terça-feira, 30 de junho de 2020

CRÓNICA DE FARO - JOÃO LEAL



        «TALVEZ, O MELHOR DE TODOS NÓS!»
                    Franco, honesto, humilde e generoso, foi durante toda a vida um árduo e destemido lutador, que alcançou os seus objectivos sem nunca calcar alguém, antes pelo contrário, tendo um percurso existencial sempre de mão estendida a quem precisava do seu apoio solidário e do seu amor fraterno. Não obstante as dificuldades múltiplas que teve de, desde o berço, enfrentar e prosseguidos anos em fora, quer de ordem física, como de ordem familiar e económica, ergueu na sua conhecida humildade a cabeça e encarou, com uma rara, singular e invulgar coragem quantos desafios lhe foram colocados.
                  O Doutor Honorato Pisco Ricardo, mais do que o doutor, o «Professor Honorato» como todos afectuosamente o tratavam e ficou para a posteridade no coração de quantos com ele tiveram a sorte de conviver, nasceu na então freguesia rural da Conceição de Faro (22 de Dezembro de 1935), filho de João Ricardo, de quem bem novo ficou órfão e de Maria José Pisco, uma verdadeira lutadora disposta a todos os sacrifícios «pelo seu menino». Concluído a instrução primária veio para Faro, prosseguir estudos na extinta Escola Técnica Elementar de Serpa Pinto, fazendo mais que o percurso de quilómetros, primeiro numa bicicleta a pedal, em que muitas vezes utilizava as mãos para ajudar a única perna válida e, mais tarde numa «motorizada» que manobrava com excepcional destreza. Concluído na Escola Industrial e Comercial de Tomás Cabreira o Curso Geral de Comércio e as Secções Preparatórias para os Institutos Comerciais e ingressou na Escola do Magistério Primário de Faro onde obteve o diploma de Professor Primário. Anos volvidos, quando já se encontrava leccionando, licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. 
                Foi homem do ensino, da poesia, do jornalismo, da vida comunitária e da plena dedicação aos outros e pela sua elevação pessoal e cívica. Como Professor ecerceu de modo maior na Fuseta, quer na Escola Masculina nº 1, como no Posto da Telescola, formando equipa com o saudoso Pároco Padre Américo Gomes dos Santos e leccionando ainda nas Escolas João Lúcio, Alberto Iria e José Carlos da Maia, em Olhão e no Colégio Algarve, em Faro. Como jornalista colaborou, entre outros, no «Diário de Notícias», «O Olhanense», «Brisas do Sul» e «Notícias de São Brás». 
               Alguém o definiu como «uma respeitada figura da cultura fusetense». Na verdade, entre outras acções os seus onze anos à frente dos Jogos Florais da Fuseta, de várias décadas na organização das Festas de Nossa Senhora do Carmo, da presença nos corpos sociais do Clube Recreativo Fusetense, concretizam o operariado do homem da cultura. Casado com a Prof. D. Felisbela Tengarrinha Ricardo e pai da Dra. Isabel Ricardo esta «costeleta insigne» (aluno da Escola Tomás Cabreira), que faleceu no Hospital de Faro (8 de Abril de 2002) foi talvez, «o melhor de todos nós». Com um profundo sentido a quadra da autoria de outro «montanheiro da Conceição» e assumido «costeleta», o José Elias Moreno, um homem bom com um coração tamanho do mundo:
                              «Amigo, sempre dedicado, 
                               franco e leal... um senhor
                               por todos é recordado, 
                               como o Senhor Professor»!
            
                                                   JOÃO LEAL

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