EU E OS OUTROS
Por João Brito Sousa
De uma maneira geral, tenho com os outros uma relação de consideração. Todavia, cheguei à conclusão, já tarde, que por muito boa vontade que tenhamos, mesmo tratando-se esses outros dos que considero melhor dotados, não se lhes pode dar tudo. Porque fazendo-o, corre-se o risco de perder o amigo, se o é, de se perde o dinheiro se o emprestamos, idem com o automóvel, com a caneta de tinta permanente e por vezes com a mulher.
A recíproca também é verdadeira.
Numa das vezes que estive hospitalizado, chamei um “bata azul”, das classes mais baixas lá do Hospital e pedi-lhe ajuda para ir á casa de banho. Conversámos um pouco e às tantas diz-me ele: “aqui vocês, digamos doentes, têm de se desenrascar”, querendo dizer-me que nós é que tínhamos de fazer pela vida.
E eu a pensar que era ao contrário.
Pensava eu que, estando em dificuldades, seria lógico que aquele que está em boas condições físicas me viesse dar a mão. Mas não é assim. Se precisares de ir á casa de banho, tocas a campainha, se estiveres no Hospital, claro e quando o bata azul vier já tu estás todo borrado.
Mas não deveria ser assim.
E se te pedirem dez mil euros, como é ?
É amigo ? Sim, então vai e em branco. Sem garantia nenhuma. Corres um grande risco, não sabias. Então experimenta e logo vês. Ou então vai perguntar ao bata azul que ele sabe como é. Repito aqui aquela cena que se passou comigo, quando fui à inspeção militar ao Hospital da Estrela, a minha mãe comprou-me uma balalaika em folha e um que estava lã comigo, pegou nela e foi vendê-la à feira da ladra. Eu fui queixar-me ao sargento, que chamou o presumível e disse-lhe: assinas uma letra e vai á cobrança. Sim meu sargento Resultado, a letra foi mas não cobrou nada, tendo eu ficado sem a balalaika e sem o dinheiro dos custos da letra.
Por outras palavras, a vida não é o que deveria ser, mas aquilo que é. E é ao contrário do que deveria ser. O Jorge Palma, até canta, “Projectos para quê se sai tudo ao contrário”. O AM também cortou o cabelo e concluiu que foi disparate. Grande não gostava, cortou-o e disse, “porra não era isto que eu queria”.
Complicado, isto. Ou é a crónica que está mal escrita ?
Se o Montinho já chegou a Faro, de certeza que vai apitar. E dizer de sua justiça. Mas se o Montinho não disser nada, espero que digam outros.
Se for publicada, como diz o Diogo.
Ab.
JBS