quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FIGURAS ALGARVIAS

Álvaro de Campos (Caricatura de Almada Negreiros)

Eu

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Álvaro de Campos

Poeta e Escritor, formou-se em Engenharia Naval - Nasceu em Tavira no dia 15 de Outubro de 1890

RC

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro RC.

Viva.

Esta poesia tem um cunho pessoal indiscutível.

Eu diria que este, durante pelo menos cem anos, será um poema de amanhã, porque o autor está uns bons anos luz à frente dos outros todos.

É um autor das coisas simples só aparentemente complicadas.

Gosto muito.

Ab.

JOÃO