Um texto de Lina Vedes
BANHOS DE MAR III (Continuação)
A ida para a costa obrigava a uma longa
caminhada pelo areal, sem passadeira e coberto de picos, soltos dos cardos, que
o vento se encarregava de espalhar.
A duna era enorme, podíamos montar o toldo sem a
preocupação de colidir com alguém. Arrumávamos a comida e todos os pertences,
enterrávamos junto das ondas, o garrafão de vinho e a melancia, para
refrescarem.
A hora do almoço era complicada. Toalha estendida, pratos
espalhados, comida distribuída e, num azar de um gesto brusco, lá ia a areia
por cima de tudo. Vinha logo a reprimenda:
- Não consegues parar?
Enquanto
durava o tempo de digestão as mulheres do grupo lavavam a louça no mar esfregando-a
com areia e enterravam as sobras no areal.
Os homens
ficavam debaixo do toldo ou iam para a tasca da Maria Almodôvar conviver e
beber um copito.
As crianças rebolavam e davam cambalhotas na areia,
brincavam com um ringue, uma bola ou um prego ... Sobretudo importunavam perguntando
com insistência:
- Posso ir para a água?
Navego recordando o ontem com satisfação, consciente
que a felicidade não depende daquilo que nos falta. Sabíamos, instintivamente,
construir alegria dando um bom uso ao pouco que tínhamos.
Os fatos de banho dos anos 40/50 ... obedeciam a regras rigorosas.
As mulheres tinham de disfarçar as curvas corporais
usando fatos de banho subidos nas cavas e no decote e descidos nas pernas, com
uma pequena saia na frente.
Os calções dos homens não eram
cavados, tinham 2/3 dedos de perna.
Eram obrigados ao uso de uma camisola de meia manga ou de alças. Não
podiam andar de tronco nu. Os tecidos desses fatos de banho não tinham
elasticidade e quando molhados, principalmente os dos homens, moldavam e
avolumavam "as partes".
Continua no próximo dia
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