domingo, 4 de junho de 2017


Um texto de LINA VEDES

BANHOS DE MAR IV (Continuação)


O cumprimento destas regras era assegurado pelo cabo mar que per­corria toda a costa na esperança de encontrar alguém, em flagrante delito. O cabo mar Chagas ultrapassava a lei zelando, com rigor, pela moral e bons costumes.
Havia o hábito de contratar banheiros especializados em mergulhar crianças. Eram sete mergulhos considerados indispensáveis para um Inverno sem constipações. Tinham uma enorme manápula que tapava a boca e nariz, um poderoso braço que prendia a cintura, um vozeirão rouco e medonho que iniciava a contagem ... um ... dois ... três ... não havia espaço para respirar!
Um pavor ... daqueles que arrepiam!
A chegada à praia interrompeu as minhas lembranças!
O tempo actual, esquecido do termo ilha, é inquieto e bem diferente do tempo antigo.
Procuro uma esplanada e continuo no prazer das recordações ...
Em Setembro, depois dos frutos secos apanhados, os montanheiras vinham até à ilha para os "banhos santos" ... vinham "abanhar"
     Estes montanheiros eram trabalhadores rurais que, do nascer ao pôr-do-sol, cuidavam das hortas que circunda­vam Faro. Acreditavam que ao mergulhar no mar sete vezes, durante sete dias, a saúde seria certa durante o Inverno.
Vinham em carroças puxadas por bestas, dei­xavam-nas perto  do cais Porta Nova ou no largo de S. Francisco.
Na ilha as mulheres vestiam uma camisa de dormir enorme e larga, abo­toada até ao pescoço e os homens utilizavam ceroulas gastas pelo uso e pelas lavagens, esgaçadas à frente e atrás, com um buraquito não cosido, por onde podia sair um apêndice encolhido pelo frio da água.

As mulheres "abanhavam-se" em grupo, cheias de medo.
Finaliza no próximo dia