Um texto de LINA VEDES
BANHOS DE MAR IV (Continuação)
O cumprimento destas regras
era assegurado pelo cabo mar que percorria toda a costa na esperança de
encontrar alguém, em flagrante delito. O cabo mar Chagas ultrapassava a lei
zelando, com rigor, pela moral e bons costumes.
Havia o hábito de contratar
banheiros especializados em mergulhar crianças. Eram sete mergulhos
considerados indispensáveis para um Inverno sem constipações. Tinham uma enorme
manápula que tapava a boca e nariz, um poderoso braço que prendia a cintura, um
vozeirão rouco e medonho que iniciava a contagem ... um ... dois ... três ...
não havia espaço para respirar!
Um pavor ... daqueles que arrepiam!
A chegada à praia interrompeu as minhas lembranças!
O tempo actual, esquecido
do termo ilha, é inquieto e bem diferente do tempo antigo.
Procuro uma esplanada e continuo no
prazer das recordações ...
Em Setembro, depois dos
frutos secos apanhados, os montanheiras vinham até à ilha
para os "banhos santos" ... vinham "abanhar"
Estes
montanheiros eram trabalhadores rurais que, do nascer ao pôr-do-sol, cuidavam
das hortas que circundavam Faro. Acreditavam que ao mergulhar no mar sete
vezes, durante sete dias, a saúde seria certa durante o Inverno.
Vinham em carroças puxadas por
bestas, deixavam-nas perto do cais
Porta Nova ou no largo de S. Francisco.
Na ilha as mulheres vestiam
uma camisa de dormir enorme e larga, abotoada até ao pescoço e os homens
utilizavam ceroulas gastas pelo uso e pelas lavagens, esgaçadas à frente e atrás, com um buraquito não
cosido, por onde podia sair um apêndice encolhido pelo frio da água.
As mulheres "abanhavam-se" em
grupo, cheias de medo.
Finaliza no próximo dia
Sem comentários:
Enviar um comentário