segunda-feira, 5 de junho de 2017

CRÓNICA DE FARO



XXXIII – As lembranças do Grémio
OPINIÃO | JOÃO LEAL

A excelência do escrito, inserto num site informático e da autoria do devotado olhanense Dr. António Paula Brito (vice-presidente da Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão) sobre a demolição do edifício onde, durante décadas, cremos que nos anos da sua história, a sociedade recreativa conhecida por Grémio, trouxe-nos à memória, recordações mil de alegres noites ali vividas e convividas.
Ponto de encontro e companheirismo reunia famílias e jovens nos seus frequentados bailes, onde o respeito e a estima, eram notas salientes e fomentadoras de novas e mais assíduas amizades, isto para lembrar também os muitos casamentos que ali tiveram origem.
Situado na zona sempre conhecida por largo do Grémio, paredes meias com a Rua das Lavadeiras, um historial nas celebrações dos santos populares na então Vila Cubista, o imóvel que se encontrava, de há muito, em adiantado estado de degradação por via da inatividade associativa, tal como aconteceu por esse país fora com tantas outras instituições recreativas e culturais, foi-o também um ponto de encontro entre gentes de Faro e Olhão, que ali ocorriam, com relevância própria em épocas festivas, como a passagem de ano, o Carnaval, etc.
É mais uma memória construída e vivida por gerações que desaparece nesta cidade capital da Ria Formosa e cuja demolição e o mencionado e douto parecer citados nos alerta para a plena necessidade de preservar um passado que em si mesmo comportou e também a identidade da terra olhanense.
A lembrança de gerações de sócios e dirigentes que tudo fizeram em prol do Grémio determina um profundo sentimento de grata homenagem. A lembrança das noites e saudosas jornadas ali vividas suscita-nos lembranças mil que fazem parte desse período da nossa existência nesta “Cidade de Olhão da Restauração”.
Sobretudo do escrito/opinião assinado pelo Dr. António Paula Brito fica-nos a necessidade plena, imediata e decidida de, como ele expressou: “ou seguimos um modelo económico que passa pela destruição das referências patrimoniais do passado… ou seguimos um modelo que passa pelo fortalecimento da nossa identidade”.

João Leal


   Um texto de LINA VEDES

BANHOS DE MAR V  (Continuação)


   Punham-se de costas na rebentação das ondas, de mãos dadas, procurando
 a possibilidade do mergulho.
As marés vivas de Setembro derrubavam-nas e enrolavam-nas. O mor­rer da onda deixava a nu uma verdadeira salada russa de pernas, braços, barrigas, rabos e mamas. Levantavam-se, guinchavam, voltavam a cair, mas não desistiam dos mergulhos. O resultado final era hilariante. Recheadas de areia, cabelos desalinhados, roupa enrolada e colada ao corpo, às vezes despidas ... pareciam croquetes prontos para a fritura!
Arrastavam-se para o areal, esgotadas de tanto esforço e sentavam-se de pernas abertas a descansar esperando os seus homens.
Desato a rir às gargalhadas sem me conter!
Aqueles homens calejados pelo trabalho árduo do campo, sempre debruçados sobre a terra, saíam da água salgada do mar correndo e sal­tando pelo areal. Descalços, sacudiam-se, salpicando tudo e todos, aga­chavam-se, entrançavam as pernas, rasteiravam-se uns aos outros e rebolavam. Jogavam às "abarcas". Mediam forças para encontrar um ven­cedor. Encontrado o mais forte, concluída a luta, ficavam irreconhecíveis cobertos de areia ... tanta ... que pareciam reais croquetes já panados.
Aqui sentada, olhando o infinito, regozijo-me de poder gritar a FELICIDADE de "abarcar" em mim, simultaneamente, o presente e o passado!

Lina Vedes 6 de Março de 2016