Um texto de LINA VEDES
BANHOS DE MAR II (continuação)
Quando a maré vazava ... era
um filme!
A meio da ria, com a ilha à vista, sentíamos o barco aos soluços, batendo no
fundo, deixando-nos desconsolados, pois sabíamos o que iria acontecer!
Mestre Chico, na sua cabine de comandante, dava ordens
e procurava navegar na parte mais funda do rego de água. Dois homens, um de
cada lado, munidos de grandes varas, tentavam baloiçar o barco para que este
não encalhasse.
A missão era impossível! Acabávamos por ficar presos,
aguardando a descida integral das águas e a subida da maré até que fosse
possível a navegabilidade.
Se o mesmo acontecesse no
regresso a Faro, era muito mais dramático.
Vínhamos cansados, com fome, desejando chegar
a casa o que, por vezes, só acontecia em plena noite.
Ainda sinto a insatisfação dos momentos passados num
barco apinhado de gente, com crianças chorando ou barafustando, adultos
impacientes e dores de barriga aliviadas num cubículo, com uma porta que não
fechava, e um buraco redondo no meio de uma trave.
A recordação arrepia-me ...
Como éramos pacientes! ...
Levantou-se uma
brisa fresca. Aperto o casaco, olho as águas, o céu, o casario da praia, que já
se avista...
Chegávamos à ilha
e a confusão generalizava-se. Ansiosos por sair do barco/cativeiro
ultrapassávamo-nos uns aos outros, carregados com os cestos da comida, os
garrafões de vinho, as melancias ou as bilhas de água e os toldos ...
Escolhíamos ir para a costa ou
ficar na ria.
Quem escolhesse
a ria, se não tivesse toldo, ia para debaixo da ponte, cais de embarque e desembarque, enquanto a maré não subia. Aqui o banho era mais tranquilo e agradável permitindo
mergulhos da ponte e a entretenha da apanha de berbigões. A ida para a costa obrigava a uma longa caminhada pelo areal.
Continua no próximo dia
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