domingo, 17 de novembro de 2024

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL

OS FORNOS QUE FARO TEVE

  Há medida que os anos avançam surgem com maior nitidez e frequência as lembranças da infância e a da adolescência. Desta feita foi uma excursão saudosa pelos fornos existentes na nossa querida cidade - 

- Mãe, nos anos quarenta e cinquenta do século passado, quando a II Guerra Mundial ainda devastava a Europa ou se avançava para sua reconstrução.  Menino e moço lá ia para a bicha na demanda do «sagrado alimento», que muitas vezes quando chegava a nossa vez de atendimento, já se havia esgotado. O pão era então pesado e 1 kgs. era mesmo um 1 klg. vindo o «contrapeso» quando a balança não o acusava. O dito bocado a mais, mesma «às secas» raramente chegava a casa, sendo consumido pelo caminho, Fornos que existiam em Faro?

 A memória arrasta-me para o mais antigo e icónico, o do «Treme - treme». ali na rua Horta Machado, por detrás do Teatro Lethes de há muito desaparecido. Depois vinha pela imponência das sua instalações, ainda hoje bem visíveis e sempre aguardando a concretização da grande obra que o enorme espaço bem faz merecer, a CIA (Companhia Industrial do Algarve), com vários postos de distribuição, espalhados pela cidade. Tinha linha ferroviária própria, um ramal na Rua da Moagem , pra descarga do precioso cereal que vinha de outras paragens (o «Alentejo, dizia-se, era o celeiro de Portugal»). A sêmola, vinda «pela porta do cavalo», pela benemerência caritativa e amiga de um funcionário ali empregado foi o meu pequeno almoço delicioso.

A «Padaria Lisbonense», na Rua do Alportel, decano dos fornos de Faro ainda continua a laborar e com o diferente horário da meia - noite às 13 horas, para satisfação dos «amantes da noite» com os seus «salgadinhos» e os sempre apetecíveis bolos. Ali bem perto ficava o chamado «Forno de São Pedro», que não cozia pão mas era de grande prestabilidade para quem fazia a «fornada em casa», para os bolos que então se faziam como caseiros, para torrar os figos, etc.

Lembra-nos ainda esta memória, na Rua Serpa Pinto, o «forno», dito do «Luís do Forno» e na Rua do Forno, a que liga a Rua Gil Eanes (ou da Parreira) com o Largo da Madalena, um outro estabelecimento similar, donde nos sobressai na lembrança o «Lita», que após uma laboriosa noite de intenso trabalho ia na manhã seguinte entregar o pão na casa dos fregueses para ganhar mais uns «trocados».

Dois fornos na área citadina me ocorrem ainda. Um era na Rua Vasco da Gama, no local onde depois foi construído um moderno imóvel, onde funcionaram as Delegações do «Diário de Notícias» e da Secretaria de Estado da Cultura e é actualmente um restaurante e o outro situava-se na Rua Alexandre Herculano (Imediações do Jardim da Alagoa). Muitos outros destes estabelecimentos existiram em Faro. Estes  os «fornos que Faro houve» e de que me recordo...

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