sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 

NOTA: UM ARRANJO EXECUTADO POR ROGER, COM FOTO, TEXTOS E POEMAS DIGITALIZADOS

 

 

FALANDO DE

VASCO NAVARRO DA GRAÇA MOURA [1942-2014]

 


Além de poeta e romancista, foi ensaísta, tradutor, político e gestor cultural. Foi Secretário de Estado em 1975, Deputado Europeu entre 1999 e 2009. Foi tradutor de clássicos da literatura.

Fazia gala de deixar a esquerda bem pensante em estado de choque perante um imtelectual politicamente incorreto, capaz de defender a pena de morte para certo tipo de crimes ou de criticar a admissão de homossexuais na tropa. A sua poesia alia a sensibilidade lírica a uma linguagem coloquial, combinando o erudito e o vulgar.

                     DO LIVRO: “sonetos Familiares”:

VAI-SE A LASCIVA MÃO

“Vai-se a lasciva mão devagarinho

No biquinho do peito modelando

Como nuns versos conhecidos quando

Uma mulher a meio do caminho

 

Era de vento e nuvens, sombras, vinho,

E sonoras risadas como um bando.

Os dedos lestos vão desenredando

Roupa, cabelos, fitas, desalinho.

 

A noite desce e a nudez define-a

Por contrastes de luz e de negrume

Ponto por ponto, alínea por alínea.

 

Memória e amor e música e ciúme

Transformados nos cachos da glicínia,

Macerando no verão sombra e perfume.”

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Advogado de profissão, publicou o primeiro livro de poesia, “Modo Mudando” aos 21 anos.

Passou pela direção da RTP e foi nomeado para sucessivos cargos, desde a imprensa nacional ao Centro Cultural de Belém, passando pelas comissões do Centenário de Fernando Pessoa e das Comemorações dos Descobrimentos. Foi um dos proponentes da Expo 98.

Ria dele mesmo e gostava de assumir atitudes politicamente incorretas.

Sedutor, confessava-se um “Admirador do Belo Sexo”

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DO LIVRO “A PUCHAR AO SENTIMENTO”:

AMAR-TE CORPO A CORPO

 

“Se é esta a doce lei que eu imagino

Do amor que nos impõe o seu ditado,

Amar-te corpo a corpo é o meu fado

E amarrar-me a ti o meu destino

 

Sentir a própria alma em carne viva

Respirar boca a boca e nesse jogo

Atravessar-me em fogo no teu fogo

E alimentá-lo a beijos e saliva

 

Se mais atino quando desatino

Por meus jeitos de amor alvoroçado

É no alto mar revolto e desmaiado

Que entre peripécias loucas me declino,

 

Sendo cada caricia a mais lasciva

A inventar seus rumos afinal

Na pura escuridão, na mais carnal,

Que me cativa a mim e te cativa

 

Entre as línguas, os sorvos, as gargantas,

Doces gemidos, ternas resist

ências

e violências brandas, impaciências,

e tantas mais carícias, tantas, tantas”

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Vencedor do Prémio Pessoa em 1995, Graça Moura recebeu inúmeras distinções nacionais e estrageiras, com destaque para a Grâ- Cruz da Ordem de Santiago da Espada.

 Não concordou com o acordo ortográfico de 1990, que considerou “delirante”, tendo publicado o livro ‘Acordo Ortográfico: A perspectiva do Desastre’, em 2008.

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