domingo, 19 de setembro de 2021

CRÓNICAS DO MEU VIVER OLHANENSE

 

                         AS «ALCUNHAS», UM ADN DE OLHÃO


                          Cada terra algarvia, supomos que um mesmo acontece com todas as terras portuguesas, tem a sua característica própria, que define a figura das suas gentes e é essa a imagem que das mesmas é exportada. Monte Gordo e Alvor, por exemplo, são as «capitais» ou terras maiores das pragas. Em Olhão as «alcunhas» são uma permanência, não raro com direito hereditário.

                         Uma destas noites encontrámos no «blogue» do nosso amigo alentejano Joaquim dos Santos Charata, um antigo, tal como tantos olhanenses, «costeleta» (ex - aluno ou professor da Escola Tomás Cabreira, em Faro, terra onde vive e que o seja por muitos anos, uma curiosa recolha efectuada pela, ao que cremos, olhanense, D. Esperança Afonso sobre as «alcunhas de Olhão». Não resistimos à tentação, pelo que muito representa de muito etnográfico e social, de o transcrever:

                            «Parados no Bate-Estacas,

O melhor sítio de Olhão,

Vamos vê-los a passar

E prontos para recordar

As Alcunhas. Aqui estão:


Vem o António da Tia

Juntar-se ao Xico da Larga

Começam os dois a rir.

Pelo Luís Planeta

Passa o Coxo da Muleta

Que pára logo a seguir.

Olham prá porta da Praça

Acenam ao João da Boa

Que vem atrás da Vareta.

Zangada c,o Batatinha

Ouve-se a voa da Pavoa,

A mandar vir com o Maleta.


Eis que chega o Zé da Dízima

Vem procurar o Laguinhas

Mas vê o Luís Abelha

A falar com o Da Velha,

E pede lume ao Abinhas.


O Domingos da Pousada

Desvia-se do Zé Má Vento

E passa rente ao Bagó

Ao Ratinho e ao Cocó,

E segue pra barlavento.


Manelinho do Chiado

Convencido, vai a todas:

Larga a Boneca de Palha

Troca olhares com a Escaralha

Esquecido da Bárbara à Rodas.


Tacanito de Senhora

Passa todo arranjadinho,

Já viu o Picha de Lata,

O João da Harpa e o Chata

Falando com o Calhinho


Vira a esquina um dos MáMaus

Faz-se à vida com afã

Junto à bica está o Carulho

O Cata Conas e o Bagulho,

30 Porras e Sandokan


Vejo o Zézinho Maluco,

O Zé Bufa e o Maninu

Da arrelampa do cagador

Vem a Mamas a Vapor

E a Anica do Penico


Também vejo o Cú à Banda

Junto à Mula do Inferno

A passar pelo Cangola

Mais a Maria Espanhola

Com um casaco de Inverno.


Também a Anica Batata

E a Maria dos Flatos

Não faltam na confusão

Tacanito de Ouro, Fanaia,

Fandanguinho e Garraia

E o Cabeça de Melão.


Que salgalhada, senhores

Misturei Novo e Antigo

Na minha imaginação.

Sei que concordam comigo:

Qualquer um tem um amigo

Com uma Alcunha de Olhão.»


                                                      JOÃO LEAL



Sem comentários: