sexta-feira, 25 de abril de 2008

À CONVERSA COM



ALFREDO PEDRO


Saí do Hotel Eva, na perspectiva de encontrar o Marreco engraxador, que me engraxava os sapatos naqueles tempos dos anos 50 por 3 escudos, o que na conversão actual daria aí 1,5 € . Mas qual quê, mal saí do Hotel encontrei o Chupa, então, o que é fazes por aqui, ainda jogas Hóquei em Campo aqui no Largo, que é feito do João Bico, do Quicas, do guarda redes Eduardo, do Zac... dessa malta?... O Chupa não estava aí, não sabia de nada.

Já passava do meio dia, o Marreco já teria dado à sola. Resta-me, pensei, procurar o Acarreta Pauzinhos, o Manuel Ali Bá Bá, o Almirante Fateixa, o Chico Arpanço, O Charlot, o Bacoco carvoeiro, o Bananeiro ambulante e ... o Teca.

Comecei a andar em direcção ao Aliança, enganei-me e, quando dei por mim, estava em frente ao café Batata, a seguir à Tabacaria Dinarte. Os montanheiros que costumavam estar no Batata ainda não tinham chegado e disse cá para mim, vou mas é almoçar à dos DOIS IRMÃOS, é barato, um bife 5 paus.

Estava a passar em frente da barbearia Teodoro quando me aparece saindo do TABU, onde tinha lá ido comprar uma gravata, o costeleta ALFREDO PEDRO. E disse cá para mim, vou mas é ficar com este, este é bom para a palheta.

O ALFREDO PEDRO é amigo de curta data, mas é um homem extraordinário, um amigo, daqueles que ponho as mãos no fogo por ele. Só precisamos de um OLD PARR.

ALFREDO, anda daí. Vamos almoçar. E a entrevista começou logo ali.

Sabes quem encontrei ontem aqui?

Não, disse o Alfredo

O Mário Zambujal.

É pá, há tanto tempo que eu não vejo esse “gajo” e tanto que gostava de o ver. O Mário era o maior. O tipo fazia umas redacções maravilhosas, fazia versos, sempre teve grande jeito para a escrita. O Mário é um bom amigo. Não o vejo à tanto tempo, nem o Franklin, nem o Xico Zambujal, nem o Zé António da Luz, nem os Molarinhos, nem o Zé Clérigo, nem o Zé Félix, não vejo ninguém dessa malta, o Alfredo Cantas Lopes,o António Júdice, o Eduardo Neves, o Jaime Matoso, o José Afonso, o José Dias Lucas, o José Eusébio, o Manoel Inocêncio, o Orlando Seita, o Rogério Neves, o Sérgio Godinho, o Valério Quintas.. eu sei lá...

Querias vê-os todos Alfredo, não era?

Sim... era porreiro.

Quando morreres logo vais estar com eles. Olha, vamos almoçar aqui nos Dois Irmãos. naquela mesa, ok. Então, em Faro a fazer o quê?...

Vim a Faro, nasci aqui, vim ver a cidade. Olha, encontrei no Aliança o Rosa Nunes, lembras-te dele? Ele era o mais ecléctico praticante de desporto de FARO desse tempo. Em futebol, foi dos melhores jogadores do Farense, tendo igualmente representado o Portimonense em época de maré alta desse clube. Foi na época de1948/49 em que, na fase final de apuramento para subida à primeira Divisão Nacional, o Portimonense, parece-me, foi espoliado duma subida automática.

E do Grilo, lembras-te?

Esse, era um excepcional jogador de futebol que jogava descalço e quando foi treinar ao Farense, não conseguia calçar as botas e não ficou. Organizava jogos o dia inteiro com a miudagem da zona onde tinha o quartel-general, que era o Largo Silva Porto, mais conhecido por Alto da CAGANITA. Era vê-lo a toda a hora sair dali a caminho do Espaldão, que era “estádio" mais amplo, com o inseparável boné enfiado até às orelhas e uma bola debaixo do braço, seguido por uma chusma de putos com quem se dava de igual para igual, mesmo quando já contava as suas boas dezenas de anos bem contadas.

Alfredo, o que é para ti a saudade?

Saudade, são as recordações boas da vida, o primeiro beijo a sós, a primeira tampa no baile do Grémio, a primeira vez que senti o que era ter um amigo, os cuidados e preocupações da minha mãe, as primeiras correadas que levei do meu Pai, a primeira cerveja, o primeiro cigarro, o primeiro emprego, o primeiro ordenado, a primeira ida aos Açores... o primeiro OLD PARR, o primeiro relógio, o meu primeiro filho... a primeira vez que te vi, as primeiras coisas da minha vida constituem saudade.

O que é um amigo?

É aquele que não falha. É o que está sempre disponível e que me conhece melhor a mim do que eu me conheço a mim próprio. É o que lê as minhas necessidades no meu olhar. É o que sabe que eu preciso dele. É o que vai tomar um café comigo mesmo quando não lhe apetece. É o que sabe quais as conversas que eu gosto, sabe os filmes que eu gosto, as peças de teatro que eu gosto. Em suma, ser amigo, é aquele que sempre confiou em mim e eu confiei nele.

Pai, Professor e Amigo são iguais.?

Têm uma coisa em comum; todos nos querem bem por igual. Pai e Professor cabem no mesmo palco. O amigo está noutro e só. Porque é outro departamento. O amigo é para todas as ocasiões enquanto o PAI entra em quase todas as ocasiões. A primeira noite que fui a uma boite não fui com o meu Pai; fui com o amigo. O pai e o amigo são ambos diferentes. Ao Pai diz-se algumas coisas.. Ao amigo diz-se tudo. Do professor, apenas recebemos ensinamentos no sentido de nos tornar melhores seres humanos e de nos preparar para a vida.

Vale a pena viver?

Sim, a vida é para se viver. Não tem alternativa nem saída. É olhar em frente.

Recorda uma pessoa que tenhas admirado?

O Dr. Urbano, professor de Contabilidade que me ajudou a entrar para o BNU

Que tal aí?

Foi o meu local de trabalho durante mais de trinta e tal anos...

Vai um OLD PARR?

Contigo, sempre.

E despedimo-nos.

Texto de
João brito Sousa

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