domingo, 30 de maio de 2021

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL



                        A «CIDADE JARDIM»


               Acho-a sempre bela, não obstante mazelas e feridas, várias vezes referidas nestas colunas. Corolário, talvez, do muito amor até à exaustão que, filialmente lhe dedico. Mas é de sobremodo neste tempo - Maio, Junho e Julho, que mais formosa o idolatro e me reencontro no nosso namoro. Parece um jardim distribuído por espaços vários. Estes acontecem em quase o seu território urbano, desde a Atalaia, no extremo nascente à Ribeira, na parte poente. É como uma «cidade jardim» coberta por estas nuvens violáceas que os jacarandás a enfeitam. Imagino como uma noiva a recorrer a mil adereços para ficar mais linda aos olhos do seu amor. Poesia? Sim, porque em poesia nos oxigenamos com o fluido essencial ao viver.

                   Não se trata de uma árvore indígena, mas de «torna viagem», tal como acontece com os «néctares dos deuses» que iam e voltavam nas naus e embarcações para no contacto com o Mar Atlântico ganharem as excelências de qualidade.  Jacarandá é o nome de várias plantas da família das lignoniáceas e das leguminosas. Originária da América do Sul, de porte médio e de flores violáceas, segundo me elucida o Dicionário «priberana», chegou até nós, cogito e suponho, nesta Saga dos Descobrimentos, tal como tantos outros vegetais, entre os quais a popularizada «batata redonda» que ainda hoje, com um belíssimo azeite de Santa Catarina da Fonte do Bispo, acompanhou umas apetitosas sardinhas assadas, em estreia da nova safra.

                      Jardins de São Pedro, de Manuel Bivar, do Campo de Flores (Alameda) e da Lagoa, Largos do Carmo, de São Sebastião, de ao Pé da Cruz ou da Palmeira, Escola de São Luís, do Alto de Santo Amaro...eu sei lá! quanto difícil é elaborar um inventário roteiro desta bebedeira de cor e vida que, em cada ano e todos os anos, se apresenta como o «festival jacarandá».

                            Entendo que alguns não a desejem pela exuberância das flores que caem sobre as artérias citadinas ou os automóveis lá estacionados, que os jacarandás já lé estavam quando estes vieram. Mas são males compensados pelo espectáculo vegetal, gratuita e generosamente acontecido.

                               Neste partilhar com a vivência inebriante recordo-me sempre do meu «compadre Silvinha», nome afectuoso do jornalista farense Artur José Serrão e Silva, décadas a fio director do desaparecido semanário «O Algarve» quando em fins de tarde ou início de noites ao contemplar o florir dos jacarandás, «no cantinho de São Pedro» me atirava: «Compadre, ele há lá sítio mais lindo que este...».

                                Lembranças, saudades, viagens mentais evocativas, de um património farense, o florir dos jacarandás!


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