segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CARNAVAL



Mascarilhas - anos 50

Pelo Carnaval a diversão e convívio atingiam o máximo, principalmente, nas noites de mascarilhas, às quintas, sábados e domingos.
Era uma actividade colectiva, pois toda a gente saía à rua, uns mascarados e outros a vê-Ias passar.
As mascarilhas circulavam entre as sociedades recreativas existentes na época, que eram muitas e relativamente perto umas das outras.
Existiam clubes pequenos de bairro como o do Alto Rodes (Futebol Clube Victória, conhecido por CUF), o clube de S. Luís e o Bonjoanense (no Bom João). Estes clubes, na altura do Carnaval, recebiam mascarados mas a frequência era fraca.
Existiam agremiações populares e mais abrangentes, que nos três dias da semana enchiam com bailes de máscaras, os seus salões - o Grémio, os Artistas, o Musical e o 31 de Janeiro.
O Clube Sport de Faro e Benfica servia-se das instalações do Teatro Lethes e também aí, havia festa da "grossa" regurgitando sempre com imensa gente.
O clube mais elitista era o Farense, em plena rua de Santo António. O Ginásio, também selectivo, praticava além de "soirés", "matinés".
Os bandos de mascarados percorriam as ruas da cidade, sendo a principal rua de Faro, a mais concorrida, e ao longo dela juntavam-se pessoas a ver passar as mascarilhas, participando num jogo de adivinhação.
- Quem és tu, ó mascarilha?
Estas pretendiam tapar qualquer ponto de identificação, disfarçando a voz, falando num tom estridente e algo irritante.
Grupos de amigos ou familiares juntavam-se combinando o traje, desfilando pitorescamente, lançando "papelinhos” ou "farinha" e provocando os espectadores
Nos bailes das sociedades, dançavam e, às vezes, revelavam segredos escondidos ou provocavam homens, para verificar o seu grau de fidelidade à esposa. Muitas guerras e namoros se iniciavam nessa altura, assim como verdades e mentiras eram relatadas pelas mascarilhas com as suas vozes acutilantes, a servirem-se do facto de estarem disfarçadas.
As meninas solteiras e sérias, não iam sozinhas, mesmo mascaradas. Com elas ia sempre a mãe ou a avó, também mascaradas, a zelar pelo bom-nome do grupo. Não era raro ver-se, um grupo, todo vestido de igual, com gente muito agitada a procurar plena diversão e atrás um elemento fiscalizador e pouco activo. Alguns desses grupos, jogavam na cara, casos particulares de amigos ou inimigos e gritavam-nos como vingança ou como brincadeira.
Gostava de ver os festejos carnavalescos, mas não gostava de participar neles. Só o experimentei duas ou três vezes e em grupo, por ser mais seguro. Fomos mais para conhecer todas as sociedades. Entrávamos, dançávamos, geralmente umas com as outras, não procurávamos estranhos e saíamos. Era muito incómodo o traje, pois tínhamos de procurar algo que nos tapasse na íntegra, da cabeça aos pés. A mascarilha, de tecido e feita em casa, "picava" na cara, dificultava a visão e a respiração. A voz tinha de ser disfarçada e mantido o disfarce ao longo do diálogo.
Na rua apareciam atrevidos que tentavam cercar o grupo, apalpar para ver se era homem ou mulher. Nas salas de baile era o mesmo problema, sendo sempre a nossa defesa, a unidade do grupo.
Este período áureo acabou por morrer e hoje já nada resta a não ser umas imitações, bem longe da realidade.
O Carnaval era uma convivência humana, eufórica, uma época que nos ajudava a expulsar todas as agruras da vida, era um escape.
Toda a cidade formava um todo com o mesmo objectivo ¬diversão e um marcado espírito de família. Surgiam problemas de relaciona-mento, de zangas, mas tudo ficava resolvido porque:
CARNAVAL NINGUÉM LEVA A MAL!!!!!!!!!!!!!!

IN "PEDAÇOS D'ONTEM na cidade de Faro"
De Lina Vedes
Na 1ª pessoa

Colocado por Rogério Coelho

2 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Para mim é uma bela recordação,mas nos anos 40, em que me divertia à grande. Nos anos 50 já me encontrava noutras paragens.
Os meus agradecimentos à autora que me autorizou a publicar passagens dos seus dois livros. Livros que acho maravilhosamente bem escritos e com muito realismo.
Achei que era a altura de publicar este capítulo.
Já tenho na "forja", que é como quem diz já digitalizado, o 2º Capítulo do Livro FARO À LÁ MINUTA, com o título "Jardim Manuel Bivar". Aguardem.
Rogério Coelho

Anónimo disse...

COMO SEMPRE

Muito bem escrito. A gente está a ver tudo.

Mas o carnaval do nosso Rogério também tinha a sua piada, nos anos 40. Aquilo é que era, ó Mano.

Por mim conheci o carnaval Farense através deste texto da Lina.

Com este potencial todo gostava de ver a autora noutras paragens.

Aqui encanta.

Cump. do
JBS