quarta-feira, 7 de maio de 2008

HISTÓRIA DE UM COSTELETA

Paixão Pudim


NAQUELE TEMPO

por Paixão PUDIM

Anos cinquenta em Faro... a “malta” estudantil frequentava a Brasileira em autêntica romaria... no prédio em frente, ao longo do dia, concentravam-se diversas beldades na papelaria e livraria ARTYS do Sr, Capela e, no 1º andar, existia uma residencial feminina, algumas nossas colegas... verdadeiras pérolas apetecíveis de contemplação. Lembro-me da graciosa Gabriela. Da escultural Odete e, outras jeitosas que nos permitiam “sonhar”... “cor–de-rosamente”... porque naquele tempo “os morangos com açúcar” de hoje eram, simplesmente, inimagináveis.

Uma bela tarde de sábado, não sei porquê, houve necessidade de “estravasar”... e um de nós alvitrou a hipótese de uma experiência que não era muito vulgar... ir a um baile fóra de portas. A Olhão não, porque o Caronho namoriscava, na altura, a Olhanense Isaura. O José Luís não lhe convinha ir a Loulé por causa da louletana Solange.

O Silvério e eu, por causa da Gabi e Fernanda, respectivamente, ... em Faro, nunca!... por conseguinte, só nos restava solicitar apoio de uma pessoa entendida para resolver estes repentinos casos... e não foi difícil encontrar o mais credível... o mais atencioso e amigo,... o espectacular senhor Napoleão, taxista, sobejamente conhecido dos estudantes “bifes e costeletas”... mais a sua “arrastadeira”... um velho citroêm que fazia as delícias da “malta” quando executava curvas apertadas no largo de S. Francisco.
Depois de várias “consultas e análises” aos programas sugeridos e, em conformidade com as nossas possibilidades financeiras, lá fomos a caminho de Sta. Bárbara de Nexe. Quando chegámos já decorria o baile e o ambiente estava convidativo para ficar.
As jovens “montanheiras”... como diria o nosso amigo Brito de Sousa “perdiam-se” com a rapaziada estudantil... por vezes, aproveitavam a nossa presença para castigar e originar cenas de ciúmes... e os namorados ou ex-namorados vingavam~se à pedrada no carro do Sr Napoleão...

E foi assim, que passados breves momentos, fomos aconselhados a abandonar o local por ameaças de retaliação de uma última vez, muito mal explicada, e que nada se relaciona connosco.
Para evitar complicações andámos mais uns quilómetros e fomos até Bordeira. Chegados ao local entrámos com “pezinhos de lã”.... o ambiente estava bom e agradável. Era uma semi-esplanada... as primeiras músicas ao som do acordeão, clarinete e bateria dava para apreciar e escolher as “moças” não comprometidas... mas, há que usar prudência adequada aos hábitos e costumes das pessoas que frequentam o local.

Assim combinámos e assim cumprimos.

Ocupámos uma mesa e ficámos a aguardar a próxima dança para avançarmos. Entretanto, um sujeito (espécie de empregado de mesa sem estilo) chegou perto de nós e perguntou-nos o que desejávamos beber. Lembro-me que olhei para os lados e vi algumas mesas com copos de vinho tinto, pirolitos e pasteis de nata. Nada daquilo nos agradava e um de nós pediu café e, logo a seguir, foi unânime a nossa escolha... – café para todos, dissemos a uma mulhersinha que chegara próximo de nós a pedido do tal sujeito... e fomos todos dançar.
Quando a dança terminou acompanhámos as “moças” ao lugar (para os mais novos, era assim que se procedia delicadamente)... e, escutámos os primeiros risos com sussurros à mistura... é que chegados à nossa mesa eis a grande surpresa que nos deixou espantados e boquiabertos... no centro da mesa, em cima de um capacho de abanar, estava uma cafeteira de esmalte, bastante usada com borras de café a transbordar, quatro tigelas maltratadas, com mossas e um cartucho de açucar com o gargalo cortado à mão... e uma colher de sopa meio encardida.
Foi uma risada geral... talvez, por isso, a tal mulhersinha um pouco acanhada aproximou-se de nós a perguntar se estava tudo bem... e se desejávamos um pouco de pão para fazer sôpas.

Foi um delírio... nunca mais esqueci esta cena. Na segunda feira quando chegámos à nossa escola as nossas “namoradinhas” sabiam tudo.

Bons tempos, belas recordações como realça muitas vezes a nossa querida e maravilhosa colega, excelente poetiza, Maria José Fraqueza.

Para ti, Zezinha, um abraço do
Paixão Pudim

Publicação de
João Brito Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

BEM HAJA MEU CARO COMANDANTE

Zé.

Quando por qualquer motivo me apareces pela frente, vem-me logo à memória as nossas saudosas aulas dos sábado à tarde.

E que orglho eu tive em pertencer à célebre equipa do "RASGA A MANTA"...

Ao ler o teu texto, fiquei emocionado, porque, como bem sabes, o que escreveste é o meu terreno predilecto... eu, que até duma certa forma sou familiar do taxista Napoleão.

Mas aprendi, ao ler o teu texto, que um montanheiro como eu nunca se verga, nem que um tipo ou dois da cidade lhe peçam um café... coisa impensavel nesse tempo... porque há sempre uma chaleira que espera por nós.

Escreve sempre e mais... comandante Zé PAIXÃO. Que o nosso espaço agradece.

E aceita um afectuoso abraço do

João Brito Sousa