sábado, 31 de outubro de 2009

RELEMBRANDO GRANDES FIGURAS ALGARVIAS






ANTÓNIO ALEIXO

De Alfredo Mingau

Introdução

Sei que pareço um ladrão…
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.

Era eu “Moce”, vivia em Loulé com os meus pais, quando conheci o António Aleixo.
Brincava naquela azinhaga, junto das bicas, com o filho do poeta que, na altura, trabalhava numa olaria ali existente. Recordo o António Aleixo por me ter feito um mealheiro de barro, tendo assistido à sua confecção na roda do oleiro.
E recordo, também, ter ido com o filho ao cinema, lá para cima para a geral, para assistirmos à entrega do 1º prémio, com que foi agraciado pela poesia que concorreu. Não me recordo se eram quadras.
O Júri, quando o viu entrar no palco, um deles murmurou “parece um ladrão”. E ele ouviu.
Quando lhe entregaram o prémio, perguntaram-lhe se queria dizer algumas palavras, tendo respondido que não sabia fazer discursos, mas que o poderia fazer em verso. Tendo-lhe dito que sim e, porque tinha a grande facultade de “repentista” disse, olhando para a mesa do Júri, a quadra que está no início desta introdução.

O Poeta

António Aleixo, de seu nome António Fernandes Aleixo, nasce em Vila Real de Santo António no dia 18 de Fevereiro de 1899.
Teve vários empregos, a que poderemos chamar de “funções”, tais como, “guardador de cabras”, “cantor de feira em feira”, “soldado”, “polícia”, “tecelão”, “poeta cauteleiro” e trabalhou em França como “servente de pedreiro”

Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da nação;
Vendo jogo, guardo gado.
Só me falta ser ladrão.

O Professor Dr Joaquim de Magalhães, que leccionou no Liceu João de Deus em Faro, deu-lhe uma grande ajuda compilando e editando a sua poesia.
O poeta ria-se e dizia:

Não há nenhum milionário
Que seja feliz como eu;
Tenho como secretário
um professor do liceu.

Em sua homenagem, os louletanos, erigiram-lhe um monumento frente ao “Café Calcinha”, que o poeta frequentava, em Loulé. Nesta cidade Algarvia existe a “Fundação António Aleixo”, com o Estatuto de Utilidade Pública, que lhe permite conceder bolsas de estudo aos mais carenciados. O antigo liceu de Portimão tem o seu nome. Em Paço D’Arcos existe uma rua com nome do poeta, em Camarate e em Albufeira. Em S. Paulo, no Brasil, a Escola Poeta António Aleixo no Liceu Católico.
Seria um “espólio Nacional” bastante importante se toda a sua poesia tivesse sido escrita. António Aleixo era considerado um grande “repentista”, não tomando nota das suas criações. A maior parte ficou no esquecimento.
Apesar de analfabeto sabia ler e escrever, mas mal.
Algumas das sua obras, escritas com o arranjo do Professor Joaquim de Magalhães:
- “Este Livro que vos deixo”
- “O Auto do Curandeiro”:
- “O Auto da Vida e da Morte”;
- “O Auto do Ti Jaquim” (incompleto):
- “Inéditos”
Não podemos esquecer nas suas publicações, a grande ajuda do Artista Plástico António Santos, que assinava as suas obras com o pseudónimo de “Tóssan”.
José Rosa Madeira, que também o protegeu contribuindo no lançamento do seu primeiro livro “Quando Começo a Cantar”, obra editada pelo Circulo Cultural do Algarve em 1943.
Como associado do Circulo Cultural do Algarve, que frequentava todas as noites, tive o grato prazer de ter lido esta obra.
A crítica considera António Aleixo um dos poetas Algarvios com maior relevo.
No dia 16 de Novembro de 1949, em Loulé, António Aleixo partiu para a sua última viagem. Faleceu, com a mesma doença que vitimou uma das suas filhas.

2 comentários:

António Encarnação disse...

Como é Norma , mais um bom artigo com que presenteia os Costeletas foi colocado.

Por muito tempo supus que o Poeta António Aleixo era de Loulé , e também se falava que a frase " Só sei que nada sei " era sua autoria ?


Porque virou uma lenda !

Com uma morte semelhante há de que na época morriam a maioria de Pobres "Tuberculose " contribuíu para isso para dar continuidade perante as pessoas simples de sua memória !

Na realidade a sua naturalidade é de Vila real de Santo António e a frase é de Socrates , mas que importância têm se António Aleixo é um Património do Algarve , diferente está bem de João de Deus autor da Cartilha Maternal , ou até de Cândido Guerreiro , mas seu legado continua vivo ., como de outros poetas Nacionais .
Parabens pela publicação .

António Encarnação

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Encarnação
Já recebi, para colocar em altura própria, "relembrando João de Deus", e informação de que outros se seguirão.
Um abraço
Moderador