos para a refeição, teriam de ser cozinhados um de cada vez, ou ter dois ou três fogões. Eram incómodos por causa do cheiro a petróleo e entupiam com muita facilidade. Havia urna agulha para o desentupir e uma válvula para dar pressão e fazer com que o petróleo subisse e chegasse ao local da chama.

O fogão de ferro facilitava mais, embora tivesse de haver o cuidado de introduzir a lenha suficiente. Havia sempre água quente com esses fogões.

Voltando à sopa de grão ou feijão, a panela ia para o lume com a água, as carnes e os legumes secos. Só quando quase cozidos se introduziam os restantes ingredientes partidinhos aos cubos. A cozedura levava horas, tendo de haver o cuidado de não deixar secar a água, para não queimar. Se acontecesse esse percalço, dizia-se que o "bispo" tinha ido à cozinha ...

Para fazer purés, era outra trabalheira ...

Não havia"varinha mágica" ...

O puré tinha de ser feito esmagando a batata, a cenoura ou ° feijão, com o garfo, pacientemente, e ir retirando as peles. Quando apareceu o passe-vite, transformar tudo em papa continuava moroso, embora facilitasse o trabalho.

A tarefa da dona de casa não finalizava quando a sopa era comida. As dificuldades continuavam porque lavar a loiça era outro dos problemas. Não havia máquina de lavar loiça, nem abrasivos, nem detergente desengordurantes.

A louça era lavada com a utilização de dois alguidares, um deles com água morna. A tentativa de tirar toda a gordura, com sabão azul e branco e uma esponja de esparto, era desanimadora. Primeiro lavavam-se os copos, pratos, talheres, passando-os pelos dois alguidares, um para lavar o outro para enxaguar; por fim as panelas e tachos que depois de utilizados ficavam negros porque tanto a lenha como o petróleo sujavam imenso e todo o negrurne tinha de ser retirado com bastante paciência e sacrifício, recorrendo, às vezes, a areia que se comprava, à porta de casa, a um vendedor.

o arroz tinha de ser escolhido e essa tarefa era, geralmente, dada às meninas da casa. Aos rapazes nada era solicitado, pois logo a partir do berço, homem é homem e mulher é para ser dona de casa ... que honra!. ..•

A vida não era nada fácil para os nossos antepassados, mais
os femininos, que trabalhavam em casa como verdadeiros escravos.

IN “FARO RETRATOS À LÀ MINUTA”
De Lina Vedes
Crónicas na 1ª pessoa

Colocado por Rogério Coelho