terça-feira, 29 de setembro de 2009

TEMA LIVRE

A "Fateixa"

PESCA DO ATUM (2)


De Alfredo Mingau


A Armação da Pesca do Atum ao largo da Praia de Faro pertencia à Companhia de Pescarias do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte.
Pelos comentários dos Costeletas Maurício e Tavares, neste Blogue, entendi fazer uma investigação sobre este assunto, sem querer por em causa as informações dos comentaristas.
Quando se chegava à praia pela ponte do meio e voltando para o lado esquerdo, e andando cerca de um quilómetro, encontraríamos sete enormes barracões junto da Ria. Eram os barracões da Armação do Atum.
Hoje não existem, foram demolidos.
Todos eles estavam identificados por letras. Vivia-se dentro, separados por cortinas de pano, pendurados por cordas.
Um dos barracões era destinado à parte alimentar e era explorado por uma senhora de nome Antonieta que, segundo se dizia, a comida era muito má.
No arraial preparava-se as redes e tudo o que era necessário para a pesca. Existia, também, uma capela cuja padroeira era Nossa Senhora do Carmo.
As redes compunham a armação e eram colocadas no mar ficando na vertical, suspensas por bóias de cortiça, e criavam uma barreira para a marcha do atum, encaminhando-o para a “boca” donde não poderiam sair.
A armação das redes era fixa no local, e o corpo tinha três comprimentos a “câmara” o “buxo” e o “copo”.
As redes, bastante fortes, estavam presas por cabos de aço em que, no fundo, se encontravam presas pelas argolas, muitas e enormes ancoras e a que davam o nome de “fateixas”.
Quem mandava era o Mestre que, como mandador, mandava colocar as embarcações em círculo, “abocadas” em redor do “copo”, fixo, aguardando o início do “copejo”.
O peixe era encaminhado pela perícia dos homens e ficava encurralado no “copo”.
As redes eram levantadas ao som de apitos e os homens muniam-se com os “bicheiros” (arpões) atados aos pulsos.
Era então que se dava o “copejo” com gritos de entusiasmo:
“Ala!, ala!, gritavam em uníssono.
Quando os peixes já eram poucos, alguns homens, mais afoitos, largavam o “bicheiro” e saltavam para cima do peixe, perante o entusiasmo dos restantes com as roupas rasgadas e cobertos de sangue dos atuns. Uma “pega de caras”.
Os peixes eram contados, “guindados” dos “calões” para as “andainas”, utilizando cabrestantes e conduzidos para a lota em Vila Real de Santo António, única lota de atum no país.
No meio dos barracões encontrava-se um mastro onde eram içadas as bandeiras que indicavam a quantidade, em centos, do peixe pescado. Quando o pescado atingia as mil unidades, era içada a bandeira nacional.
As principais famílias donas desta armação eram Mateus da Silveira, Raul Bívar, Justino Bívar conde do Cabo de Santa Maria, Domingos Guerreiro…
Recordemos, para finalizar, o terrível predador de atuns:
O “ROAZ”


(Nota do autor: Achei que o blogue esteve esquecido por toda esta semana; resolvi escrever esta crónica que já me andava no pensamento)
Recebido no mail da Associação e colocado por Rogério Coelho

2 comentários:

Anónimo disse...

CARO ALFREDO

ÓPTIMA DESCRIÇÃO SOBRE A PESCA DO ATUM NA ALGARVE.
ERA "MÔÇO PEQUENO" QUANDO VI
NA ILHA DE FARO ALGUMAS ACTIVI-
DADES QUE DESCREVES E QUE A
COMPANHA DESENVOLVIA NO PERIODO
DA CAPTURA DO ATUM DE DIREITO.
NÃO EXISTINO COMUNICAÇÕES RÁDIO,
E O "TÉLÉLÉ" NÃO SABIA QUANDO
IRIA NASCER, A COMUNICAÇÃO ENTRE
AS BARCAÇAS E TERRA SÓ PODIA SER
FEITA COM BANDEIRAS.
PARABÉNS POR NOS LEMBRARES DE
TÃO BELOS MOMENTOS DE UMA ACTIVI-
DADE QUE DESAPARECEU DO ALGARVE
E QUE CERTAMENTE NÃO VOLTARÁ.

UM ABRAÇO ALFREDO. DÁ-NOS MAIS
NOTICIAS, POIS DEVES TAMBÉM TER
NA MEMÓRIA A IMPORTAÇÃO DE PALMA
DE MARROCOS PARA O FABRICO DE
ALCOFAS, SEIRAS E OUTROS ARTIGOS
DE ESPARTO QUE A NOSSA GENTE DAS
ALDEIAS, NO INTERIOR DO BARLAVENTO
FABRICAVA PARA OS ALMANXARES, PARA
ESTIVAR A SABOROSA SARDINHA GORDA,
QUE ALIMENTAVA MUITA GENTE NO
INVERNO, A SARDINHA ESTIVADA,
RANÇOSA E AMARELADA.
TU, QUE TENS A MEMÓRIA MAIS FRESCA, DEVES RECORDAR ESTAS
COISA. VALEU, ALFREDO ?

UM ABRAÇO DO MAURICIO

Anónimo disse...

Olá Mauricio
Li o teu comentário. Obrigado na parte que me toca. Já tinha posto de lado a minha contribuição para o blogue.
Deu-me pene e tristeza, verificar que, durante uma semana, nada aparecia no blogue, com tantas boas canetas que existem...
Então, resolvi escrever este texto.
Façamos o que pudermos, não conseguimos puxar por essa "cambada" de escritores que têm "preguicite aguda de escrever"
Não custa nada.
Li o teu pedido da palma, não faço nada a pedido,e escrevi outra crónica prontinha para publicar.
Gosto de fazer um interregno entre cada publicação, como fazia com as crónicas semanais.
Um abraço
Alfredo Mingau