AS «ALCUNHAS», UM ADN DE OLHÃO
Cada terra algarvia, supomos que um mesmo acontece com todas as terras portuguesas, tem a sua característica própria, que define a figura das suas gentes e é essa a imagem que das mesmas é exportada. Monte Gordo e Alvor, por exemplo, são as «capitais» ou terras maiores das pragas. Em Olhão as «alcunhas» são uma permanência, não raro com direito hereditário.
Uma destas noites encontrámos no «blogue» do nosso amigo alentejano Joaquim dos Santos Charata, um antigo, tal como tantos olhanenses, «costeleta» (ex - aluno ou professor da Escola Tomás Cabreira, em Faro, terra onde vive e que o seja por muitos anos, uma curiosa recolha efectuada pela, ao que cremos, olhanense, D. Esperança Afonso sobre as «alcunhas de Olhão». Não resistimos à tentação, pelo que muito representa de muito etnográfico e social, de o transcrever:
«Parados no Bate-Estacas,
O melhor sítio de Olhão,
Vamos vê-los a passar
E prontos para recordar
As Alcunhas. Aqui estão:
Vem o António da Tia
Juntar-se ao Xico da Larga
Começam os dois a rir.
Pelo Luís Planeta
Passa o Coxo da Muleta
Que pára logo a seguir.
Olham prá porta da Praça
Acenam ao João da Boa
Que vem atrás da Vareta.
Zangada c,o Batatinha
Ouve-se a voa da Pavoa,
A mandar vir com o Maleta.
Eis que chega o Zé da Dízima
Vem procurar o Laguinhas
Mas vê o Luís Abelha
A falar com o Da Velha,
E pede lume ao Abinhas.
O Domingos da Pousada
Desvia-se do Zé Má Vento
E passa rente ao Bagó
Ao Ratinho e ao Cocó,
E segue pra barlavento.
Manelinho do Chiado
Convencido, vai a todas:
Larga a Boneca de Palha
Troca olhares com a Escaralha
Esquecido da Bárbara à Rodas.
Tacanito de Senhora
Passa todo arranjadinho,
Já viu o Picha de Lata,
O João da Harpa e o Chata
Falando com o Calhinho
Vira a esquina um dos MáMaus
Faz-se à vida com afã
Junto à bica está o Carulho
O Cata Conas e o Bagulho,
30 Porras e Sandokan
Vejo o Zézinho Maluco,
O Zé Bufa e o Maninu
Da arrelampa do cagador
Vem a Mamas a Vapor
E a Anica do Penico
Também vejo o Cú à Banda
Junto à Mula do Inferno
A passar pelo Cangola
Mais a Maria Espanhola
Com um casaco de Inverno.
Também a Anica Batata
E a Maria dos Flatos
Não faltam na confusão
Tacanito de Ouro, Fanaia,
Fandanguinho e Garraia
E o Cabeça de Melão.
Que salgalhada, senhores
Misturei Novo e Antigo
Na minha imaginação.
Sei que concordam comigo:
Qualquer um tem um amigo
Com uma Alcunha de Olhão.»
JOÃO LEAL
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