sexta-feira, 10 de junho de 2011


À CONVERSA COM
MAURÍCIO DOMNGUES (III)

Por João Brito Sousa


Vultos da cultura ‘

MS – Em primeiro lugar, Luís de Camões. É pouco o que se sabe de Luís Vaz de Camões, e esse pouco é, ainda assim e na maioria dos casos, duvidoso. Terá nascido em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves), mas isto não é certo. Quem defende esta tese atribui-lhe como pai Simão Vaz de Camões e como mãe Anna de Sá e Macedo. Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões, e por via materna, seria aparentado com o navegador Vasco da Gama.
Viveu algum tempo em Coimbra onde terá frequentado aulas de Humanidades, talvez no Mosteiro de Santa Cruz, já que aí tinha um tio padre. No entanto, embora a existência desse tio, D. Bento de Camões, esteja documentada, não há qualquer registo da passagem do poeta por Coimbra. Em algum lado, afirmam os estudiosos da sua vida, terá adquirido a grande bagagem cultural que nas suas obras demonstra possuir.

Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria Infanta D. Maria, irmã do Rei D. Manuel I. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma rixa, parte para a Índia, e este é um dos poucos factos da sua vida que os documentos corroboram. Fixou-se na cidade de Goa onde terá escrito grande parte da sua obra
Regressou a Portugal, mas pelo caminho naufragou na costa de Moçambique e foi forçado, por falta de meios para prosseguir a viagem, a ficar aí. Foi em Moçambique que seu amigo Diogo do Couto o encontrou, encontro que relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava então "tão pobre que vivia de amigos", ou seja, vivia do que os amigos podiam dar-lhe. Foi Diogo do Couto quem lhe pagou a viagem até Lisboa, onde Camões finalmente aportou em 1569

Pobre e doente, conseguiu publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastados à pátria, o Rei concede-lhe uma modesta pensão, mas mesmo essa será sempre paga tarde a más horas e não salva o poeta da extrema pobreza.
Quanto à sua obra lírica, o volume das suas "Rimas" ter-lhe-á sido roubado. Assim, a obra lírica de Camões foi publicada postumamente, não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta. Há diferentes edições de "líricas" camonianas e não há completa certeza quanto à autoria de algumas das peças líricas.
Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho de 1580 e foi sepultado a expensas de um amigo. O seu túmulo, que teria sido na cerca do Convento de Sant'Ana, em Lisboa, perdeu-se com o terramoto de 1755, pelo que se ignora o paradeiro dos restos mortais do poeta, que não está sepultado em nenhum dos dois túmulos oficiais que hoje lhe são dedicados – um no Mosteiro dos Jerónimos e outro no Panteão Nacional. É considerado o maior poeta português, situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos paradoxos, prenunciam já o Barroco que se aproximava

jbritosousa@sapo.pt

3 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Olá João!
Pelo que tenho lido, de facto está correcto o que está escrito.
Segundo o Historiador Vitor Aguiar da Silva, o terramoto de 1755 arrazou por completo a Igreja de Sant'Ana e tudo em seu redor,onde se encontrava sepultado o poeta Camões. E que em 1880 as ossadas encontradas foram transladadas e depositadas numa tumba do Mosteiro dos Gerónimos mas, com toda a probabilidade, de outra pessoa, porque,não era só o poeta que lá estava sepultado.
Roger

Jose Elias Moreno disse...

Oi João:
Hoje celebrei o dia de Camões e das comunidades portuguesas, de acordo com as avançadas directivas do hipotético e supostamente futuro governo de Portugal-Versão 2011:TRABALHAR MAIS INCLUINDO 2 SEMANAS NO MÊS DE AGOSTO(o preferido pelos portugueses para gozar as férias maiores),DESCONTAR MAIS,COMER MENOS(sugerem-nos refeições a 1 Euro),PAGAR MAIS e NÂO BUFAR.
E fi-lo (mal sabia eu), também de acordo com os avisados conselhos do nosso venerável Presidente da Républica, no seu discurso de celebração do nosso DIA MAIOR: APOSTANDO NA AGRICULTURA.
E assim sendo, às oito da manhã já este teu amigo estava no campo a tratar da rega, e a fumigar as videiras, para que os cachos não definhem.
Agora que tu me dizes que o nosso Camões passou a vida a viver de amigos, fico nesta dúvida:NÃO TERIA SIDO MELHOR eu ter orientado a minha vida de forma a poder ter estado hoje, antes sentado naquela assembleia de Castelo Branco.
Erros meus...

Grande abraço.

J.E.Moreno

Anónimo disse...

João, lembras-te deste comentario que puz no blog do dr Vilhena Mesquita sobre o mesmo tema?

Anónimo disse...
Caro Dr. Mesquita
Sendo eu um apaixonado da vida de Camões ao ponto de me ter deslocado a Macau com o intuito de visitar a célebre e propalada gruta onde se refugiou ,da gruta nada vi que me merecesse credibilidade ou muito foi alterado desde que o homem por lá passou. Hoje resta o que mais me parece uma anta que uma gruta mas, passemos adiante . Desconhecia totalmente esta relação ou simulacro de tal. Para mim as musas inspiradoras de Camões eram D. Violante de Andrade da casa de Bragança e, já adiantado na idade a sua filha.
Confesso a minha ignorância e gostei de mais esta acha ou achega para compreender a inconstância amorosa do poeta.
É bem verdade que o post seria dar mais a conhecer Francisca de Aragão que o poeta ele mesmo.
Obrigado e continuo a seguir como posso a sua meritória obra de dar a conhecer o Algarve e os Algarvios.
Não se canse e um abraço
Diogo

10 de Março de 2010 16:15
José Carlos Vilhena Mesquita disse...
Prezado Diogo
Muitíssimo obrigado pelo seu comentário, que é bem rico de informação. Quanto à lendária gruta de Camões na verdade aquilo nunca passou de um embuste, porque o que lá está é, como diz, uma espécie de dolmen, ali erguido para simbolizar a suposta gruta onde o poeta se terá refugiado. Em todo o caso, constitui um ponto de visita turístico para o mundo lusíada, que falho cada vez mais de poder de compra, tem-se deslocado para outros pontos turísticos do globo, e cada vez menos para a mítica e deslumbrante Goa. E é pena pois ainda ali subsiste, sabe Deus com que dificuldades de sobrevivência cultura, uma cada vez mais pequena comunidade católica de origem portuguesa, ávida de falar na língua de Camões e de trocar conhecimentos com os turistas nacionais ou dos chamados PALOPs. Alguns deles vieram, felizmente, há pouco tempo visitar Lisboa a expensas da benemérita Gulbenkian, por causa daquela campanha das Maravilhas de Portugal.
Tem toda a razão quanto à inconstância dos amores de Camões. E, em boa verdade, esta Francisca de Aragão não chegou sequer a ser uma dos seus amores, mas tão somente uma jovem adolescente de olhos bonitos e descomplexada que o terá desafiado para um breve exercício poética. Não houve obviamente qualquer tipo de paixão entre eles, mas eu para dourar o episódio achei que seria interessante considerá-la como uma das possíveis musas inspiradoras da sua obra. O que mais me interessou foi, como muito bem diz, chamar a atenção para a existência de uma algarvia que marcou forte presença na corte e que chegou inclusivamente a casar-se com o poderosíssimo embaixador espanhol, sem dúvida alguma a primeira figura na corte portuguesa, dada a ocupação e domínio espanhol a partir de 1580.
Quanto ao exílio de Camões na ribeira de Boina, junto a Portimão, esse episódio está ainda por contar. Espero um dia poder vir a ter tempo para publicar a traiçoeira trama que o levou desterrado para o Algarve, que na época era quase o mesmo que o mandar para o fim do mundo, ou para a terra dos mortos-vivos.
Volte sempre ao convívio dos meus blogues.
Um abraço do Vilhena Mesquita
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Um abraço meu velho.
O tema Camões é infindável e todos gostamos.
Venha mais.

Diogo