quarta-feira, 23 de outubro de 2019

SONHAR


            O sonho de um qualquer

                Sonhos vulgares

Um sonho de qualquer,
Esteja ele onde estiver,
Tenha a idade que tiver,
 Seja homem ou mulher;

Pensem lá qual será,
Não custa nada, não!
Qualquer um adivinhará,
Vou dar a minha opinião!

Aqui vou eu começar,
Afirmando sem hesitação,
Conjuga-se no verbo amar,
É a primeira conjugação!

Amar, amar e ser feliz,                                                                                      J
Ter saúde e muito viver,
Que é como quem diz,
Que mais se poderá querer!

Viajar pelo mundo inteiro,
É outra grande ambição,
Tal com ter muito dinheiro,
É a segunda conjugação!

A coisa está um pouco mole,
Os ventos não estão de feição,
Ter uma linda e saudável prole,
Será a terceira conjugação!


Pelo seu valor considerado,
Ser ilustre, ter êxito na profissão,
Ser bom, honesto e respeitado.
É uma quarta conjugação!


             Sonhos especiais

Isto nada tem com a idade, 
Uns gostariam de ir à lua, 
N'outros a suma felicidade, 
Era dar o nome a uma rua!

A outros a cabeça anda à roda, 
Modernaços, bem vestidos, 
Quereriam dar cartas na moda, 
Nem que fossem travestidos!

Depois os quero, posso e mando,
O supra sumo - mandar, mandar, 
Serviria qualquer posto de comando, 
Onde quer que ele pudesse estar!

Esperem, ora esperem aí, 
Soltemos-lhes já as amarras, 
Demos-lhes um posto no Haiti, 
Ou no ilhéu das Cagarras!

Presidente outros queriam ser, 
Fosse da Liga dos Otários,
Ou da liga de bem escrever
Ou mesmo da Liga dos Canários!

Outros, oh visão com grande nexo, 
Seja ao café, ao almoço, ao jantar, 
Só um regabofe de sexo,
Nada mais haveria a desejar!

Para óutros a bebedeira é o ideal, 
Que volúpia passar o dia a beber,
É o tinto, é o branco,- tudo é igual, 
Há lá melhor para esquecer! 

Apenas isto Lhe vem à tola,
Ele é o jogo, o dinheiro
Só precisam pontapear a bola,
a glória alcança o mundo inteiro!

Há também os que querem governar, 
Ministros, deputados e alguns rufias,
Todos querem na teta do Estado mamar, 
Há lá maior prazer e honrarias!

Tudo isso é ainda vaidade,
Do poder e do que dele emana, 
Terão conquistado a imortalidade, 
Que lhes é conferida pela fama?

Quantos mais poderíamos retratar, 
Pessoas com sonhos interessantes,
Nunca se poderia parar,
Deixemos esses diletantes!

O homem não é parco no desejar, 

Para quê males, pecados seus, 
Então, porque não sonhar,  
Também o sonho o criou Deus? 

Manuel Inocêncio

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