quinta-feira, 16 de junho de 2011



O PORTEIRO DO PROSTÍBULO

Não havia no povoado pior ofício do que “porteiro do prostíbulo”

Mas que outra coisa podia aquele homem fazer?
O facto é que nunca tinha aprendido a ler nem a escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.
Um dia entrou como gerente do prostíbulo um jovem cheio de ideias , criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento. Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções.
Ao porteiro disse:
- A partir de hoje, o senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um relatório semanal onde registará a quantidade de pessoas que entram e seus comentários e reclamações sobre os serviços.
- Eu adoraria fazer isso, senhor.
- Balbuciou – mas eu não sei ler nem escrever!
- Ah! Quanto eu sinto! Mas se é assim, já não poderá continuar trabalhando aqui.
- Mas senhor, não pode despedir-me, eu trabalhei nisto a vida inteira. Não sei fazer outra coisa. – Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo senhor.
Vamos dar-lhe uma boa indemnização e espero que encontre algo que fazer. Eu sinto muito e que tenha sorte. Sem mais nem menos deu meia volta e foi embora.
O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer?
Lembrou que no prostíbulo, quando se quebrava alguma cadeira ou mesa, ele a arrumava com cuidado e carinho. Pensou que esta podia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego, mas só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado. Usaria o dinheiro da indemnização para comprar uma caixa de ferramentas completa.
Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo e realizar a compra. E assim o fez.
No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:
- Venho perguntar se você tem um martelo para me emprestar.
- Sim , acabo de comprar um, mas preciso dele para trabalhar…
- Mas eu o devolvo amanhã bem cedo!
- Se é assim, está bem.
Na manhã seguinte, como tinha prometido, o vizinho bateu à porta e disse:
- Olhe, eu ainda preciso do martelo, porque não o vende para mim?
- Não posso, eu preciso dele para trabalhar e como sabe a casa de ferragens mais próxima está a dois dias de viagem sobre a mula.
Vamos fazer um trato, disse o vizinho, eu pago-lhe os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho. Que lhe parece?
Realmente isso lhe daria trabalho por mais dois dias… Aceitou.
Voltou a montar a sua mula e viajou. No seu regresso outro vizinho o esperava na porta da sua casa.
- Olá vizinho. Sei que vendeu um martelo a um outro nosso vizinho e amigo, eu necessito de algumas ferramentas e estou disposto a pagar-lhe os seus dias de viagem, mais um pequeno lucro para que as compre para mim, uma vez que não disponho de tempo para viajar. O que lhe parece?
O ex-porteiro abriu a sua caixa de ferramentas e o vizinho escolheu um alicate, uma chave de fendas, um martelo e uma talhadeira, pagou e foi embora.
O nosso amigo guardou as palavras que ouvira “não disponho de tempo para viajar e fazer compras”. Sendo assim, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer ferramentas.
Na viagem seguinte arriscou um pouco mais de dinheiro, trazendo mais ferramentas do que as que tinha vendido. Concluiu que poderia economizar algum tempo em viagens.
A notícia começou a espalhar-se pelo povoado e pela região, muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas. Agora como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam os seus clientes. Com o tempo alugou um armazém para colocar as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrina e um balcão e transformou o armazém na primeira loja de ferramentas do povoado. Os seus conterrâneos estavam contentes e compravam no seu estabelecimento o que necessitavam.
Já não viajava, os fabricantes enviavam-lhe os pedidos que efectuava e era considerado um bom cliente. Com o tempo, as pessoas dos povoados próximos preferiam comprar na sua loja de ferragens, evitando assim longas viagens.
Um dia lembrou-se de um amigo seu que era torneiro e ferreiro, pensou que este poderia fabricar as cabeças dos martelos e… Porque não as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras e todas as outras ferramentas? Depois foram os pregos e os parafusos…
Em poucos anos o nosso amigo transformou-se, com o seu trabalho, num rico e próspero fabricante de ferramentas.
Um dia decidiu mandar construir e doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever as crianças aprenderiam algum ofício.
No dia da inauguração da escola, o presidente da câmara entregou-lhe as chaves da cidade, abraçou-o e disse-lhe:
- É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra de colocar a sua assinatura na primeira página no livro de actas desta nova escola.
- A honra seria minha – disse o homem. Seria a coisa que maior prazer me daria, assinar o livro. Mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
- O senhor?! – disse o presidente da câmara sem acreditar.
O senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado, eu pergunto:
- O que teria sido o senhor se soubesse ler e escrever?
- Isso eu posso responder, disse o homem com calma. Se eu soubesse ler e escrever… Ainda seria o PORTEIRO DO PROSTÍBULO!!!

Geralmente as mudanças são vistas como adversidades, mas as adversidades podem ser bênçãos.
As crises estão cheias de oportunidades.

ESTA HISTÓRIA QUE MAIS PARECE UMA FÁBULA É REALMENTE VERÍDICA E FOI CONTADA POR UM GRANDE INDUSTRIAL CHAMADO … VALENTIN TRAMONTINA
De pequena oficina a grupo bilionário, com um facturamento anual superior a dez mil milhões de reais e fábricas espalhadas pelo mundo. A gama de produtos que fabrica é ampla e variada, sendo que os mais conhecidos do grande público são a cutelaria e as ferramentas.
No presente ano de 2011, comemora-se 100 anos sobre o inicio desta história. Trata-se como se depreende, de mais um sucesso da emigração italiana para o Brasil, país repleto de homens de sucesso ou seus descendentes, originários dos mais diversos países do Mundo, com especial destaque para os portugueses, muitas vezes esquecidos e maltratados por Portugal, que eles sempre transportam no coração, mesmo depois de muitos anos ausentes do país que continuam a amar.

António Viegas Palmeiro

nota: É com a maior alegria que registo o regresso do António Viegas Palmeiro ao nosso blogue e ao CANTINHO DOS MARAFADOS.
Um grande abraço amigo e BOAS VINDAS!
Rogério Coelho








2 comentários:

Anónimo disse...

GOSTEI DE LER.

Uma boa história de vida e da vida.
Sobretudo muito bem contada, quero dizer, bem escrita.

Saber ler às vezes fico no lado ereado.

Ab.
JBS

Anónimo disse...

Correcção.

Saber ler às vezes fica no lado errado.

Assim é que é.

Ob.
Ab.
JBS