terça-feira, 20 de julho de 2010



O ESPAÇO, O TEMPO E O SILÊNCIO.

É por esta via que podemos chegar à felicidade. Pelo menos depreendi isso, num texto que li no Jornal Expresso, quando o articulista se mete a explicar o binómio caçador/ caça, e, lá para às tantas, depois daquelas reuniões de amigos, tanto do seu agrado, onde não se fala de mulheres, nem de política, nem de cinema, nem de literatura mas apenas de caça e de caçadores, surge esse momento mágico no encanto da noite.
Depois de terminada a refeição com os amigos, um copo inofensivo na mão esquerda, um puro na mão direita, uma soleira de porta alentejana para se sentar, o espaço, o tempo e o silêncio, fazem desse, o momento magnânimo e único que apetece viver.
O espaço, esse local onde não se passeiem as multidões e que nos permite olhar e respirar, onde nos possamos encontrar a nós próprios, sem medo e com total confiança, que nos pode até conceder a patente de donos do mundo. Naquele momento tudo é nosso. O espaço é fundamental para a nossa afirmação, para a concretização dos sonhos no silêncio das noites.
O tempo, no sentido intrínseco do termo, é o local onde a vida se vive, onde os nossos sonhos se manifestam, onde nos reputamos presentes, é aí o domicílio da nossa vida. O tempo, essa dádiva que nos é concedida e é imprescindível, sem ele não há nada, nada de nada, nem sequer a esperança. O tempo vive-se melhor no silêncio. E às vezes vive-se sem tempo porque não temos tempo para ter tempo.
È bom viver. Em qualquer circunstância, mesmo naquelas condições do caçador que na hora da deita se lembrou que no dia seguinte tinha uma letra no banco a pagamento. Lembrou-se e gemeu. O colega da caçada, perguntou-lhe, o que é isso ó Fernando, o que é que tens? E ele, amanhã…
Ou aquela cena, em que o bancário visitou o cliente que dormia a sesta, lá para as catorze e tal e a esposa foi-lhe dizer, está aí o homem do banco. E o cliente interrompeu a sesta e veio dizer ao bancário que estava a descansar e que ele, bancário, não tinha o direito de o vir acordar. E ainda lhe perguntou: ouviu o que eu disse?
O espaço, o tempo e o silêncio, funcionam como irmãos na família da vida e às vezes constituem o que há de melhor na nossa existência. O espaço é liberdade, o tempo é liberdade e o silêncio é liberdade.
Nessa trilogia espaço, tempo e silêncio o homem encontra-se consigo
próprio, estabelece padrões de vida, pensa e age, perspectiva situações, analisa e admite que pode ser feliz. Ou que um dia será. E às vezes até se julga poeta. E escreve umas palavras num papel e chama-lhe poesia. Nesse momento tudo lhe é permitido.
Um dia virá em que não haverá mais espaço nem mais tempo nem mais silêncio. Mas tudo continua, igual ou talvez não, num outro local, que pode ser na porta ao lado. Com uma mão vazia e outra cheia de nada, como disse a poetiza Irene Lisboa. Os poetas dizem cada coisa. Tinha que ser um poeta a dizer. E tinha que ser um poeta a escrever.
Descobri agora que sou poeta, que tenho essa qualidade de ver as coisas por um lado diferente.
Gostava de ir à caça amanhã e usufruir desse tal momento mágico onde o espaço, o tempo e o silêncio fossem de minha propriedade. Única.
Nunca se sabe o que nos pode acontecer. Por enquanto o palco é aqui, neste espaço, neste tempo e neste silêncio.

João Brito Sousa

3 comentários:

Anónimo disse...

Joao
porque gosto de estar so'?
porque nunca fui menino?
porque me mete medo o amanha?
porque nao gosto de cacar?
Abraco
Diogo

Anónimo disse...

Caro Di.

Viva,

Tardiamente mas aí vai.

Gosto de estar só, às vezes.
Preparo-me para isso e estou bem.
Agora, por exemplo, escrevo estes comentários, envolvido e concentrado no que quero dizer.

Nada de solidão; o mundo e eu, apenas.

Nunca fui menino porque não tive tempo para isso, ou tive muito pouco.

O amanhã... é o diabo.

Caça nunca foi o meu forte.

Um grande abraço do
João

Anónimo disse...

Joao depois de ler o texto infleti... Cai' sobre mim e fiz-te as perguntas!.... Referia-me mim!
Ou sera' que temos isso em comum!
Sera' que o nascer " no campo" nos deu um sentir diferente quica' diferente dos que cresceram no burgo?
Abraco meu amigo ....perdido e reencontrado.
Diogo