domingo, 27 de abril de 2008

À CONVERSA COM UM AMIGO DOS COSTELETAS









O Prof.. DANIEL SÁ.

Daniel de Sá é um escritor açoriano,
de muito talento e de grande mérito literário. Reconhecido como um homem da cultura em toda a sua Ilha de S. Miguel, é muito solicitado para escrever sobre os mais variados assuntos da sua terra. Reformado da sua principal actividade de professor é agora um operário da escrita.

Tem vários livros publicados, quer na ficção (romance, conto e novela), quer no ensaio ("A Criação do Tempo, do Bem e do Mal") e no teatro ("Bartolomeu"). Na ficção, destaque para "Ilha Grande Fechada" (a emigração vista por quem ainda não partiu, o que pode resumir-se numa frase de João, a personagem principal: "Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela."); "E Deus Teve Medo de Ser Homem" (uma história que faz um paralelo entre a vida de Cristo e o extermínio dos Judeus em Auschwitz); "As Duas Cruzes do Império" (romance sobre a Inquisição, em que uma das personagens é o Padre António Vieira); "A Terra Permitida" (uma aldeia rural micaelense nas primeiras décadas do século XX). Como crónicas históricas, e acerca dos primeiros tempos da vida nos Açores, escreveu "Crónica do Despovoamento das Ilhas".
Os livros referidos, excepto "Bartolomeu", foram editados pela Salamandra.
Na minha última estadia nos Açores, tomei com o escritor um café numa das esplanadas da Maia.
E abordamos vários temas. Foi assim.

Prof. Daniel Sá, ser professor é mais rico do que ser escritor ?

Não, eu entendo que o escritor chega mais longe, tem mais terreno para cavalgar, ou seja, tem um mundo inteiro à sua espera para o ouvir. Isto se o escritor tiver matéria para dizer, porque, há escritores que já não dizem nada e continuam a insistir a ser chamados de escritores. O escritor tem, derivado desse seu desempenho, uma obrigação social de grande responsabilidade, que é levar até aos leitores, os valores maiores com que a sociedade se deve reger. O escritor é também um educador. Só que tem mais espaço. O professor está limitado à sala de aula. E um trabalho cujo fruto é diferido.

Nasce-se escritor ou fazemo-nos escritor.?

Nascemos escritores. Não é escritor quem quer. O escritor, entre outras coisas, é aquele que sente necessidade de escrever. Eu, por exemplo, escrevo todos os dias e, no máximo, uma página. Não sei se as pessoas comuns, entenderão isto, de escrever uma página. É que pode parecer pouco mas às vezes é muito e não se consegue. Escrever e um acto de sofrimento, sabe-se o que se quer escrever mas temos dificuldades em encontrar a palavra exacta. Há palavras que têm o valor de cem. E essa palavra certa o escritor deve possui-la no seu vocabulário Por outro lado o escritor tem a obrigação de se tornar melhor ser humano a si próprio e aos seus leitores também.

O que espera da vida?

Tranquilidade apenas. A vida, tem as suas exigências, às quais procurei satisfazer sempre, através de atitudes coerentes e de trabalho sério. No meu desempenho de professor trabalhei para os meus alunos; como escritor trabalho para os meus leitores. Nunca uma frase mal escrita sai num livro meu. Aí sou exigente e escrupuloso como Garrett ou Lobo Antunes. Portanto, como pautei toda a minha vida com atitudes de honra, não tenho nada a temer. Estou tranquilo e da vida espero continuação da tranquilidade .

Tem medo da morte?

A morte é um acidente que um dia virá. Morrer é o contrario de viver. Com vida, escrevo, vou ao café tomo as refeições e faço isto e mais aquilo. Sem vida não faço nada disto. É só.... . Tudo acaba.

Fale-me de expressões de arte que goste muito.

Gosto da boa literatura entre os quais os clássicos portugueses, gosto de cinema, porque aprecio muito a arte de representar e gosto de futebol.

E despedimo-nos.

Texto de
João Brito Sousa