sábado, 30 de julho de 2011

CANTINHO DOS MARAFADOS


CASAL MARAFADO EM VIAGEM
O marido pára o automóvel e pede à esposa:
- Ó Maria sai lá do carro e vê se tem algum pneu vazio.
Ela dá a volta ao carro e diz:
- Atrás está um pneu vazio mas é só por baixo, por cima está bom !!!!

António Gabadinho

CANTINHO DOS MARAFADOS



(HOJE NO ALENTEJO)

Este episódio chegou ao meu conhecimento relatado pelo meu amigo Carlos Sousa, dono da herdade das Cumeadas, ali para os lados do Vale de Santiago.
Quero começar por identificar melhor o amigo Carlos. É um homem mais velho do que eu, tipo do lavrador alentejano de antigamente, sério, honesto e respeitado.
Durante muitos anos fui responsável pela contabilidade da herdade e sempre que necessário ia até lá. Para além da parte profissional, era para mim um grande prazer conversar com este homem, digo era, não porque ele tenha passado para outra dimensão, mas porque quem está agora à frente da exploração é o genro, os anos não perdoam.
Sempre havia água fresca da fonte, em várias quartas (a) de barro, em fila numa bancada própria e em vez do copo de vidro, um cucharro (b) de cortiça, a água tem logo outro beber. Se acrescentarmos a simpatia da dona Maria, criada da casa desde os onze anos, já lá vão mais de cinquenta, está preparado o ambiente para uma tarde daquelas em que nem damos pelo tempo passar.
Quando aqui uso o termo “criada da casa” mais não estou fazendo do que utilizando a forma como a dona Maria gosta de ser tratada. Ai de quem se atreva a chamar-lhe empregada doméstica, a gata e a cadela é que são domésticas, eu sou criada da casa e criada na casa. Ela comanda os destinos do monte como se tudo fosse seu. Nem sonha a categoria que consta na folha de salários, até eu corria o risco de ouvir das boas. Apesar de avisada de que um dia podem aparecer os sindicalistas ou organizações que achem que é humilhante o tratamento de criada, ela responde de imediato: - Aqui sem minha autorização ninguém entra e se alguém tentar jogar-me contra os patrões e os meninos vai-lhe acontecer uma desgraça. Nem no tempo das ocupações de terras o conseguiram.
Tudo isto para concluir que de seguida a dona Maria ia pôr a mesa sempre farta e que se alguém recusasse provar algo que ela aconselhasse seria logo convidado a ir dar uma volta ao alpendre porque não estava a fazer nada ali sentado na mesa. O menu era sempre de lamber os “beços”, nunca faltava o presunto curado na chaminé lá do monte, queijinhos de cabra e de ovelha, torresmos feitos lá em casa, as azeitonas adoçadas num dos potes guardados no escuro e um naco de toucinho com uns oito centímetros de altura, curado e salgado numa arca de madeira na cozinha e comido cru. Posso garantir-vos que não faz mal nenhum e é uma delicia.
O vinho feito também na adega do monte era qualquer coisa de divinal e que ninguém ousasse perguntar a graduação. Para quê saber um pormenor sem interesse perante um néctar dos deuses. O pão amassado pela dona Maria era de comer e chorar por mais.
Entusiasmei-me falando da dona Maria, e quase esqueci o objectivo principal desta crónica. Já agora e para completar este capítulo dizer que o marido da dona Maria é o “Manel das ovelhas”, Manuel Francisco, um seu criado, como ele próprio se apresenta, é ele o “moiral” das cerca de quinhentas ovelhas da herdade e aqui começa então a descrição que me foi feita pelo meu amigo Carlos:
- Estava o Manel com as ovelhas do outro lado da ribeira, a pastagem era farta e o gado já estava mais para o descanso, bem guardado pelos dois rafeiros alentejanos,
aproveitando a sombra do sobreiro porque o sol já começava a “acalar” forte.
O equipamento era sempre o mesmo, uma balsa (c) com uma bucha de pão, um naco de toucinho ou de linguiça, uma pinga de vinho. Em dias com as manhãs mais frias levava os safões (d) a pelica (e),o cajado e a espingarda, podia aparecer uma perdiz ou quem sabe uma lebre e a ceia estava garantida.
Naquele dia no silêncio da manhã já avançada, ouviu-se um tiro e a alguns metros do local onde se encontrava o bom do Manel, caíram mortos dois trigueirões (f) nem se levantou do local onde estava, encostado ao sobreiro. Poucos minutos depois chegaram junto dele dois indivíduos que se identificaram como guardas da natureza e trava-se o seguinte diálogo:
- Então o senhor matou os dois trigueirões? Perguntaram!!
- Eu não matei os passarinhos!...
- Insistência de que matou
- Reafirmação com voz calma e pausada: - Eu nã matei os passarinhos.
Estava a discussão no auge quando, chamada pelos tais “verdes” apareceu uma patrulha da GNR.
Conversam com os ditos fiscais e finalmente dirigem-se ao Ti Manel.
- Bom dia Sr. Manuel!
- Diaaaa…
- Então conte lá o que se passou!
- Nã se passou nada! Esses gajos é que apareceram aqui a dizer que eu tinha matado uns trigueirões e eu nã matei passarinhos nenhuns.
Matou, não matei, matou não matei e por aí vai.
O cabo Matias já à beira da reforma, coçava a cabeça e não sabia o que fazer.
Até que o cabo, como se tivesse encontrado a chave do problema diz com alguma euforia:
- Ah! Mas aqui este senhor e apontava um dos “verdes”, diz que o senhor Manuel o ameaçou que lhe dava um tiro!
- Disse que lhe dava um tiro e se ele não desaparecer daqui depressa, dou-lhe mesmo!
O cabo queria resolver rapidamente o problema e cada vez a coisa se complicava
Mais.
- Mas porquê? Porquê essa ameaça tão grave?
Oh, senhor cabo, não é que esse malandro teve o descaramento de me desafiar, para ir com ele para trás daquela moita fazer porcarias dessas que os “homonãoseioquê” fazem, ele tá “pensando qa gente aqui é o quê” maricas?
Tudo piorou, os “verdes” ficaram embaçados, o cabo já não tinha mais cabeça para coçar, o outro guarda, jovem com poucos meses de serviço, não conseguia conter o riso, o ti Manel, calmo como sempre continuava na mesma posição, encostado ao cajado.
O cabo à beira de uma crise de nervos ainda perguntou:
- Então e o outro colega dele ouviu ele fazer-lhe essa proposta?
- Nã senhora ele disse isso, quando o outro foi ao carro deles para chamar vocês.
Porque maioral não anda com B. I. o ti Manel foi identificado por conhecimento e que depois alguém passaria no monte para o identificar formalmente, os verdes saíram de fininho e fiquei sem saber quem ficou com os trigueirões, porque o resto ficou por isto mesmo.
O ti Manel continua na velha calma e cumprindo a rotina de todos os dias, sem ser mais incomodado.

Para quem não conhecer os termos aí vai algumas definições.
a) - Quarta – recipiente de barro em forma de cântaro
b) – Cucharro – objecto em forma de concha usado para beber líquidos
c) – Balsa – Sacola feita em palhinha para transportar o farnel ao ombro, a alsa era um baraço de fio de sisal.
d) – Safões – perneiras só da parte da frente feitas em pele de ovelha
e) - Pelica – tipo de casaco sem mangas e que vai até ao meio da perna, também em pele de ovelha.
f) – Aves que existiam por todo o Alentejo e que hoje estão em extinção, encontram-se só em determinadas regiões e estão protegidas.
g) – Moiral – alentejanês de maioral

António Viegas Palmeiro

A REALIDADE E O SONHO

É sábado, dia de movimento, muito movimento. Julia se prepara, passa a sua maquiagem, arruma o seu cabelo, respira fundo e olha o local calmo que vai lotar em alguns minutos. Já tem fila lá fora, estão esperando o melhor bar-restaurante-dancing da cidade abrir, com música ao vivo; hoje a banda vai tocar anos 60, mas as pessoas mais jovens vêm também.

Por enquanto a crise ainda aqui não entrou

Finalmente, 19 horas, as portas são abertas, as reservas de aniversário já chegaram, as pessoas alegres e animadas escutam a banda de jazz, outras até dançam, enquanto esperam a atração principal, que só começaria a tocar à meia noite.

Julia passa pelas pessoas de todos os tipos, porém ninguém repara nela, ninguém nota sua presença. Julia adorava aquele lugar, ela se sentia bem vendo as pessoas felizes, rindo, dançando ao som da música, e sim, a música, ela a adorava acima de tudo! Ela amava ver os casais apaixonados jantando juntos, alegres, as moças rindo e dançando, algumas pessoas se arrumavam bastante, e Julia ficava admirada!

Toda vez que Julia ia para a cozinha, ficava se imaginando linda, como algumas moças que estavam jantando no bar, com um namorado que a amasse e a levasse a lugares como o que ela trabalhava, para jantarem ao som de boa música ao vivo. Eles iriam dançar e se divertirem juntos…

A imaginação de Julia é interrompida, o prato da mesa 7 está pronto, e lá vai ela, levar o jantar de um grupo de pessoas alegres. Ela está sorrindo quando entrega oprato, mas quase ninguém repara nela. Ela não se importa, e o serviço nunca para. Ela tem outras mesas para servir e outros pedidos para serem entregues. Eassim vai a noite, a banda da meia noite toca os clássicos, todos dançam, até Julia dança um pouquinho também, e lá pelas 3 horas da manhã, é hora de fechar, todos foram embora, restam apenas as mesas, cadeiras e funcionários para arrumar o local.

Julia vai limpando as mesas enquanto sonha acordada, imaginando estar bem vestida se divertindo e dançando com um rapaz – vai sonhando e fazendo o serviço. Chegou a hora de voltar pra casa, agora ela só voltaria à noite, com bastante movimento e casa cheia, como Julia gostava. “Bom…”, pensava Julia, “hora de voltar para casa, voltar para a realidade”, e assim Julia sai, vai para a paragem de autocarro com suas roupas humildes e seus sapatos normais, sem maquiagem e sem cabelo perfeito, apenas uma mulher comum, porém com suas melhores qualidades: não desistir, nem parar de sonhar.

 
Um arranjo de Alfredo Mingau

MARAFADOS NO "O SEU CAFÉ"

Na Esplanada de O Seu Café


Dois pombos comem na mão de uma pessoa e diz um para o outro:
- Já viste que nós até parecemos politicos...

- Por que dizes isso?

- Repara bem, mendigamos as migalhas às pessoas e depois, lá do alto, cagamos-lhes em cima!...

Mauricio enviou
Rogério Colocou