segunda-feira, 27 de setembro de 2010

TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO

ANOS 40

Panela de Sopa ...

Ninguém faz ideia da trabalheira que dava, nos anos 40, confeccionar uma panela de sopa.

Tinha de ser programada de véspera e só comprar no próprio dia as quantidades a serem utilizadas.

Não havia frigorífico, por isso tudo tinha de ser bem equacionado para não surgirem sobras.

Se a sopa fosse de feijão ou grão, depois de escolhidos, tinham de ficar de molho em água até ao dia seguinte. O grão teria de ser esfregado com sal para retirar a pele e dar-lhe o gosto. Esses pratos levavam horas a ser cozinhados ...

Não havia fogão a gás ou eléctrico.

Os fogões eram de ferro, alimentados a lenha ou a petróleo.

Forno, pouca gente tinha. Lembro-me de ir, muitas vezes, ao forno de S. Pedro levar bolos ou cabrito já temperado e pronto para assar.

Mais tarde apareceu uma panela com um buraco ao meio cuja tampa tinha um vidro de observação, que fechava hermeticamente, e que dava para cozer bolos facilitando o trabalho.

O fogão a petróleo só tinha um bico. Se quiséssemos mais pratos para a refeição, teriam de ser cozinhados um de cada vez, ou ter dois ou três fogões. Eram incómodos por causa do cheiro a petróleo e entupiam com muita facilidade. Havia urna agulha para o desentupir e uma válvula para dar pressão e fazer com que o petróleo subisse e chegasse ao local da chama.

O fogão de ferro facilitava mais, embora tivesse de haver o cuidado de introduzir a lenha suficiente. Havia sempre água quente com esses fogões.

Voltando à sopa de grão ou feijão, a panela ia para o lume com a água, as carnes e os legumes secos. Só quando quase cozidos se introduziam os restantes ingredientes partidinhos aos cubos. A cozedura levava horas, tendo de haver o cuidado de não deixar secar a água, para não queimar. Se acontecesse esse percalço, dizia-se que o "bispo" tinha ido à cozinha ...

Para fazer purés, era outra trabalheira ...

Não havia"varinha mágica" ...

O puré tinha de ser feito esmagando a batata, a cenoura ou ° feijão, com o garfo, pacientemente, e ir retirando as peles. Quando apareceu o passe-vite, transformar tudo em papa continuava moroso, embora facilitasse o trabalho.

A tarefa da dona de casa não finalizava quando a sopa era comida. As dificuldades continuavam porque lavar a loiça era outro dos problemas. Não havia máquina de lavar loiça, nem abrasivos, nem detergente desengordurantes.

A louça era lavada com a utilização de dois alguidares, um deles com água morna. A tentativa de tirar toda a gordura, com sabão azul e branco e uma esponja de esparto, era desanimadora. Primeiro lavavam-se os copos, pratos, talheres, passando-os pelos dois alguidares, um para lavar o outro para enxaguar; por fim as panelas e tachos que depois de utilizados ficavam negros porque tanto a lenha como o petróleo sujavam imenso e todo o negrurne tinha de ser retirado com bastante paciência e sacrifício, recorrendo, às vezes, a areia que se comprava, à porta de casa, a um vendedor.

o arroz tinha de ser escolhido e essa tarefa era, geralmente, dada às meninas da casa. Aos rapazes nada era solicitado, pois logo a partir do berço, homem é homem e mulher é para ser dona de casa ... que honra!. ..•

A vida não era nada fácil para os nossos antepassados, mais
os femininos, que trabalhavam em casa como verdadeiros escravos.

IN “FARO RETRATOS À LÀ MINUTA”
De Lina Vedes
Crónicas na 1ª pessoa

Colocado por Rogério Coelho

1 comentário:

Anónimo disse...

À Drº LINA

Viva,

Estes anos 40, escritos assim, só pela pena da Lina.

Só ela sabe dar-lhe aquele toque...

No campo era aasim; na cidade não sei.

Os meus parabens.

E um ab. do
JBS