segunda-feira, 23 de agosto de 2021

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL



                 O SENHOR MEALHA


                 Como seu porte algo leonino era das mais populares figuras de Faro, nos anos quarenta e cinquenta da centúria ida, quando o «povão» ocorria à baixa citadina para se abastecer no demolido e decrépito Mercado, chamado de Praça, ali na hoje Rua Comandante Francisco Manuel. Aliás o nosso recordado de hoje aproveitava, com inteligência e estratégia, essa corrente matinal, para tratar do seu negócio. Que era outro, era, como ele dizia, de «saúde».

                   O «Senhor Mealha», que outro nome nunca lhe soubemos, era geralmente conhecido pelo «Banha de Cobra», face à sua função de «propagandista» de pomadas, ao que dizia feita daqueles répteis, bem como chás e tisanas, que «davam para tudo» e numa renovacionada como que «medicina natural».

                      Era meu vizinho, morava na típica Rua da Viola, paralela à minha casa na dita Rua da Carreira, a Infante D. Henrique, que vai do Largo da Madalena à «Estrada de Sagres». Era um rés-do-chão, como quase todas as edificações daquela artéria, limitada pelas Rua de São Pedro e Teófilo Braga, paredes meias com o que era uma referência comunitária, a «Venda do Careca», que tinha taberna, mercearia e quejandos.

                      O «Senhor Mealha» tinha uma furgoneta (Morris?) toda carroceirada em madeira, que a distinguia dos outros (relativamente poucos) veículos existentes no bairro. Fazia o seu local de exposição dos produtos (chás, unguentos, pomadas...), a par de mapas do corpo humano e de frascos vários com animais no interior - ténias, cobras, lacraus e outros, na zona do Jardim Manuel Bivar, que antecedia a «Praça, em cujo início pontificava o «Tio Bandarra». Era ali junto ao Monumento a João de Deus ou numa derivação lateral que o focado, com profunda imaginação e conversa apropriada elogiava a acção dos seus remédios para um vasto tipo de enfermidades (digestivas, ósseas, intestinais e todas as outras). Uma vez, que nos recorde, apresentou o «Juba de leão, produto espanhol. Para uma maior atracção de público e comprovativo da excelência do artigo tinha como «partenaires» um grupo de esbeltas moças, que dizia serem naturais de Espanha e apresentavam umas amplas cabeleiras, ao estilo de uma conhecida locutora televisiva dos nossos dias.

            O povo formava roda em derredor do «Senhor Banha de Cobra ou «Juba de Leão, produto espanhol», sendo muitas vezes constituído maioritariamente por «malta» da Tomás Cabreira, escola que funcionava ali bem perto na Rua do Município e no Largo da Sé. É que á falta de espaços para recreio nas velhas e anacrónicas instalações era ali que os «costeletas» davam assistência (casa cheia) a esta figura farense de tempos idos.


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