quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CRÓNICAS DA SEMANA (6)


Av. 5 de Outubro

Numa crónica anterior falei do “Moce” que dormia no “almeichar” para guardar os figos, não fosse o diabo tece-las. Contava o “Moce”, em acrescento à história relatada, nos meios rurais não haver electricidade. À noite, o ambiente era iluminado por candeeiros a petróleo ou pelos candeeiros, hoje decorativos, que funcionavam com “borras de azeite”. Que a avó do “Moce” fazia o jantar naquelas panelas de cobre, hoje também decorativas, geralmente de papas de milho, o “xérem”. Que era feito com os torresmos da matança do porco. A comida era cozinhada, naquela fornalha grande, com a panela em cima da trempe de ferro e com as brasas por baixo, da lenha seca que era apanhada. Quando as papas estavam prontas, colocava-se a panela em cima de uma banca baixa e a família sentava-se em volta da panela, numas cadeiras de atabúa, e cada um comia do seu lado, tirando com a colher directamente da panela.
Quando o arrieiro passava na estrada, de terra, tocando o búzio para chamar os clientes, as papas eram feitas com sardinhas; “petinga”, que ele vendia, e que eram, e são, também, muito saborosas.
E o “Moce” contava imprimindo uma grande satisfação na recordação.
São histórias daquele tempo em que a electricidade era uma quimera e a água ficava distante nos poços feitos para servir os habitantes e que, colocando os cântaros nas cangalhas dos seus burros, se deslocavam quilómetros para ir buscar o precioso líquido.
Será que alguns de vós passaram por isto?
Esta minha crónica é assim pequena; os afazeres pessoais não permitem…
Fico para a semana. Até lá.

Alfredo Mingau


Recebido e colocado por Rogério Coelho

1 comentário:

r.cavaco disse...

Papas no tacho de cobre (a que alguns chamavam de arame, não sei porquê).
Por vezes, na ementa juntavam-se conquilhas ou berbigões, que nos vinham vender em canastras nas bicicletas de pedal ou em sacas de linho sobre burros.
Formava-se assim no fundo do tacho uma espécie de calçada de marisco que, ao tirá-la , era preciso cuidado para não entortar a colher.