domingo, 20 de abril de 2008

BIFE, POETA E AMIGO


POEMA
de JAIME REIS

Somos uns amigos especiais. Nunca nos vimos mas temos palheta para dar e vender. E às vezes batemos um papo. No meu soneto Ó FARO meti o JAIME no poetaço e esse grande amigo dos costeletas, elegantemente e educadamente, escreveu este lindo poema e enviou-me.

Parabens ao JAIME REIS pela oportunidade e pela melodia do poema.

ENCONTROS

Quando numa manhã fria
Tu desceste à cidade,
Tinhas grande a expectativa,
Tinhas maior a saudade…
Confessa lá…
Que não faz mal,
O que querias encontrar,
Já não existe.
O que querias encontrar, acabou
Não, não fiques triste,
Porque o nosso tempo passou.
Vá lá, vá lá…
A doca à direita,
Ao desceres a avenida
Essa, ainda lá está.
É a vida.
E do nosso tempo? A malta?
Dessa nem sinal
Eu sei, sei que nos faz falta
Um ou outro e outro ainda
Para um encontro real.
Mas tudo parte, acaba e finda.

Embora longe, ausente,
Com esforço, tu resistes.
És persistente
Insistes.
Porque sou parte,
Te agradeci,
Naquele forte abraço
Quando te vi
Naquela manhã fria
Ali tão perto do mar
Com o ar a saber a sal
Cheirando a maresia.
Em Faro
Naquele encontro virtual.

Jaime Reis
Publicação de
João brito Sousa

UM BIFE E UM COSTOLETA


Estou em Faro,
instalado no Hotel Eva. São dez horas da manhã e estou pronto para sair. Saio e dirijo-me para a direita em direcção à doca. Alargo o horizonte e vejo ao fundo o Jardim Manuel Bivar, onde o Carlos Alberto Magalhães vendia jornais no quiosque do Pai Vieguinhas. E veio-me à lembrança quando lá iam o Verdelhão e o Justino bater papo com o Carlos Alberto. E o Seita, o fotógrafo à la minuta ainda lá estará?

Tudo isto me vem `a lembrança num minuto.

Sento-me num banco `a beira mar e escrevo estes versos.

Ó FARO

Cidade do meu tempo que diferente estás!
Dos tempos em que eu andava por aqui...
Para ti ser igual ao antigo ou não, tanto faz
Mas não a mim ...porque não foi isto que vivi.

Enquanto escrevo desvio o olhar e reparo
Num "tipo" que na minha direcção vem...
É um camarada que conheço bem de FARO
E que por ali andará a passear também...

Olho-o intensamente na esperança de ver
Uma personagem que permitisse estabelecer...
Um pouco de conversa nesta manhã fria!

E era ele o JAIME REIS um aluno do Liceu
Que adora a cidade de FARO tanto como eu
Que encontrei nesse frio mas simpático dia ...

Texto de
João Brito Sousa

CONVERSANDO COM O COSTELETA OLÍVIO CABRITA ADRIÃO (Mestre de oficinas)


Mestre Olívio


Sob a orientação do senhor Mestre Olívio, da Escola saíram grandes mecânicos e grandes torneiros mecânicos e nenhum deles esqueceu o nome do Mestre: OLÍVIO CABRITA ADRIÃO.









Estando eu em FARO, encontrei-o e convidei-o para um café que amavelmente aceitou, tendo saído dqui a conversa que reproduzimos a seguir.









UMA FRASE DO MESTRE que um seu aluno me disse que o Mestre dizia sempre. " nunca me deito dia nenhum sem saber mais do que sabia quando acordei"......


OUTRA FRASE DO MESTRE “Salvar um homem é apenas salvar um homem; salvar um rapaz é fazer uma tábua de multiplicação”

MESTRE OLÍVIO CABRITA ADRIÃO. ( entrevista elaborada e lida ao senhor Mestre Olívio, cuja autorização de publicação foi obtida via conversa telefónica de ontem às 17h e 20 m para o telefone nº 289 360 584 )



Foi nas frezadoras, nos engenhos de furar, nos limadores e tornos aqui apresentados via fotografia, que os alunos do Mestre deram os primeiros passos.













Nunca tive aulas com ele e conversámos apenas uma vez ou duas. Mas tinha boas referências dele por parte de colegas da Indústria. Estava sentado num banco de um jardim na cidade. Apresentei-me, fomos tomar um café e falámos durante umas duas horas. E deu nisto.

Há professores que nunca encararam bem que os alunos se lhe dirigissem tratando-os por Mestre. Como foi com o senhor?

Nunca tive esse problema. O meu trabalho era nas oficinas pelo que aceitei bem a designação. Sempre entendi que a relação com os alunos tinha que ser fraterna, dando-lhes tudo e recebendo deles o possível. Se me tratavam por Mestre, eu nunca entendi isso como menor consideração. Eu queria formar homens válidos que no futuro, com os conhecimentos adquiridos, pudessem contribuir para que na sociedade houvesse igualdade de oportunidades. Os alunos deveriam ser a minha imagem, que sempre pugnei por uma sociedade mais justa. Nesse sentido ser Mestre dos meus alunos, sobretudo ser reconhecido como tal, era gratificante.

O RENATO, seu aluno de Olhão disse-me que o senhor uma vez, ao ver um aluno da Escola arrancar uma flor, se lhe teria dirigido e lhe tinha puxado por um cabelo para o arrancar, coisa que o aluno não gostou. Lembra-se disso?

Não me lembro, mas admito que seja verdade, porque a minha forma de educar é através de exemplos. Jesus Cristo, que foi o Mestre dos Mestres educou com parábolas. E eu entendo que essa é a melhor forma de educar por uma razão simples. É que os jovens têm um sentido muito apurado do que é a injustiça. E se formos injustos com o educando, o processo educativo pode falhar. E nós educadores não podemos falhar, porque num certo sentido o País é o reflexo do nosso trabalho.

Os alunos de hoje são diferentes dos alunos do seu tempo?

São diferentes para melhor, creio eu. Não se esqueça que há cinquenta anos atrás os pais dos nossos alunos pouco sabiam ler e escrever. Hoje, qualquer puto tem aptência para dominar a informática e isso é um grande avanço. No aspecto do potencial, os alunos têm mais possibilidades. Mas terão que ser educados no sentido de ganhar hábitos de trabalho, porque sem trabalho ninguém vai a lado nenhum. E os alunos de hoje não querem trabalhar, querem facilidades. Um exemplo de facilidades é o uso da maquina de calcular na aula. O aluno sabe utilizar a ferramenta mas desconhece a razão científica desse saber, quer dizer, o aluno de hoje não sabe que existe uma operação de multiplicar de 4 x 4 = 16

E isso é mau?

É pior que mau, é péssimo. É o sabe sem saber.

A nível de comportamentos em sala, alguma vez teve problemas?

Nunca tive problema algum nesse domínio. O aluno era um amigo e eu transferia-lhe confiança pela via do conhecimento e da competência. Um professor assim raramente tem problemas na sala. O conflito surge quando o aluno encontra uma falha na actuação do professor. Porque o aluno espreita-a e espera encontrá-la. E se sim, era uma vez um professor.

Tem saudades do tempo em que leccionava?

Não tenho. Agora faço outras coisas que me dão igual prazer. A vida exige de nós uma adaptação a cada momento em que a temos de viver. É com o gostarmos muito de ter visto jogar o Eusébio. Mas ele já não joga; agora é Cristiano Ronaldo.

Tem visto os seus alunos?

Sim, ainda hoje encontrei o Santa Rita e trocámos um abraço de amigos. Há dias, em FARO, estive com o Zé Emiliano, o Víctor Venâncio, o Bernardo Estanco dos Santos e o Moreno. Outros, às vezes vejo-os por aí. E juntamo-nos aí num café na cavaqueira. É agradável e reparo que eles ainda têm simpatia por mim o que é sempre simpático.

Tem visto o blogue dos costeletas?

Não tenho visto mas vou ficar com o endereço para dar uma espreitadela. Mas já me falaram bem dele..

Quer deixar aqui alguma nota especial?

Queria deixar a todos aqueles que foram meus alunos, uma palavra de agradecimento, porque eles é que fizeram de mim um bom Mestre de Oficinas e de certa maneira também o homem que hoje sou. É que o aluno obriga-nos a dar o nosso melhor em prol da profissão e dos destinatários dela, que são precisamente os alunos. E os meus alunos nunca foram meus alunos mas sim os meus melhores amigos.

Lembra-se de algum aluno em especial?

Recordo-me de todos os bons alunos, porque esses nunca se esquecem. E tive muito orgulho em ser Mestre de Oficinas na Escola Industrial e Comercial de Faro.

E despedimo-nos com um até sempre e um muito obrigado senhor Mestre Olívio.

Texto de
João Brito Sousa

João Bica

Diogo Costa Sousa