terça-feira, 24 de agosto de 2021

CRONICA JOAO LEAL

     «PAI ANÍBAL...»


          «PAI ANÍBAL, TE CHAMARAM

           E AQUELES QUE ASSIM DIZIAM

           FOI DO MUITO QUE TE AMARAM

           OU DO MUITO QUE TE QUERIAM»


Esta preciosa quadra, de tão profundo sentido e de uma gratidão incomensurável, está gravada no túmulo de Aníbal da Cruz Guerreiro, o saudoso farense, que o foi sem dúvida dos maiores do século XX. Situa-se no sector nascente do Cemitério da Esperança e perpetua a gratidão de milhares de jovens de todo o Algarve, que encontraram na Casa dos Rapazes (Instituo D. Francisco Gomes), o aconchego de um verdadeiro lar. Mas este sentido agradecimento estende-se a muitos outros cidadãos dos mais variados quadrantes, da economia ao desporto e da cultura ao empreendedorismo.

 Aníbal da Cruz Guerreiro, o «Pai Aníbal», dos mais dilectos amigos que na vida tivemos, não obstante a diferença de idades, foi um verdadeiro senhor em toda a abrangência expressiva. Nasceu (1911) e morreu (20 de Fevereiro de 1990), aos 78 anos, na freguesia da Sé desta cidade de Faro, que amava até à exaustão e a quem prestou os mais relevantes e assinalados serviços, muito havendo contribuído para o seu progresso, desenvolvimento e qualificação.

     Muito jovem este «self made man, que o foi dos maiores empresários algarvios, fundou o semanário desportivo e também dedicado ao cinema e à rádio, «Sports do Algarve», surgido a 14 de Outubro de 1935 e de que se publicaram 128 número, até 30 de Maio de 1938. Conhecidas as extremas estruturas tecnológicas e informativas, veja-se bem quanto de audacioso e de «avant la garde» esta empresa comportava. Estudante do Liceu João de Deus (1920/27), aspirava a ser jornalista desportivo, havendo sido correspondente de vários jornais lisboetas. Era o despertar do futuro empresário, industrial, artista, escritor, benemérito, eu sei lá que mais o que se divisava em Aníbal da Cruz Guerreiro. «Decidiu pelo trabalho a fim de usufruir o seu sustento», confessava-nos um dia com a bondade fraterna que, me aconselhava, na multiplicidade das suas funções, que «não se devem pôr os ovos todos no mesmo covo». Em 1932, com outros sócios, constituiu a que viria a ser um dos gigantes do transporte rodoviário público, a EVA (Empresa de Viação Algarve), cuja valiosa acção em prol do serviço popular, do turismo, da economia e da empregabilidade é por todos reconhecida. Mais tarde ampliou a sua acção com a inclusão da ERSA (Empresa Rodoviária do Sotavento Algarvio). Depois em 1966 dota Faro com uma unidade hoteleira á altura da sua capitalidade, o Hotel EVA. Mas homem voltado para o mundo dos negócios, sem nunca olvidar de dar a feição social que às empresas e seus colaboradores importa, já mais deixou a arte e assim, em Dezembro de 1943, conquista o 1º prémio de composição dos Jogos Florais de Tavira, com «Corridinho». Aliás a música acompanhá-lo-ia vida fora, tendo como seu «mestre / companheiro» na viola o também saudoso engenheiro Diamantino Piloto. Em 1960 a EVA começa a sua internacionalização com a linha Lisboa / Sevilha, para o que anos antes e como unidade de apoio criara a Estalagem em Ferreira do Alentejo, seguindo-se como um dos grandes percursores do turismo, a agência de viagens, o rent-a-car, a presidência do Grémio do Industriais de Hotelaria (hoje AIHSA - Associação dos Industriais de Hotelaria e Similares do Algarve). De permeio mais e mais empresas algarvias, entre as quais a FIAAL (Fomento Industrial e Agrícola do Algarve), ainda hoje uma das grandes referências do sector automóvel em Portugal. Mas um dos seus maiores desafios, totalmente a favor dos outros, neste caso, os jovens enfrentando uma situação difícil, com a coragem de assumir a direcção do Instituto Dom Francisco Gomes (Casa dos Rapazes) a viver no início dos anos 60 dos piores períodos da benemérita acção iniciada em 1943. Surgem, na Alameda João de Deus as «Festas da Cidade de Faro» e outras prestantes iniciativas que dão o suporte a um rumo no aquela Instituição.  

         Recordamos também o que foi a sua dedicada acção à frente de várias instituições, de que destacamos o Sporting Clube Farense, de que foi uma coluna chave e da Associação de Futebol de Faro, sendo na sua presidência na Assembleia Geral que se deu a mudança para AFA (Associação de Futebol do Algarve).          

 E o Aníbal Guerreiro, escritor? Mais uma das suas facetas, e que valiosa ela o foi com os livros «História da Camionagem Algarvia» (1983 - ainda hoje utilizado no ensino universitário), «Natal dos Benditos Desditosos» -1985) e «Crónicas Algarvias - Esboço de um Algarve Menor (1989). E que reconhecimento oficial à memória deste ilustre farense. Para além da saudosa estima de quantos com ele privaram a Secretaria de Estado do Turismo outorgou-lhe a «Medalha de Mérito Turístico» e a Câmara Municipal de Faro distinguiu-o com as «Medalha de Mérito» grau prata - 1982 e de ouro em 1986, para além do seu honrado nome figurar numa artéria local, a Avenida Aníbal de Cruz Guerreiro.


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