quarta-feira, 6 de outubro de 2010

FALANDO DE

VELHICE

Envelhecer é um mau hábito que um homem ocupado não tem tempo para adquirir.
Na antiguidade clássica valorizavam a velhice, honrando-a com o princípio de seniores priores, no qual o respeito devido à experiência lhe atribuía um lugar na fila da frente dos Conselhos de Estado. Por ser verdade alguém observou, que "os idosos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de já não serem capazes de dar maus exemplos", é, ainda assim, útil à sociedade ter à sua disposição, sempre que necessário, os frutos da experiência. Os chineses levam isto ao extremo: na sua gerontocracia, ninguém com menos de setenta e cinco anos é considerado adequado ao exercício do poder. Pensam que o tempo confere perspectiva
Nos tempos recentes, a moda tem sido os jovens assumirem um papel primordial, como se fossem a única forma importante de ser humano. A principal razão para tal é os publicitários saberem que os jovens têm convicções que estão dispostos a apoiar com dinheiro — entre estas, a importante convicção de que todos os outros se divertem e, se eles pretendem também divertir-se, têm de ir para um sítio enfumarado e barulhento e vestir as mesmas roupas que os outros. Por conseguinte, seguem em bandos para as discotecas ou outros locais barulhentos, em busca da estupefacção obtida através de uma combinação de decibéis, bebida e drogas, troçando dos mais velhos que evitam tais locais. Não vêem que "ninguém ama a vida como um velho", os anos acumulados conferem uma sabedoria do tipo da do velho boi da fábula (a fábula reza assim: um boi jovem vê que a cancela de acesso à pastagem vizinha, cheia de vacas, está aberta. Deliciado, diz ao boi velho: "Olha! A cancela está aberta! Vamos até lá depressa, cobrir umas quantas". Ao que o boi velho responde: "Não, vamos até lá devagar, cobri-las todas".)
Já agora, a chamada "meia-idade" não existe. Trata-se do período de vida em que, supostamente, a largueza de espírito e a estreiteza de cintura trocam de lugar, ou em que, se é demasiado novo para jogar críquete, e demasiado velho para descer à rede, no ténis. Há pessoas que nascem velhas, e outras que morrem jovens, aos noventa anos: é exclusivamente uma questão de atitude; sendo a atitude, como os estóicos notaram já há muito tempo, algo que depende de nós. O que sucede, à medida que os anos passam, é que a sandice de algum modo diminui e o saldo bancário aumenta, mas que será difícil nos tempos de crise que atravessamos: tendo ambos os aspectos em conta, envelhecer, presentemente, não é uma actividade desejável.
Há muita propaganda falsa acerca da velhice. "A velhice tem boa cabeça e más pernas", em que se confunde a capacidade de correr para o autocarro com boa saúde. A maioria dos adágios e provérbios relativos à velhice, considerando-a uma mistura de membros trémulos e má memória, vem do tempo em que as pessoas eram velhas aos quarenta anos. Agora, uma pessoa tem pelo menos de ter o dobro disso para ter a honra de ser devidamente velha. E é mesmo uma honra: "A vida é um país que os velhos viram, e onde os velhos viveram. Aqueles que têm ainda de viajar através dele devem aprender o caminho com os velhos".
Todos os Costeletas dos anos 30, 40, 50 devem estar cientes que a velhice começa aos 60 anos.
É uma doença que, como alguém meu amigo diz: NÂO TEM CURA! – É o PDV

Alfredo Mingau

1 comentário:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Este texto é, quanto a mim, um mau pressagio.
Chamarem-me velho, eu... que ainda sou jovem?
Só porque já passei dos 60?
Rogério