Tendo desempenhado um lugar na Câmara Municipal de Faro, como responsável
pelos Cemitérios da sua responsabilidade e, travado laços de amizade e
cooperando com a maioria das Agências Funerárias do Algarve, assim como de
Norte a Sul do País, ao ler este artigo do meu Amigo com o qual partilhei
momentos de tristeza, e, considerando a sua publicação com algum interesse,
resolvi partilhar a mesma nesta página, para que os meus amigos, e colegas
Costeletas para tirarem as vossas ilações.
Florêncio Vargues
ONDE GUARDAR AS
CINZAS DOS DEFUNTOS?
Uma pessoa tem as cinzas dos seus
pais em casa. A última a falecer foi a mãe, há uma semana. Começou a ter
dúvidas se estava a fazer bem ou mal. Por isso, pediu conselho. Realmente, onde
conservar as cinzas dos entes queridos, para garantir a memória, respeito e
devoção que eles nos merecem?
Tanto na vida como na morte, a fé
cristã reconhece “a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da
pessoa da qual o corpo partilha a história”. O mesmo respeito é devido às
cinzas, que são “os restos mortais” daquela pessoa concreta, que vive
espiritualmente “na esperança de que ressuscitará para a glória” eterna. De
facto, a fé cristã afirma que a morte não é o fim de tudo, mas sim a
transformação da pessoa e da sua vida. Na ressurreição, pelo seu poder
omnipotente, Deus dá nova vida ao nosso ser: “o espírito separa-se do corpo,
mas na ressurreição Deus torna a dar vida incorruptível ao nosso corpo
transformado, reunindo-o, de novo, ao nosso espírito”.
A conservação das cinzas em casa
pode tornar mais difícil o luto, pois a pessoa está sempre a “tropeçar” nos
restos mortais dos entes queridos. Não consegue assim separar-se deles e da
memoria dolorosa da sua perda. Ora, nós sabemos que o crescimento e
amadurecimento da pessoa, desde o nascimento, faz-se pela separação física dos
pais, pela autonomia e independência, para que tenha a sua própria vida e uma
rede de relações e convivência diversificadas. A proximidade das cinzas pode
enredar a pessoa nessa memória dolorosa, ficando aprisionada nela, sem
conseguir viver livre e feliz. Ora, continuar a viver com satisfação e memória
grata dos antepassados, honra os defuntos, que continuam a querer o melhor para
os seus familiares e não lhes agrada ser para eles um entrave nesse sentido.
A conservação das cinzas em lugar
adequado é memória importante para a relação e comunhão com os defuntos. De
preferência, seja um lugar não privado mas da comunidade, onde melhor se pode
sentir a dor partilhada por outros e a solidariedade. Mais do que nas cinzas, é
em Deus e na comunidade cristã que encontramos espiritualmente vivos os nossos
defuntos. Por isso, relação com eles pode ser comunhão positiva, na diferente
condição em que se encontram relativamente a nós. A fé cristã considera que a
relação com os mortos se faz espiritualmente através da comunhão dos santos:
pela memória, a oração, especialmente na missa, e a visita ao lugar da sua
sepultura ou da conservação dos seus restos mortais. E isso é vivido na
comunidade e não simplesmente de modo privado. A memória e comunhão com os
defuntos ajuda a suportar e superar o luto, para transformar a perda em dom, em
entrega confiante, à semelhança do que fez Jesus na sua morte: “Pai, nas tuas
mãos entrego o meu espírito”.
Por todas estas razões, a Igreja
católica considera que “as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma,
num lugar sagrado, isto é, no cemitério”, não consentindo a sua conservação “em
casa”, nem que sejam “divididas entre os vários núcleos familiares” ou
dispersas “no ar, na terra ou na água, ou, ainda em qualquer outro lugar”.
Antes, “deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de
conservação das mesmas”.
As citações são da instrução
“Sobre a ressurreição com Cristo”, da Congregação para a Doutrina da Fé “a
propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas da cremação”
(15/8/2016).
Luís Camilo
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