segunda-feira, 15 de agosto de 2022

A PROPÓSITO DE «OS NOSSOS COMERES»

 A PROPÓSITO DE 

         «OS NOSSOS COMERES»


        Um recente artigo, lido como sempre com o maior interesse, da autoria da minha estimada prima Dra. Júlia Guerreiro Neves, juntamente com seu esposo, o Eng. Francisco Neves, duas referências da «inteligência sambrazense» e dois ilustres e dedicados colaboradores de «Notícias de São Brás», reafirmou-me a saudosa lembrança de três figuras maiores do meu universo afectivo.

       São eles os avós maternos daquela ilustre professora, os meus tios - avós Manuel Nunes e Custódia Nunes (a sempre lembrada «tia Custoidinha» e a minha avó Rosa, nascida nos Machados e falecida em Faro.

         Figuras que têm o seu «quê» de bíblico e de histórico, gente dos tempos idos, que pelos valores que cultivaram são de sempre.

          A «tia Custoidinha» era a hospitalidade generosa que nos acolhia sempre com o seu sorriso e bondade inatas, juntamente com o «tio Manel Nunes», um casal ímpar sempre apoiados na sua filha «Inézinha», saudosa mãe do sempre lembrado Marcílio, um primo bom como dos melhores que na vida hemos tido. Era como uma Santa Marta, irmã de Lázaro e acolhedora de Jesus Cristo nas evangélicas caminhadas pela Terra Santa.

          Como me lembro daqueles saborosos pequenos almoços que, quando nos levantávamos a «tia Custoidinha» nos tinha preparado e servido na ampla e lajeada cozinha, com a enorme chaminé ao fundo e o fogo sempre aceso. Vinha o café fumegante e cheiroso da chocolateira, acompanhado pelo rico leite de cabra ou de ovelha, minutos antes tirado do animal, que pastava por ali perto nos terrenos arbóreos que circundavam a eira. Esta era como que um miradouro para a EN2, com destaque visual para as casas dos «primos» Carrascalão e Palaré.

             E o pão sempre agradável e produtos das cozeduras que na grande fornalha aconteciam.

          E que dizer daquelas refrescantes e saborosas saladas servidas, não raro, em saladeiras comuns, exalando os convidativos cheiros a ervas da Ribeira, com tomates, cebolas, pimentos e batata cozida, de excelência?  Acompanhava os peixes (mucharras, geados «de tripa clara», salmonetinhos, alcabrozes, etc.) sem falar dos mariscos abertos (berbigões, carcanholas, lingueirões e outros).

           Sempre a mão da «tia Custoidinha» presente no preparar dos manjares, bem como dos afectos que nos eram por ela proporcionados.

            Que trio de excelsas figuras estas recordadas pela prima «Júlita», bem dignas da poética tão sambrazense de Bernardo de Passos!


                                                                                     JOÃO LEAL  


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