quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CANTINHO DOS MARAFADOS

Um pouco de humor cultural
>
> > A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA
> >
> > Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar
> > aos pretos
> > 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças
> > por via gramatical - isto
> > tem sido um fartote pegado!
> >
> > As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas
> > domésticas' e preparam-se
> > agora para receber menção de 'auxiliares de apoio
> > doméstico'.
> >
> > De igual modo, extinguiram-se nas escolas os
> > 'contínuos 'passaram
> > todos a 'auxiliares
> > da acção educativa'.
> >
> > Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia,
> > tratam-se por 'delegados
> > de informação médica'.
> >
> > E pelo mesmo processo transmudaram-se os
> > caixeiros-viajantes em 'técnicos
> > de vendas'.
> >
> > O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da
> > gravidez';
> >
> > Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
> >
> > Os operários fizeram-se de repente
> > 'colaboradores';
> >
> > As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades
> > produtivas'e vistas da
> > estranja são 'centros de decisão nacionais'.
> >
> > O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o
> > passo à '
> > iliteracia' galopante.
> >
> > Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para
> > não ferir a
> > susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por
> > imperscrutáveis
> > necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços
> > distintos nas
> > classes 'Conforto' e 'Turística'.
> >
> > A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe
> > solteira...» ; agora, se
> > quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da
> > pungente melodia:
> > «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso
> > da cançoneta, se
> > quiser fazer jus à modernidade impante.
> >
> > Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos
> > pinotes crianças
> > irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm
> > um 'comportamento
> > disfuncional hiperactivo'
> >
> > Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de
> > educação' , os
> > brilhantes programas escolares extinguiram os alunos
> > cábulas; tais
> > estudantes serão, quando muito, 'crianças de
> > desenvolvimento instável'.
> >
> > Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse
> > considerada
> > desagradável e até aviltante, quem não vê é
> > considerado 'invisual'. (O
> > termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria
> > chamar inauditivos
> > aos surdos - mas o 'politicamente correcto'
> > marimba-se para as regras
> > gramaticais...)
> >
> > As prostitutas passaram a ser 'senhoras de alterne'.
> >
> > Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas
> > da praça
> > desbocam-se em 'implementações', 'posturas
> > pró-activas', 'políticas
> > fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.
> >
> > E assim linguarejamos o Português, vagueando perdidos entre
> > a «correcção
> > política» e o novo-riquismo linguístico.
> >
> > Estamos lixados com este 'novo português'; não
> > admira que o pessoal tenha
> > cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que
> > se pensa, tem de se
> > pensar o que se diz de forma 'politicamente
> > correcta'.

A. Palmeiro

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