segunda-feira, 8 de agosto de 2011



A CULTURA DO SLOW DOWN

EXCELENTE ARTIGO PARA LER COM ATENÇÃO E MEDITAR SOBRE O SEU CONTEÚDO


Há já mais de 20 anos que ingressei na Volvo, empresa sueca bem conhecida.
Trabalhar nesta empresa é uma convivência muito interessante. Qualquer projecto aqui demora dois anos a concretizar-se, mesmo que a ideia seja brilhante e simples.
É uma regra.
Os processos globalizados causam-nos a nós (portugueses, brasileiros, venezuelanos, mexicanos, australianos, asiáticos, etc.) uma ansiedade generalizada na busca de resultados imediatos. Consequentemente, o nosso sentido de urgência não surte efeito dentro dos prazos lentos dos suecos.
Os suecos debatem, debatem, realizam “n” reuniões, ponderações, etc.. Trabalham com um esquema bem mais Slowdown.
O melhor é constatar que, no fim, acaba por dar sempre resultados no tempo deles (suecos) já que conjugando a necessidade amadurecida com a tecnologia apropriada, é muito pouco o que se perde na Suécia.
Resumindo:
1)- A Suécia é do tamanho do Estado de São Paulo (Brasil).
2)- A Suécia tem apenas dois milhões de habitantes.
3)- A sua maior cidade, Estocolmo, tem apenas 500.000 habitantes (compare-se com Paris, Londres, Berlin, Madrid, mesmo Lisboa… ou cidades balneares como Mar del Plata, na Argentina, onde vivem permanentemente 1 milhão de pessoas, ou ainda Rosário com 3 milhões).
4)- Empresas de capital sueco: Volvo, Skandia , Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare, Etc, nada mal. Para se ter uma ideia da sua importância basta mencionar que a Volvo fabrica os motores de propulsão para os foguetes da NASA.
Os suecos podem estar enganados, mas são eles que me pagam o salário e devo referir que não conheço nenhum outro povo com uma cultura colectiva igual à deles. Vou contar-vos uma pequena história, para ficarem com uma ideia:
A primeira vez que fui para a Suécia, em 1990, um dos meus colegas suecos ia todas as manhãs buscar-me ao hotel. Estávamos em Setembro já com algum frio e neve.
Chegava-mos cedo à empresa e ele estacionava o carro longe da porta de entrada (são 2000 empregados que vão de carro para a empresa). No primeiro dia não fiz qualquer comentário, nem no segundo, nem no terceiro. Num dos dias seguintes, já com um pouco mais de confiança, uma manhã, perguntei-lhe:
- Você tem aqui lugar fixo para estacionar? Chegamos sempre cedo e com o parque vazio, estacionas sempre longe da porta, num extremo do parque!...
Ele responde-me com simplicidade:
- É que como chegamos cedo temos tempo para andar e quem chega mais tarde se não estiver lugar disponível mais perto já vai entrar atrasado, por isso é melhor para ele encontrar um lugar mais perto da porta!... Não te parece?
Imaginem a minha cara! Esta atitude foi o bastante para que eu revisse todos os meu conceitos anteriores.
Actualmente há um grande movimento na Europa chamado “slow Food”. A “slow Food International Association” cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede em Itália ( site na internet é muito interessante). www.slowfood.com
O que o movimento preconiza é que se deve comer e beber com calma, dar tempo para se saborear os alimentos, desfrutar a sua preparação, em família, com amigos, sem pressa e com qualidade.
A ideia é a contraposição ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida.
Verdadeiramente surpreendente é que este movimento está a servir de base para um outro mais amplo denominado “Slow Europe” como referiu a revista Business Week, numa das suas últimas edições europeias.
Na base de tudo isto está o questionamento da “pressa” e da “loucura” geradas pela globalização, pelo desejo de “ter em quantidade” (nível de vida) em contraponto ao “ter em qualidade”, ( “qualidade de vida” ou “qualidade de ser”).
Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, ainda que trabalhem menos horas (35 por semana) são mais produtivos do que os seus colegas americanos e ingleses. E os alemães que em muitas empresas já implantaram as 28,8 horas semanais, viram a produtividade aumentar uns apreciáveis 20% .
A denominada “slow attitude” está a chamar a atenção dos próprios americanos, escravos do “fast” (rápido) e do “do it now” (faça já). Portanto esta “atitude sem pressa” não significa fazer menos nem ter menor produtividade. Significa sim, trabalhar e fazer as coisas com “mais qualidade” e “mais produtividade”, com perfeição, com atenção aos detalhes e com menos stress.
Significa retornar aos valores da família, dos amigos, do tempo livre, do prazer do belo e da vida em pequenas comunidades.
Do “aqui” presente e concreto, em contraposição ao “mundial” indefinido, anónimo.
Significa retomar os valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.
Significa um ambiente de trabalho menos coercivo, mais alegre, mais leve e como tal mais produtivo, onde os seres humanos realizam com prazer o que melhor sabem fazer.
É saudável reflectir sobre tudo isto. Será que os antigos provérbios: “devagar se vai ao longe” e “a pressa é inimiga da perfeição” merecem novamente a nossa atenção, nestes tempo de loucura desenfreada?
Não seria útil e desejável que as empresas da nossa comunidade, cidade, estado ou país, começassem já a desenvolver programas sérios de qualidade sem pressa, para aumentarem a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços sem necessariamente se perder a “qualidade dos ser” ?
No filme “Perfume de mulher” há uma cena inesquecível na qual o cego (interpretado por Al Pacino) convida uma jovem para dançar e ela responde: “não posso, o meu noivo deve estar a chegar” diz-lhe então cego: “ num momento vive-se uma vida” e leva-a a dançar um tango. É o melhor momento do filme, esta cena que demora apenas, dois ou três minutos.
Muitos vivem a correr atrás do tempo, mas só o alcançam quando morrem, quer seja de enfarte ou num acidente na auto estrada por correrem para chegar a tempo.
Ou outros que, tão ansiosos para viverem o futuro, esquecem-se de viver o presente, que é o único tempo que realmente existe.
O tempo é o mesmo para todos, ninguém tem nem mais nem menos do que 24 horas por dia. A diferença está no que cada um faz do seu tempo, temos que saber aproveitar cada momento, porque segundo disse John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto planeamos o futuro.

Enviado por: António Palmeiro

O presente texto é uma descrição feita por um português a trabalhar na Suécia e cujo nome desconheço. Recebi através de amigos que também desconhecem o nome do autor.
Quero no entanto referir que, numa opinião muito pessoal, acho que o nosso patrício vive noutro mundo, felizmente para ele, por aqui, no tal cantinho, precisamos de 100 anos, para chegar lá.
António Viegas Palmeiro

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