sábado, 5 de janeiro de 2008

COSTELETAS DE ONTEM

(café aliança)


por ARNALDO SILVA

É bem sabido que o Homem, na sua inata qualidade de animal gregário, tem que viver em sociedade.
É igualmente bem conhecido que a organização das comunidades de seres humanos é feita à base de diferentes classes sociais. Umas dessas classes têm a fortuna de poder dispor de bens materiais sem restrições, outras nem por isso e outras, ainda, mal conseguem obter os bens indispensáveis à sua sobrevivência. Foi assim, é assim e, infelizmente, continuará a ser assim.

Os governos de hoje têm assumido o propósito, hipócrita ou não, de promover uma menor disparidade entre as actuais classes sociais. Movidos por esse desejo decretou-se, entre outros, o direito à educação. Construíram-se Escolas por quase todas as cidades e vilas.

Em tempos idos, meio século atrás, as coisas eram bem mais diferentes. O Algarve punha à disposição dos seus concidadãos apenas duas Escolas Secundárias, uma em Silves e outra em Faro. Eram dois pólos de congregação e afluência de jovens que, impelidos pela vontade dos seus pais, aqui vinham à procura de se preparar para uma vida diferente - para melhor, presumia-se! - daquela que aqueles herdaram dos seus antecessores.

A Escola Tomás Cabreira assumiu assim um papel de elevada importância na formação dos jovens de então que, de Vila Real a Tunes, se viram forçados a confluir diariamente para aqui. De comboio, de autocarro, de motorizada ou de bicicleta para ali eram dirigidos quotidianamente os passos de centenas de jovens, ano após ano, para engrossarem turmas de quase quarenta alunos cada uma.

Foi o meu caso. Inicialmente de Tavira. Nos dois últimos anos, de Messines. De comboio. Com horários que condicionavam os nossos movimentos na cidade e nos roubavam precioso tempo de descanso ou de estudo. Mais, que forçavam a inventar actividades para matar o tempo entre o fim das aulas e as horas de partida dos comboios. Com a permanente e incomoda companhia de dois volumes: a pasta dos livros e a lancheira que, para quem se levantava às cinco da manhã de cada dia, se tornavam detestáveis. Horários que obrigavam a transferir para as horas da iluminação pelo candeeiro a petróleo o pouco tempo disponível para estudar ou fazer os trabalhos de casa!

Mas tinha que ser assim a vida da maioria dos "costeletas" daqueles tempos.
Afortunadamente compensadora, pois a formação recebida na Escola catapultou-nos para a tal vida diferente que os pais desses tempos visionaram para os seus filhos.

Valeu a pena aqueles tempos de "costeleta"!

Arnaldo silva
Felizmente reformado

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