terça-feira, 20 de setembro de 2022

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL



        O «7 DE OUTUBRO»


       Não tem o significado de uma efeméride histórica ou mundana notáveis, nem um sentido nacional ou universal, dignos de registo. Mas faz parte importante do nosso universo de vida e de lembrança.

       Sete de Outubro, era naqueles distantes tempos, o ingresso pela vez primeira, como que o início de uma recruta no mundo do aprender, na escola primária, então chamada «régia» (por haver sido criada no período quase final do regime monárquico.

          Uma ansiedade na espera de tal data, um estádio de interrogações e o almejar de um mundo novo, de diversos tons e referências irreverentes. Fizemo-lo em 7 de Outubro de 1944 (decorria então esse sangrento conflito, de que os homens parece terem perdido o sentido trágico, que foi a II Grande Guerra Mundial), ufano da bata branca que vestíamos como uma bandeira de paz num mundo novo.

             Fomos para o nobre edifício da Rua Serpa Pinto, no vulgo a Rua da Cadeia, onde antes funcionara a Escola Normal (depois Magistério Primário), que após a extinção da escola pelos novos estabelecimentos de São Luís (Rua João de Deus) e do Carmo (Largo da Feira), se transformou na sede da «Protecção ás Raparigas) e onde hoje é um qualificado estabelecimento hoteleiro. Tina uma porta de saída para a Rua Baptista Pinto, que era confinante com o recreio.

              Tivemos como professora uma distinta e dedicada mestra, a D. Maria Carrilho, três palmos de gente mas um gigante na difícil e nobre arte de ensinar. Foi-o até á 4ª classe, com um empenho e uma dedicação invulgares, que chegava ao ponto de levar, na parte da tarde, a turma para sua casa, situada junto ao actual Palácio da Justiça e aí prosseguir a instrução matinal. Fazia parte de uma geração de professores, a cuja memória prestamos a mais saudosa homenagem e de que, entre outros, agrupava os Professores «Sãobrazinhos - dois irmãos benquistos) e Ferradeira (então já com uma só perna), as Professoras D. Júlia Moreno, D. Felicidade, D. Francisca Guerreiro, D. Júlia Pessanha e outros «mestres» cujos nomes já não nos ocorre. A «contínua», como era designada a auxiliar educativa dos nossos dias, era a paciente Sra. Marta.

              Ali na Escola da Rua Serpa Pinto fizemos grandes amizades, algumas das quais foram esfriando ou desaparecendo ao longo da longeva vida de mais de oito décadas.

              Recordar o «7 de Outubro» é um passeio saudoso ao longo de muitos anos, quando foram os nossos passos primeiros na lembrada «escola régia».


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