sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FARO, A MINHA CIDADE


A PROCISSÃO DE SEXTA FEIRA SANTA


Nessa noite, a malta do campo vai à procissão. Vão todos ou quase. E
gostam de ir, porque encontram alguns conhecidos que já não viam há
muito, ou porque andaram pela estranja ou têm andado arredios.

E lá vai um abraço e dois dedos de conversa.

Antes da procissão passar, já a Rua de Santo António está cheia de
gente encostada às paredes. Não há uma nesga . E é nessa altura que a
malta passa. O Zé Vitorino Neves do Arco com o Verdelhão, o Zeca Basto
com o Zé Pinto, o Carlos Alberto Magalhães com o Justino, o Zé Eusébio
com o Jorge Barata, o Zé Aleixo Salvador com o Marcelino Viegas, o
Brito da Falfosa com o Alex, o Zacarias com o Januário, e a malta do
Liceu com o Tabeta e o Santana à cabeça.

Quando o pálio passa as pessoas curvam-se e respeitosamente fazem o
sinal da cruz. Mas a procissão começa com as matracas à cabeça, uns
utensílios que, rodando-os fazem um barulho esquisito e forte. Depois
vem a turma dos Bombeiros com o Larguito à frente com o bombo, a
dar-lhe umas porradas.

Passo certo e cadenciado, vem a banda de música de Paderne, com os
clarinetes ``a frente e os pratos atrás.

Pétalas de rosas vermelhas pelo chão e colchas roxas nas janelas.

Vem aí o andor representando a agonia e morte de Cristo, com a Mãe.

Depois o pálio com o Cónego Henriques e mais sacerdotes.

A procissão leva duas horas a passar.

Depois de terminada, uns vão conversar para o café Aliança, outros vão
para casa e outros andam por ali.

Há tanto temo que lá não vou. Tenho saudade da minha cidade E da minha
procissão de sexta feira santa. Também.

Um dia irei.

João Brito Sousa

5 comentários:

Jaime Reis disse...

Caro João

Que saudades, desses tempos e desses momentos vividos na nossa cidade.
Que bem que tu os retratas.
Descreves com perfeição aquela época e aqueles rituais.
A propósito, não resisto, recordar uma cena, que alguém me contou, ter ocorrido numa dessas cerimónias.
Conta-se que Zezinho Beirão teimava em refugiar-se por baixo de um dos andores da procissão.
Delicadamente e sem alaridos retiravam-no. Teimosa e disfarçadamente ele voltava.
Por fim, não só o desalojaram da protecção do andor, como ainda lhe retiraram da mão uma grande vela que ela levava acesa.
O Zezinho cuja vida fora sempre ligada ao mar, estupefacto, pára por alguns momentos no passeio, olha em volta, procurando algo que não encontra e fixando insistentemente as mãos vazias, desabafa:
-Tá bem tá, agora sem vela tenho de ir a remos pra casa.
Um abraço.

Jaime Reis

Anónimo disse...

BOA JAIME,

Tem piada e não ofende.

Ab.
JBS

jorge tavares disse...

Olá Jaime,

Confirmo essa cena do Zézinho Beirão. É propriedade dos anais da cidade.
Um abraço
Jorge Tavares
1950/56

jctavares@jcarmotavares.pt disse...

Por lapso o comentário anterior pode aparecer como anónimo.
As minhas desculpas.

Jorge Tavares
costeleta 1950/56

jctavares@jcarmotavares.pt disse...

Ao moderador,

Aonde está o comentário que antecedeu este ùltimo e que deu origem ao seu envio?
jorge tavares
1950/56