quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Natal e a Criança

As principais artérias da grande cidade apresentavam-se esplendorosamente iluminadas por lâmpadas de todas as cores, que assentavam sobre armações em madeira e ferro, artisticamente trabalhadas e onde se podia admirar belos motivos da quadra Natalícia.
O gentio apinhava nos estabelecimentos comerciais, comprando as mais diversas coisas, para oferecer a familiares e amigos na noite da consoada.
A oferta e a procura estavam de mãos dadas. A tentação era constante e a euforia evidente.
Por entre a confusão e, como pano de fundo, via-se uma criança, que não teria mais de oito anos, encostada a uma montra de uma loja de brinquedos, espreitando um lindo carrinho ¬ miniatura de fórmula 1. De vez em quando voltava-se para os transeuntes, que passavam carregados de embrulhos, estendia a mão e pedia uma moeda mas estes, indiferentes, empurravam-na para que não lhes bloqueasse o caminho.
O tempo passava e o miúdo ia ficando desanimado por não conseguir dinheiro para comprar o brinquedo que ele tanto desejava!
De repente veio-lhe à cabeça um mau pensamento, entrar na loja e tirá-lo... Pé ante pé, alcançou-o, fugindo apressadamente. Mas, alguém presenciava a cena e alertava um dos empregados do estabelecimento, que pôs tudo em alvoroço, gritando:
- "Apanhem o ladrão, apanhem o ladrão!. .. "
Foi um cliente que o agarrou, trazendo-o por uma orelha.
A criança, muito aflita, chorava convulsivamente, pedindo que não lhe fizessem mal. Ele levava o fórmula 1 porque não tinha dinheiro para o comprar e ninguém lho dava...
Entretanto, um sujeito de porte distinto, que entrava na loja, nesse momento, apercebendo-se da ocorrência, dirigiu-se ao gerente e falou da seguinte maneira:
- "Deixem o petiz porque eu tomo conta dele! Aqui está o dinheiro para pagar o objecto furtado."
O burburinho acalmou, embora se ouvisse ainda, alguns comentários, tais como:
- "O moço, esse marginal, precisava de apanhar uma grande sova!...”
O indivíduo que era Director de uma Instituição de crianças desprotegidas pela sorte, olhou com reprovação, para aquela gente... Em seguida, deu a mão ao garoto e dirigiram-se para a rua. Quando já se encontravam a sós, o ilustre senhor acalmou o miúdo, que ainda tremia, perguntando-lhe:
- "Como te chamas? Quem são os teus pais? Onde moras e porque fizeste uma acção tão feia?"
O garoto com os olhos inundados de lágrimas, respondeu:
- "O meu nome é Orlando; não tenho família, nem casa; a senhora Júlia é quem me dá algo para comer e roupa usada para vestir, em troca de moedas que vou adquirindo... Durmo em bancos de jardins ou sob "arcadas" de prédios junto com outros meninos, que são de rua, como eu...”
- "Estou muito arrependido por ter tirado o fórmula 1 mas, eu gostava tanto dele!.." - E exibia-o com muita ternura!
- "Então prometes que nunca mais voltas a fazer o mesmo!?"
Pergunta-lhe o ilustre indivíduo.
- "Prometo, sim, meu senhor!" - Responde o rapazinho, com humildade...
Orlando, a partir daquele dia, passou a viver numa grande casa, a Instituição. Era a primeira vez que se sentia confortado e rodeado por uma família e em segurança...
Os anos corriam velozes, com eles, os Natais e o garoto desenvolvia-se harmoniosamente, tanto fisicamente como intelectualmente. Os seus comportamentos eram irrepreensível e a inteligência notória, sobressaindo entre os melhores alunos.
Licenciado em Psicologia Infantil, orientava, agora, a Instituição que o acolhera, no momento crítico da sua infância, dedicando-se de alma e coração.
Ele tinha "herdado" do seu protector as qualidades humanitárias e não se cansava de repetir:
"As minhas crianças serão homens de bem, do amanhã! – "
E não passava um só Natal, sem que reflectisse profundamente, no que é ser criança... Julgá-la pela aparência não é fácil, mas de uma coisa ele tinha a certeza, criança é o fruto do meio em que está inserido!...

Maria Romana

2 comentários:

antoniorodrigues620@gmail.com disse...

Parabéns colega Maria Romana
Emocionei-me ao ler a sua história "O Natal e a criança"
Emoção pela sensibilidade demonstrada, pela oportunidade, pelo conteúdo e prncipalmente pelo alerta.
Infelizmente ainda existem muitas histórias destas para contar, num país que se dá ao luxo de fazer recepções e faustosas festas a comitivas estrangeiras de centenas de pessoas, para comemorar não sei o quê, gastando o que daria para dar uma vida melhor a muitas crianças como o menino da sua história.
Fiquei com a sensação de que existe verdade no que nos contou.
Viva o Refúgio Aboim Ascensão.
Apresento-lhe os meus cumprimentos e os voto de um feliz Ano Novo para todos.
António Palmeiro

MAURICIO S. DOMINGUES disse...

CARA AMIGA MARIA ROMANA

UM ABRAÇO DE MUITA AMIZADE.

MAIS UMA PÁGINA QUE NOS FAZ
HUMEDECER OS OLHOS, COMO SÓ
A SENSIBILIDADE DA MARIA ROMANA
SABE APRESENTAR NESTA QUADRA
FESTIVA DE NATAL,ONDE AS CRI-
ANÇAS TÊM UM LUGAR PRÓPRIO.
PARABÉNS .!
QUEM PODE FICAR INDIDERENTE E
INSENSÍVEL A ESTA BONITA
HISTÓRIA, QUE PARECE VERDADEIRA,
NUMA ÉPOCA EM QUE A HUMANIDADE,
INFELIZMENTE,PARECE VIVER NUMA
ESCURIDÃO DE SENTIMENTOS ?
BEM HAJA MARIA ROMANA .

QUE O NOVO ANO DE 2O10 SEJA
MELHOR PARA SI E FAMÍLIA.

UM ABRAÇO AMIGO DO
MAURICIO S. DOMINGUES