segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

CRÓNICA DE FARO DE JOÃO LEAL



 FARO, UM PATRIMÓNIO

NA CALÇADA À PORTUGUESA


            Vem, de há séculos, a arte de bem executar calçadas à portuguesa ou, mais concretamente, à algarvia. Muitas são as ruas e praças da nossa Região que apresentam magníficos tapetes empedrados, os quais são orgulho de residentes e apreço e admiração de visitantes. Faro, neste capítulo de arte decorativa tradicional e de património construído, é, para todos nós, um justificado motivo de orgulho. A capital sulina detém um dos maiores espaços pedonais do País, em zonas urbanas, com mais de 60 mil metros quadrados. Estes conhecerão um notável acrescente quando se executar o previsto projecto de calcetamento das artérias envolventes do Jardim Manuel Bivar e a respectiva pedonalização, criando um artístico corredor que vai da Pontinha (Praça da Liberdade) à Doca, englobando toda a «Gran Via» (Ruas de Santo António e D. Francisco Gomes). 

                A primeira grande área com a bela calçada foi a daquele jardim, na baixa citadina, então conhecido devido à sua configuração geométrica por «Jardim da Bacalhoa», o que aconteceu no distante ano de 1895. Viveu-se mais tarde (1935) e naquele mesmo espaço emblemático um novo impulso, desta feita aliando a arte de calcetar a um nome do grande artista que foi Roberto Nobre, nascido em São Brás de Alportel, então im-portante freguesia do concelho de Faro. O renascimento desta missão aconteceria nos anos 60 do século passado sempre na decidida acção de Autarquia e, de modo próprio pelo empenho, arte e engenho dos arquitectos municipais Ramiro Fernandes e António Serrano Santos. Este, um assumido e interventivo farense, que a «Faro, Terra Mãe» tem prestado os mais relevantes serviços, tem marcado uma indiscutível presença a partir de 1979, no dotar a cidade com mais e mais zonas pavimentadas artisticamente. Foi buscar calceteiros de grande valia, concebeu desenhos de rara beleza e a obra aí está para deleite de todos. Cito a propósito as Ruas de Santo António, D. Francisco Gomes do Avelar, Ivens, Vasco da Cama, Baptista Lopes, Largo do Carmo (com uma área de 8 mil m2), Rua da Alfândega e outras.

Nas mesmas pedra e homem fundem-se para criar belos tapetes. Os dois elementos existem com abundância e rara qualidade no nosso concelho, de modo próprio no que designamos a «Capital da Tradição», que é Bordeira, na freguesia de Santa Bárbara de Nexe, tal como noutras zona da terra algarvia (Escarpão, Tavira, Albufeira, etc.) na arte do partir o calcário ou outras brechas em pedras talhadas (escamas, espigas, quadrados e hexágonos), que depois vão formar desde os olhos da Senhora do Carmo às caravelas henriquinas ou aos atuns rabilhos. Curioso referir que no ano de 1742, há quase 300 anos, se regista um documento do contracto assinado entre a Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo e calceteiros de Bordeira, «terra de forte tradição no trabalhar da pedra».

João Leal

           

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