quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DO CORREIO ELECTRÓNICO

UM GRANDE POETA


ANTÓNIO SIMÕES JÚNIOR


Sou grande admirador das gentes de Olhão, sobretudo depois de tomar conhecimento dos 19 que foram ao Brasil informar o Rei da expulsão dos franceses. Hoje, depois de ter tomado conhecimento de alguns vultosda cultura olhanense, rendo-me à cidade, onde se passeou o poeta António Simões Júnior, o poeta sensível que tentou ser justo e tem toda a minha grande amizade e reconhecimento.

Apesar de Olhão ter outros poetas, é Simões Júnior que mais me encantae me entra na alma, sem desprimor para os outros, evidentemente. É um autor de palavras suaves, cuja melodia desliza docemente pelo seuinterior, conseguindo depois transmitir para fora de si, numa harmoniade palavras simples, essas imagens de criação poética fantástica e depoderoso encantamento. Como se pode ver a seguir.

“Eu sou o rapaz do café/ de lenço branco e cara amarela/ que de noite, a horas incertas/ venho sentar-me na mesa do canto”...

Este homem, que parece ter tido uma relação de felicidade com a vida,pelo menos parece-nos ver isso nos seus versos, foi um homem que lutoupara ganhar a justiça social primeiro e o bem estar social depois, emtempos difíceis da sua existência, tudo a favor dos outros.

A poesia tem a particularidade de nos tornar felizes, como eu fico depois de ler estes versos de Simões Júnior,

— E quando o criado vem,/ peço o clássico café/ e fumo cigarros/ num atordoamento/Concentro-me monotonamente e fico pasmado a olhar,a olhar;/ neurastenia de tudo quanto vejo, ou não vejo,/ neste antrode fumo, onde a alegria se perde…e o pilar do tédio a crescer, acrescer,/ ameaça converter-se numa tempestade horrível que não posso dominar!

Digamos que a poesia precisa da vida e a vida precisa da poesia, oudos poetas. Poeta é aquele que transporta consigo o problema dosoutros, que ao fim e ao cabo são os seus também, e os expõe numa formagraciosa e atraente. provocando a quem lê, uma certa dose de alegria e encanto. É essa a grande virtude de Simões Júnior, que se entende bem com essa forma de comunicar, tratando nos seus versos o problema do homem, a direcção e o caminho que a vida destes deve assumir, oproblema da solidão, da estupidez que é a guerra e outros.

Simões Júnior é um poeta que encanta, que merece o respeito de todos os olhanenses e a quem falta o devido reconhecimento público.

Eu gosto do que Simões Júnior nos canta, do percurso de Homem que teve e do enorme poeta que ainda é e, que, como tal, ficará consagrado pelas gentes da cidade de Olhão.

JBS.
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POSTAL  ILUSTRADO
CURSO DE FORMAÇÃO DE SERRALHEIROS
lembram-se deles?
Não? - Perguntem ao Venâncio
RC

POSTAL ILUSTRADO
Dos anos 40
 O saudoso Mónica Pereira atleticamente carregando com o Maurício Severo Domingues
Costeletas na Praia de Faro
RC
CASIMIRO DE BRITO
EM DESTAQUE NO FESTIVAL INTERNACIONAL
DE LITERATURA
DO ALGARVE
Acontecimento inédito na nossa região decorreu recentemente e durante 4 dias em várias localidade algarvias o «Festival Internacional de Literatura do Algarve», que contou com o alto patrocínio do escritor Gunter Grass (Prémio Nobel de Literatura).
Merecido e relevante destaque teve nesta iniciativa o «costeleta», sócio da nossa Associação e um dos mais destacados nomes da poesia europeia contemporânea Casimiro Cavaco Correia de Brito (Casimiro de Brito), que proferiu várias intervenções.
João Leal


MORREU O VALÉRIO QUINTAS RODRIGUES
A morte levou-nos mais um amigo dos bancos da Tomás Cabreiras, que frequentou no Comércio, nos finais da década de 40 e princípios de 50 do século XX. Desta feita foi o «costeleta» Valério Quintas Rodrigues, natural de Estoi, técnico superior das Finanças e um dos nomes mais famosos do acordeão algarvio, fazendo parte de várias orquestras, conjuntos e da sempre lembrada Orquestra Típica Algarvia, para além da animação que, com o seu primo Prof. António da Cruz Bica, motivava nos convívios e festas da nossa Escola.
Para o Valério a saudade da malta da Tomás Cabreira e que a sua alma descanse na paz de Deus .
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João Leal
PAPÉIS TROCADOS
Por Norberto Cunha

Nos fins de 1960 e depois de muito instado, aceitei a inclusão do meu nome na lista da direcção do Cineclube, apresentada a sufrágio para o mandato seguinte. Mas fi-lo tão-só, exclusiva e declaradamente, para possibilitar o seu formal preenchimento. Estava longe de imaginar que tal precaução de pouco me iria valer e que um mero formalismo me levava de novo a colidir com Marques da Silva, embora desta vez de modo voluntário, ainda que indirecto, como da primeira. Poucos meses após a tomada de posse e, provavelmente, em consequência do despótico estatuto que por essa altura o regime pretendia impor aos Cineclubes, dos seis ou sete membros do órgão directivo restavam apenas dois: o tesoureiro Veríssimo Ninguéns… e eu, que, ao iniciar-se a debandada, arrepiara caminho para minimizar o descalabro. Conduzíamos o barco tão bem quanto sabíamos e podíamos, quando certa noite ele me alertou para um problema que se agravava: as receitas mal cobriam as despesas. Conferenciámos com o Sr. Martins (?), o cobrador, e concluímos que o número de associados com quotas em atraso vinha crescendo mais do que supúnhamos. Contudo, ao que nos parecia, o de espectadores nas sessões não tinha diminuído. Pelo contrário, mantinha-se, ou conhecia mesmo um ligeiro aumento. Conclusão: Ou os porteiros do cinema eram descuidados, negligentes, não conferiam, como lhes cumpria, a validade da quota exibida com o cartão ou (que sabíamos nós?) facultavam o acesso a não associados e até haveria ex-sócios servindo-se de cartão prescrito. A ideia de fiscalizarmos as entradas para delimitar o problema, foi do Veríssimo. E também a iniciativa de encomendar as braçadeiras vermelhas com a sigla CCF que, sem mais, atestariam a nossa autoridade para tal procedimento. Não aplaudi a ideia, nem a iniciativa, desagradava-me desempenhar um antipático papel de polícia, mas… o cineclube periclitava e se, até à hora de se passar o testemunho, eu queria contar com o Veríssimo, assim tinha de ser. E na primeira oportunidade lá estávamos nós. Mal chegámos, um pouco antes da hora, o meu colega comunicou por alto o nosso propósito aos visados que, para surpresa nossa, de bom grado o aceitaram, embora assegurando que sempre cumpriam à risca a sua obrigação e que apenas iríamos perder o nosso tempo. De facto, enquanto a afluência de associados foi escassa, tudo correu na perfeição. Mas quando começou a engrossar tornou-se difícil exercer a nossa vigilância. O pior, porém, estava por vir. Apesar de o átrio já estar pejado de gente, a dada altura avistei Marques da Silva no seio de um pequeno grupo que se dirigia para a entrada. Não me apeteceu cumprimentá-lo e, para evitar que ele me visse, desloquei-me para o lado e em sentido contrário ao dele, acabando por ficar nas costas do conjunto, que segui a pouca distância, até ao meu local de observação. Foi daí que a primeira ponta do véu se levantou. No momento, Marques da Silva dava duas palavras ao porteiro e de seguida todo o grupo passou, sem que fosse exibido qualquer cartão! Contudo, não quis acreditar que o que vira era mesmo o que parecia: uma borla abusiva. Preferi dar o benefício da dúvida ao suspeito, considerando a possibilidade de ele não ter agido de moto próprio e se tratar de um procedimento ocasional com motivo justificável. Porém, dos poucos que me ocorreram, só um me pareceu plausível, embora preocupante. Desde logo, por não ter reconhecido nenhum dos acompanhantes do mal amado poeta; depois, porque sinistros eram os ventos adversos ao Cineclubismo. Por outras palavras: os pseudo borlistas podiam ser agentes da polícia política… Mas a apreensão resultante da conjectura não durou muito. Não tinha decidido ainda que atitude tomar e, para meu espanto, de novo se aproximava Marques da Silva à cabeça de outro grupinho e logo achei que já seriam polícias a mais… Afastando-me um pouco, discretamente pus-me a observar a comitiva e verifiquei que a sua maioria era de gente conhecida e insuspeita. Esperei para ver e… à excepção das “duas palavras” ao porteiro, a cena de minutos antes repetiu-se! Quase corri para o Veríssimo que se encontrava de plantão na entrada ao lado. “Anda cá”, pedi-lhe, arrastando-o para dentro onde o grupinho acabava de parar, e perguntei-lhe: “Estás a ver aqueles sujeitos ali à conversa com o Marmelada?”. “Estou sim. E então?”. “Entraram todos à borla com ele”. “Tens a certeza?”. “Absoluta. E já não são os primeiros”. “O quê? Vamos já falar com o sacana”. Surpreendi-o com a minha recusa, mas prometi-lhe que depois lhe diria o motivo, e ele não perdeu tempo, arrancou. À distância, restou-me imaginar a azeda e atribulada conversa entre os dois pela forma como a postura, o gesto e a expressão de Marques da Silva evoluíam: Surpresa, altivez, sobressalto, embaraço, abatimento. E isto ao mesmo tempo que, um a um, e com um discreto aceno, os envergonhados borlistas se iam despedindo dele, invertiam a marcha e saíam. Só dias depois descobri que a gerência do cinema não tivera conhecimento prévio do nosso empreendimento. E, por um lado, ainda bem. Se assim não fora, não se teria consumado a troca de papéis entre mim (que de antigo transgressor passei a vigilante) e Marques da Silva (ao fazer o percurso inverso). E graças a ela, por um tempo, as borlas foram sustidas. Porém, por outro lado, o desfecho dessa troca, foi, talvez, mais penalizador para mim que para o desfeiteado gerente. Ele, por culpa própria, é certo, saiu humilhado. Mas eu fiquei com tanta pena daquele afável e conhecido gentleman apanhado em contra-mão, que logo decidi precaver-me de futuro contra toda e qualquer possibilidade de, por forma directa ou indirecta, voluntária ou involuntariamente, voltar a bulir com ele. Decisão severa, incómoda e problemática que no entanto sempre respeitei, por vezes com sacrifício de acalentados propósitos ou desejos.