sábado, 6 de junho de 2020

GENTE DA TOMÁS CABREIRA



   A DRA. MARIA ANTONIETA

   Jovem, por certo recém licenciada, narizinho arrebitado, compleição agradável e determinada a Dra. Maria Antonieta, que mais nenhum outro nome lhe conhecemos, foi nossa professora da disciplina de História Geral e Pátria do Curso Geral do Comércio (2º ano) , talvez no ano lectivo de 1952/53, já nas atuais instalações da nossa Escola.  Partilhava a sua residência numa espécie de «República de Jovens Professoras» quer da Escola como do Liceu, num 1º andar, ainda hoje com a mesma arquitectura, na Rua de Santo António, por cima da Farmácia do Montepio. Colocavam a rua a secar entre a qual peças de lingerie, no estendal na Travessa do Bouzela, o que era, naqueles tempos e hoje muito mais, perfeitamente usual. 
      Só que uns malandrecos, alguns dos quais já nos deixaram e cujos nomes não citarei, resolveram, numa daquelas divagações nocturnas roubar algumas das referidas peças (soutiens e cuecas).  No dia seguinte quando a Dra. Maria Antonieta se aprestava a entrar na sala de aulas, aquela situada frente à entrada da Sala das Alunas, deparou com o seu espólio íntimo pendurado no quadro. Um par de gritos de «Não», um esgar de terror e, perante o ar atónito do contínuo sr. Victor Tavares, o regresso acelerado à Sala dos Professores, então situada no primeiro andar.
         O caso motivou «escândalo» e valeu a sempre pacificadora e educativa decisão desse grande Mestre, que foi o Director da Escola, Dr. Fernando Moreira Ferreira. Uma delegação de alunos foi ao seu Gabinete apresentar desculpas à Dra. Maria Antonieta e levar-lhe um ramo de flores. Na festa escolar ao incidente foi-lhe dedicado um «dueto» cantado por uma aluna e um aluno, cuja letra era mais ou menos, talvez menos do que mais, que os anos já não recordam tudo era assim:
                «E agora para onde vai você?
                Para a História dos meus cuidados.
                Colega veja se cai nos tais Cruzados.
                Eu só vejo a guilhotina e a Maria Antonieta
                O resto para mim da História é uma treta...»

                                                                     JOÃO LEAL

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