A PROCISSÃO DE SEXTA FEIRA SANTA
Nessa noite, a malta do campo vai à procissão. Vão todos ou quase. E
gostam de ir, porque encontram alguns conhecidos que já não viam há
muito, ou porque andaram pela estranja ou têm andado arredios.
E lá vai um abraço e dois dedos de conversa.
Antes da procissão passar, já a Rua de Santo António está cheia de
gente encostada às paredes. Não há uma nesga . E é nessa altura que a
malta passa. O Zé Vitorino Neves do Arco com o Verdelhão, o Zeca Basto
com o Zé Pinto, o Carlos Alberto Magalhães com o Justino, o Zé Eusébio
com o Jorge Barata, o Zé Aleixo Salvador com o Marcelino Viegas, o
Brito da Falfosa com o Alex, o Zacarias com o Januário, e a malta do
Liceu com o Tabeta e o Santana à cabeça.
Quando o pálio passa as pessoas curvam-se e respeitosamente fazem o
sinal da cruz. Mas a procissão começa com as matracas à cabeça, uns
utensílios que, rodando-os fazem um barulho esquisito e forte. Depois
vem a turma dos Bombeiros com o Larguito à frente com o bombo, a
dar-lhe umas porradas.
Passo certo e cadenciado, vem a banda de música de Paderne, com os
clarinetes ``a frente e os pratos atrás.
Pétalas de rosas vermelhas pelo chão e colchas roxas nas janelas.
Vem aí o andor representando a agonia e morte de Cristo, com a Mãe.
Depois o pálio com o Cónego Henriques e mais sacerdotes.
A procissão leva duas horas a passar.
Depois de terminada, uns vão conversar para o café Aliança, outros vão
para casa e outros andam por ali.
Há tanto temo que lá não vou. Tenho saudade da minha cidade E da minha
procissão de sexta feira santa. Também.
Um dia irei.
João Brito Sousa
5 comentários:
Caro João
Que saudades, desses tempos e desses momentos vividos na nossa cidade.
Que bem que tu os retratas.
Descreves com perfeição aquela época e aqueles rituais.
A propósito, não resisto, recordar uma cena, que alguém me contou, ter ocorrido numa dessas cerimónias.
Conta-se que Zezinho Beirão teimava em refugiar-se por baixo de um dos andores da procissão.
Delicadamente e sem alaridos retiravam-no. Teimosa e disfarçadamente ele voltava.
Por fim, não só o desalojaram da protecção do andor, como ainda lhe retiraram da mão uma grande vela que ela levava acesa.
O Zezinho cuja vida fora sempre ligada ao mar, estupefacto, pára por alguns momentos no passeio, olha em volta, procurando algo que não encontra e fixando insistentemente as mãos vazias, desabafa:
-Tá bem tá, agora sem vela tenho de ir a remos pra casa.
Um abraço.
Jaime Reis
BOA JAIME,
Tem piada e não ofende.
Ab.
JBS
Olá Jaime,
Confirmo essa cena do Zézinho Beirão. É propriedade dos anais da cidade.
Um abraço
Jorge Tavares
1950/56
Por lapso o comentário anterior pode aparecer como anónimo.
As minhas desculpas.
Jorge Tavares
costeleta 1950/56
Ao moderador,
Aonde está o comentário que antecedeu este ùltimo e que deu origem ao seu envio?
jorge tavares
1950/56
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