sexta-feira, 6 de maio de 2011

Nota de abertura:
O título deste artigo foi uma inspiração para escrever esta pequena “charla”, com um certo humor leve.
Espero que gostem


CAFÉ E JORNAL

Montinho

Na minha rua não há café da esquina mas, quase ao fim da rua, existe um pequeno café/pastelaria, que nunca frequentei.
Resolvi seguir o exemplo do João Brito de Sousa, que não me leve a mal…
Acompanhado de minha mulher, que gosta de tomar a “bica” todos os dias da manhã, entrámos e sentámo-nos.
- Um café, se faz favor – disse a minha mulher.
- E para o senhor? Perguntou-me a empregada.
- Deixe-me ver – respondi olhando para a empregada, que sorriu docemente, de um modo quase infantil, “Não se importa que eu peça uma coisa diferente?”
- Claro que não, diga à vontade.
- Não estou a pensar em nenhuma iguaria especial.
- Ouve lá – disse a minha mulher, em voz baixa, inclinando-se para mim. “Se não te consegues comportar vou-me embora”.
- Olha querida, respondi no mesmo tom, “pediste um café. Deixa que eu também mande vir o que me apetece”. E para a empregada:
- Queria, para já, o jornal da casa.
- Não temos, não costumamos comprar.
- Bem, então o meu problema é que não me lembro, de repente, do nome daquilo que queria pedir. É assim um líquido escuro…
- É uma bebida alcoólica?
- Não! Não. Se bem me lembro trouxeram-me numa chávena de vidro. E também me lembro que estava bastante quente.
- Receio que não tenhamos.
- Nem posso acreditar, respondi. “Não será possível perguntar aquela sua camarada?”
- Sim, com certeza, disse a menina, e foi ao balcão à pressa.
- Estou a ficar farta do teu comportamento, disse a minha mulher irritada, ela não gosta de dar nas vistas. “Se não acabas com isso vou para casa”.
A empregada aproximou-se sorrindo:
- A dona do café pergunta se a bebida era castanho-clara?
- Não, menina. Era quase preta.
- E onde costuma tomar essa bebida?
- Num café, na baixa da cidade.
- Já receava – riu-se – São cafés de luxo e nós somos um café de segunda classe.
- Espere aí!, disse eu. “Agora me lembro que com a chávena vinha uma colher pequena. E mais uma coisa. No pires, uns pequenos cubos brancos”.
- Cubos? Olhou a empregada para mim, e desatou a rir. “Há cinco anos que estou cá, nunca houve um pedido assim, cubos! Riu-se novamente.
- Não se podia perguntar à dona do café?, perguntei.
A empregada foi, mas à entrada do balcão olhou para trás, pôs a mão na boca e sorriu.
- Só ficas contente quando as pessoas se ocupam de ti?, perguntou-me a minha mulher furiosa.
- Nem pensar, querida. Nem assim fico contente.
- Era melhor dares conta do que estás a fazer, retorquiu.
A empregada voltou. Atrás dela vinha a dona do café. Caveirosa, de óculos, com um livro de um autor desconhecido na mão. Não consegui ver o título.
- Estou a ver o problema. Disse ela com delicadeza.
- Mas, por favor, não faça caso do assunto respondi.
- Nós gostamos de satisfazer os nossos clientes. De que tipo eram os cubos?
- Se bem me lembro, eram brancos e de tamanho pequeno, respondi.
As duas entreolharam-se. A jovem empregada, que agora não se atreveu a rir, só casquinou baixinho. A dona do café, por seu lado, continuava séria. E respondeu
- É muito aborrecido, mas o que posso fazer? – Não temos cubos de nenhum tipo.
- Não é assim tão importante, respondi.
- E também não conheço o líquido de que fala, acrescentou a dona do café.
- Deixe lá. E fiz um gesto de desistir com a mão. E acrescentei:
- E traga-me também um café.
E foi assim a primeira vez que entrei, para tomar a bica e ler o jornal à borla, no café da minha rua. E sai, para comprar o jornal na tabacaria da esquina. Tenho que ir morar para o Porto.

8 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Oi Ermão
O homem mostra vontade de ir viver para o Porto. Pelos vistos para ler o jornal à borla...
Roger

Anónimo disse...

MANO,

Viva.

A crónica do Monitnho tem piada, mas é bom saber que não há jornais à borla em todos os cafés.

Mas o Montinho é dos que compra, não o vejo a dar-se bem aqui.

Aliás, os terrenos que o Monttinho costuma pisar é Nova York, Praga, Paris, Milão e outros parecidos.

O Porto não dá para ele; é curto e bairrrista.

Mas seria uma maneira de eu o conhecer.

Íriamos dar um passeio até á Foz procurar o Dr. Miguel Veiga, ou ate à baixa visitar o Dr. Rui Moreira, procurar o Germano Silva e até quem sabe o sehor Pinto da Costa.

Avisa, ok

AB.

JBS

Anónimo disse...

Meu caro JBS,
Conheço muito bem o Porto, principalmente a Av. Da Boavista por onde eu deambulava e almoçava na Praça Mouzinho de Albuquerque. Nunca gostei das “francesinhas”. Fixar-me-ia na região da Areosa.
Das cidades que mencionas conheço-as todas.
Das personagens que indicas para me apresentares, escolhia o Pinto da Costa. Acho que dava um belo primeiro-ministro se fizesse um pacto com Berluscóni.
Foi um prazer. Até um dia destes
Montinho

Anónimo disse...

Meu velho Montinho

Viva.

Comentário a um comentário, onde as palavras que deixo contêm a minha máxma seriedade.

Assim, direi, que

Gostei mesmo desse teu comentário.

Com categoria e personalidade. Charme. Com elegância, diria mesmo quase queirosiano.

Um bom trabalho, o que é dificil de conseguir em poucas linhas.

Impressionou-me a facilidade com que abordaste as minhas, talvez, palermices.

Resta-me reconhecer competência, saber, qualidade,muita calma, frieza de raciocínio.

No fundo experiencia de vida.

Caracter e firmeza.

Com toda a lealdade deixo-te um abraço.

Para todos, do

JBS

Anónimo disse...

Meu caro JBS
Apenas duas palavras:
ÉS ÚNICO!
E uma frase já muito conhecida:
SE NÃO EXISTISSES TERIAS QUE SER INVENTADO
Montinho

Victor Venâncio Jesus disse...

Oi! Não precisas mudar-te para o Porto. Em Faro, tambem há cafés que compram jornais para que os clientes os possam ler. É só saber quais!

Anónimo disse...

Meu caro Jesus
O que escrevi foi uma "charla" com ficção e humor leve.
O café que eu frequento quase todos os dias teo o publico, o correio da manhã e o record (passe a publicidade) tudo à borla.
Ir para o Porto "carago", é uma região mais rica que o algarve, suponho, e como a crise vai ficar,é muito natural que os cafés deixem de fazer essa despesa todos os dias.
Lá se vai a borla
Abraço
Montinho

Anónimo disse...

Ó MONTINHO

Viva.

Eh pá, não te preocupes com a borla, deixa isso em paz.

Até nem pareces o tal que esteve em New York, Praga e Milão e noutras.

É que um conhecedor destas cidades, tem por norma um comportamento ao nível delas e não ao nivel do jornal à bolra.

Rua do Ouvidor, sabes onde é ?

Ab
JBS