Por Alfredo Mingau
Naquela noite não me apetecia sair. O ar estava quente. Os canais da televisão apenas emitiam telenovelas. Desliguei e liguei o rádio com o som baixo. A música era agradável. Peguei num copo e na garrafa de whisky, agarrei numa tigela e coloquei pedras de gelo. Sentei-me no sofá e deitei o líquido no copo juntamente com as pedras de gelo. E, enquanto me deliciava com a música, aguardei que refrescasse e emborquei de um só trago. Fresquinho, soube-me bem. Tornei a repetir a dose e, quando me preparava para me deliciar com este segundo a campainha da porta tocou.
Contrafeito levantei o assento do sofá e abri a porta. Uma rapariga estava na minha frente com uma taça na mão e falou:
- Sou a vizinha do andar de cima. E mostrando-me a taça acrescentou “venho pedir-lhe algumas pedras de gelo”.
- Faça favor de entrar.
Peguei na taça, dirigi-me ao frigorífico e, do cuvete, retirei algumas pedras de gelo que coloquei na taça. Voltei-me e reparei que a rapariga estava sentada no sofá. Coloquei a taça em cima da mesinha e sentei-me. Olhei para ela, peguei no copo, bebi um trago e perguntei:
-Queres uma bebida?
- Se não se importa bebo do mesmo, com pedras de gelo.
Preparei a bebida e entreguei-lhe. Bebeu tudo e pediu outro. Fiz-lhe a vontade.
- Como te chamas?
- O meu nome é Teresa
- O meu é…
- Eu sei, chama-se Alfredo.
- Já tiveste 17 anos? Perguntei, enquanto tornava a encher os copos.
- Já.
- Já.
- Idade difícil, não?
- Ah… Já vi pior, 17 anos foi o máximo que eu vivi.
- Ah… Já vi pior, 17 anos foi o máximo que eu vivi.
- Sério? Então ainda tens muito que aprender.
- Talvez. Mas creio que sei o suficiente para a minha idade.
- Tolices… tu como todas as crianças da tua idade sabem sempre o suficiente! Daí ocorrerem sempre os mesmos erros. Ou vais-me dizer que nunca erraste?
- Hum… Já errei… Mas não ultimamente.
- Queres dizer que com 17 anos não se cometem erros?
- Quero dizer que com 17 anos não cometi muitos.
- Como queiras. Esta conversa não é produtiva. Levantei-me, “ainda és criança e não sabes o que dizes. Adeus, então. Quando precisares de alguma coisa bate à porta”.
Levantou-se do sofá, pegou na chávena com o gelo já derretido, dirigiu-se para a porta, voltou-se e exclamou:
- Obrigado pelos copos! Agora já não preciso do gelo.
E saiu, batendo com a porta.
Sentei-me, enchi o quinto copo, mais umas pedras de gelo e enquanto bebia ouvindo a música, quedei-me pensativo nesta juventude: “neo-juventude”!
--------------------------------------------------------
Pé de página: Podes fazer o teu "cheque-mate" João (também aceito de todos)
AM