quarta-feira, 22 de junho de 2011



SOBRE CAMÕES

Aceitando o pedido do Diogo Sousa, “venha mais sobre Camões”.
Mas em género de publicação e não de comentário, por ser um pouco extenso, Aqui vai uma pesquisa que efectuei.
Conforme o Diogo escreve no seu comentário dou-lhe de facto razão. Eu também estive em Macau e visitei a chamada “Gruta de Camões”. Não identifiquei o local como “Gruta” mais me pareceu um pequeno “túnel com abertura e saída” dentro da rocha tendo ao centro, impedindo a passagem, um pequeno busto do poeta. Bastava contornar o túnel para ver do outro lado.
Quanto às suas paixões, e segundo Hermano Saraiva, “morreu de amores” por D. Violante de Andrade (Condessa de Linhares) por ter sido sua ama, e considerada a “Musa de Camões”. O grande amor do poeta, dos muitos que teve, foi D. Joana de Andrade, filha de Violante e de Francisco de Gusmão, e que, talvez por esse facto, o poeta teria sido exilado para o Algarve. Mais tarde, o “por quê” não consegui detectar, da D. Joana ter sido enviada para a Índia tendo morrido no naufrágio do navio em que viajava. Também já li que ela se encontra enterrada em Portugal.
Quanto às “ossadas” de Camões, vejamos o que nos diz Vasco da Graça Moura num dos seus artigos e que irei transcrever algumas passagens que creio serem suficientes para termos uma ideia.
“…………
Pedro Mariz, o primeiro biógrafo do poeta escrevia em 1613 “custou muito trabalho atinarem com o lugar da sua sepultura”. Que em 1624 Severim de Faria confirmava que “Camões foi sepultado na Igreja de Santa Ana, sem letreiro ou campa alguma que mostrasse o lugar de sua sepultura” e transcreve a lápide: “Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas do seu Tempo. Viveu pobre e miseravelmente, & assi morreu, ano de 1579. Esta campa lhe mandou aqui pôr D. Gonçalo Coutinho, na qual se não enterrará pessoa alguma”.
Mais tarde, Miguel Leitão de Andrade, que morou na calçada de Santa Ana, mandou pôr por cima da sepultura este epitáfio em azulejos:

“O Grã Camões aqui jaz
Em pouca terra enterrado,
De espada tão eficaz,
Quanto na pena afamado.”

Gélio Coutinho dizia que no templo tinha havido modificações importantes em 1573 e 1591. Mas em 1755 tanto ela como a lápide desapareceram, tendo a Igreja ficado muito danificada pelo terramoto.
No Século XIX foram constituídas 3 Comissões para exumarem os restos de Camões (1835, 1854 e 1880). A primeira encabeçada por Castilho encontrou uma “campa grossa e lisa”, de pedra lioz, no meio do templo, supondo que substituira a primitiva, “estragada pelo terramoto”. A segunda, oficial, contestou o trabalho da primeira e foi procurar “dentro do coro à mão esquerda de quem entrasse pela antiga porta principal”. A principio nada acharam, mas “escavando-se mais profundamente” acharam ossos “em forma que se lhes não tinha mexido. Alguns destes ossos eram pois sem dúvida os de Luís de Camões”. E em Junho de 1880 preparou-se a transladação deles para o Mosteiro dos Jerónimos. Só que a comissão de 1584 se orientara pela antiga porta principal e esta já não servia desde 1573…
Nas vésperas do cerimonial, o Padre Sebastião Viegas, antigo Capelão do Mosteiro de Santana, veio dizer fundamentadamente ao Governo que aqueles ossos não podiam ser os de Camões. Foi autorizado novas buscas mas a transladação fez-se na mesma.
A terceira comissão encontrou uma ossada num cesto de vime “na sepultura da linha média da Igreja”, e outros ossos dispersos, de oito pessoas… Tudo isso foi posto numa urna cujo paradeiro se ignora, mas que tinha sido entregue â guarda da Abadessa do mosteiro. Esta morreu em 1884.
Sendo assim, é mais que duvidoso que os restos mortais de Camões se encontrem nos Jerónimos.
E a data de 10 de Junho de 1580 também é problemática. Provavelmente corresponde a um lapso de escrita (M.D.LXXX por M.D.LXXIX).
A favor de 1579, além do epitáfio, há o retrato do poeta, coroado de louros, pintado na Índia e pertencente â Casa Rio Maior, certamente póstumo. Foi feito a partir de sinais dados por marujos que o tinham conhecido uns 14 anos antes, e encomendado por Fernão Teles de Menezes para oferta ao Vice-Rei. A armada de 1580 saiu a 3 de Abril e chegou à Índia em Setembro. Não podia ter seguido nela a notícia da morte de Camões a 10 de Junho. A notícia deve ter seguido na armada do ano anterior o que coloca a morte de Camões no primeiro trimestre de 1579.
……………..”
Será que estas minudências poderão alterar o dia 10 de Junho?
Em suma, parece que amores, ossadas e também certas datas… não coincidem.

Rogério Coelho

2 comentários:

Anónimo disse...

MANO,

Viva.

Bom texto de pesquisa Camoniana.

O Diogo não se importa, mas o texto responde também a um apelo do MAURÍCIO, que também é Camoniano.

Bom esforço.

Ab para o Diogo (tenho a escrita atrasada) e para todos.

JBS

Anónimo disse...

....Rogério o homem deveria ser o que se chama "um pinga amôres" nos dias de hoje. É que eu nunca entendi muito bem como fisicamente apaixonar-se pela mãe e...mais tarde pela filha!Mas parece que aconteceu e até lhe custou caro!
Outra dificuldade que tenho é, em compreender como é que ele aparece ainda jovem na côrte como escudeiro e com um nivel cultural tal que naquele tempo já conhecia a "iliada" de Virgilio na qual se inspira para escrever "os Lusíadas"!Hermano Saraiva na "vida desconhecida de Camões" faz alusão de que muita obra de Camões se perdeu por razões várias entre elas a de que (qual Aleixo mais tarde!) fazia poemas por encomenda e esses ficaram para sempre nas gavetas...do esquecimento da mesma forma que também diz que muita lirica atribuida a Camões já fazia parte do cancioneiro nacional. Enfim, por isto e por muito mais eu digo : venha mais de Camões!
Nas minhas três idas a Macau em todas elas subi a rampa do jardim até ao que mais me parece uma anta que uma gruta onde o poeta diz a tradição passava as agruras da saúdade e de seus amôres falhados por vontade dos homens sem conseguir conter umas lágrimas teimosas que teimaram em rolar e os lábios trémulos...enquanto Macaenses impávidos passeavam os seus passarinhos de estimação em gaiolas requintadas de "gosto oriental".....Bendita Pátria que tal filho pariu.
Bom trabalho Rogério.
Abraço

Diogo