segunda-feira, 18 de julho de 2011

COMENTANDO
OS SONHOS DA VIDA, de AM
Por João Brito Sousa

Começo por agradecer o comentário ao meu texto.

Sobre ele, direi que me parece que lhe deste tudo: Seriedade, autenticidade e coragem, tudo resultado de um pensamento profundo. Como diz o mano, o texto é para pensar. Fico satisfeito se provoquei isso.

António Aleixo, acerca dos sonhos da vida, disse

Um homem sonha acordado
E sonhando a vida percorre
E desse sonho dourado
Só acorda quando morre

Penso que AA e o AM têm alguma semelhança na forma de pensar. Admitem o sonho e querem dizer, ambos que o Homem em geral, sonha.

“Não existe uma vida sem sonhos”, diz AM que eu confirmo. E continua, dizendo, que o “silêncio monetário não lhos permitiu executar.”

Eu penso que estes sonhos são desejos de, vontades de ir, que estão dependentes da disponibilidade financeira.

Mas, sonho, em geral, é imaginação mas para Freud, é a realização de um desejo. Aqui Freud está ao lado de AM. O que é gratificante verificar.

Quando diz,”apenas me resta o espaço, o tempo sem o silêncio”, eu diria que o silêncio, em termos de normas culturais, pode ser interpretado como uma atitude positiva ou negativa. Os surdos convivem bem com o silêncio, vivenciando uma cultura completamente silenciosa.

Outras pessoas não.

Do comentário do AM ao meu texto resultou este apontamento. Que me levou a investigar, porque estas matérias não são a minha especialidade. São mais Norberto Cunha, que gostava que dissesse de sua justiça. Porque, é um costeleta que sabe desta coisa da psicologia.

Mas foi positivo.

Ab.

jbritosousa@sapo.pt

SONHOS DA VIDA

(Comentando “o espaço, o tempo e o silêncio”)

Atire a primeira pedra quem consegue viver sem sonhar. Não existe uma vida sem sonhos. Algumas pessoas têm sonhos grandes e complicados de serem realizados, outros têm sonhos mais humildes, mas tão importantes quanto os sonhos grandes. De qualquer forma é muito raro alguém se lembrar do que sonhou; apaga-se no “tempo”.
Eu sou um sonhador nato. Nenhum dos meus sonhos já consegui realizar, a lista é grande. E não recordo nenhum. Não sou, nem fui, um estudante de artes plásticas, tenho sonhos de ver alguns quadros ao vivo e a cores. Não os recordo, porque, “o espaço e o tempo” apagaram de imediato, apenas ficou “o silêncio”.

Mas os sonhos que gostaria de ver, de ter e fazer foram todos pensados acordados no “espaço e no tempo” mas que o "silêncio" monetário não me permitiu executar.

Para aquelas pessoas, que não compreendem meus pequenos e grandes sonhos, quererem me poupar de uma decepção, eu peço que entendam que existem algumas decepções necessárias em nossas vidas. Assim como não existe uma vida sem sonhos, não existe uma vida sem decepções no “espaço, no tempo e no silêncio”. E não adianta, uma pessoa viver os sonhos e as decepções dos outros, não vai passar de um sonho acordado não realizado e, convenhamos, antes uma decepção do que um sonho não realizado.

E apenas me resta “o espaço, o tempo sem o silêncio”.

Um abraço do

Alfredo Mingau

O ESPAÇO, O TEMPO E O SILÊNCIO.

Para todos, especialmente para o Montinho, Zé Elias, Tavares e

É por esta via que podemos chegar à felicidade, melhor, à harmonia social. Pelo menos depreendi isso, num texto que li no Jornal Expresso, quando o articulista se mete a explicar o binómio caçador/ caça, e, lá para às tantas, depois daquelas reuniões de amigos onde não se fala de mulheres, nem de política, nem de cinema, nem de literatura mas apenas de caça e de caçadores, surge o momento mágico no encanto da noite, traduzido num copo inofensivo na mão esquerda, um puro na mão direita, uma soleira de porta alentejana para se sentar, o espaço, o tempo e o silêncio, fazendo deste, o momento magnânimo e único que apetece viver.
O espaço, esse local onde não se passeiem as multidões permitindo-nos olhar e respirar, onde nos possamos encontrar a nós próprios, sem medo e com total confiança, que nos pode até conceder a patente de donos do mundo e onde, efectivamente, naquele momento, pensamos que tudo é nosso. O espaço é fundamental para a nossa afirmação, para a concretização dos sonhos no silêncio das noites.
O tempo, no sentido intrínseco do termo, é o local onde a vida se vive, onde os nossos sonhos se manifestam, onde nos reputamos presentes, é aí o domicílio da nossa vida. O tempo, essa dádiva que nos é concedida e é imprescindível. Sem ele não há nada, nada de nada, nem sequer a esperança. O tempo vive-se melhor no silêncio. E às vezes vive-se sem tempo porque não temos tempo para ter tempo.
È bom viver. Em qualquer circunstância, mesmo naquelas condições do caçador que na hora da deita se lembrou que no dia seguinte tinha uma letra no banco a pagamento. Lembrou-se e gemeu. O colega da caçada, perguntou-lhe, o que é isso ó Fernando, o que é que tens? E ele, amanhã…
Ou aquela cena, em que o bancário visitou o cliente que dormia a sesta, lá para as catorze e tal e a esposa foi-lhe dizer, está aí o homem do banco. E o cliente interrompeu a sesta e veio dizer ao bancário que estava a descansar e que ele, bancário, não tinha o direito de o vir acordar. E ainda lhe perguntou: ouviu o que eu disse?
O espaço, o tempo e o silêncio, funcionam como irmãos na família da vida e às vezes constituem o que há de melhor na nossa existência. O espaço é liberdade, o tempo é liberdade e o silêncio é liberdade. Nessa trilogia espaço, tempo e silêncio o homem encontra-se consigo próprio, estabelece padrões de vida, pensa e age, perspectiva situações, analisa e admite que pode ser feliz. Ou que um dia será. E às vezes até se julga poeta. E escreve umas palavras num papel e chama-lhe poesia. Nesse momento tudo lhe é permitido.
Um dia virá em que não haverá mais espaço nem mais tempo nem mais silêncio. Mas tudo continua, igual ou talvez não, num outro local, que pode ser na porta ao lado. Com uma mão vazia e outra cheia de nada, como disse a poetiza Irene Lisboa. Os poetas dizem cada coisa. Tinha que ser um poeta a dizer. E tinha que ser um poeta a escrever.
Gostava de ir à caça amanhã e usufruir desse tal momento mágico onde o espaço, o tempo e o silêncio fossem de minha propriedade. Única.
Nunca se sabe o que nos pode acontecer. Por enquanto o palco é aqui, neste espaço, neste tempo e neste silêncio.

João Brito Sousa

CANTINHO DOS MARAFADOS

O QUE SÃO AGÊNCIAS DE RATING!?

Todos os dias o Carlos, filho do dono da mercearia, rouba pastilhas ao pai para vender aos colegas na escola. Os colegas, cujos pais só lhes dão dinheiro para uma pastilha, não resistem e começam a consumir em média cinco pastilhas diárias, pagando uma e ficando a dever quatro.
Até que um dia já todos devem bastante dinheiro ao Carlos, por isso ele conversa com o Cabeças, - alcunha do matulão lá da escola, um gajo que já chumbou 4 vezes – e nomeia-o a sua agência de rating. Basicamente, cada vez que um miúdo quer ficar a dever mais uma pastilha ao Miguel, é o Cabeças que dá o aval, classificando a capacidade financeira de cada um dos “putos” com “A+”“A” “A“
“B”… e por aí fora.
A Ritinha já está com uma divida muito grande e um peso na consciência ainda maior, por isso, acaba por confessar aos pais que tem consumido mais pastilhas do que devia. Os pais ao perceberem que a Ritinha estava endividada, estabelecem um plano de ajuda para que ela possa saldar a sua dívida, aumentando-lhe a semanada mas obrigando-a a prometer que não gasta mais enquanto não pagar a dívida contraída.
O Cabeças quando descobre isto, desce imediatamente o rating da Ritinha junto do Carlos que, por sua vez, passa a vender-lhe cada pastilha pelo dobro do preço. A Ritinha prolonga o pagamento da dívida e o Carlos divide o lucro daí obtido com o Cabeças que, como é o mais forte, é respeitado por todos.
Espero que fiquem esclarecidos.

António Viegas Palmeiro